Capítulo 4

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-- é difícil reconhecer Deus, especialmente quando a minha vida toda tive um pai que me maltratava -- disse uma jovem de cabelos negros sentada ao meu lado. Dos cinco minutos que estive aqui, puder reconhecer que era uma idiotice o grupo de terapia. Ela encarava o doutor Douglas, despejando nele todo ódio que sentia -- Não fale comigo sobre Deus. Meu pai me forçou a ter relações sexuais com ele até eu está quase morta!

-- o meu pai me batia toda vez que chegava em casa bêbado, e agora eu o odeio. Como posso pensar em Deus como pai? -- questionou Matt. Sua voz saiu cansada, ele olhava para baixo como se estivesse revivendo seu passado. Sentia um pouco de pena dele, era impossível evitar. Matt era jovem demais, e quebrado demais.

-- meu pai nunca fez nada por mim. Nunca contribuiu para a minha vida, e um dia, me abandonou. Não me fale a palavra pai, entendido -- Maria apontava seu dedo para o doutor Douglas. Depois dele ter sugerido no meio da nossa conversa, que poderíamos nos curar dos nossos problemas emocionais se nos aproximarmos de Deus.

Olhei de canto de olho, e Pedro estava com os braços cruzados ao meu lado. Ele parecia tranquilo e pensativo.

Olhando para tudo o que já tinha vivido. Sabia que nunca tive um pai que abusou de mim e agradeço a Deus imensamente por isso. Mas meu pai nunca me livrou dos abusos de minha mãe e ele era o único que poderia fazer isso. Por causa de toda a minha experiência eu sentia que Deus nunca iria me ajudar. Mas não conseguia me ressentir e nem fiquei revoltada contra Deus, mesmo me sentido esquecida. Eu orava mais e mais, todas as noites, horas e horas. Eu compreendia e sentia a dor dessas pessoas, mas não o que elas falavam de Deus.

-- tenho certeza que Deus nunca será um pai, que chega bêbado em casa, mente, abusa, bate ou abandona. Deus é diferente. Ele é um pai que sabe do que precisamos e dar coisas boas aos que lhe pedirem. Ele nunca nos deixaria. Acredito que Ele fará de nós o que jamais sonhamos -- disse como se tivesse desabafando, mesmo com uma voz fraca.

Todos ao meu redor em olhavam silenciosamente. Mas eu não encarava ninguém, nem mesmo Pedro. Não tinha coragem, porém sabia o que passava na mente de todo mundo.

-- duvido que eu seja um filho amado para o meu pai celestial -- alguém disse.

-- eu me sinto tão distante dele -- ouvir a voz da menina de cabelo negro. Desviei meu olhar para ela que soltou um suspiro profundo.

-- eu tenho medo dele -- Matt desabafou.

-- estou zangada com ele -- uma mulher de meia-idade falou algo pela primeira vez. Eu ainda não sabia seu nome.

-- eu me sinto abandonada por ele -- Maria falou fechando os olhos -- pensar em meu pai celestial me traz lágrimas de dor em vez de sentimentos de alegria.

Olhei para Pedro, que continuava com a mesma expressão tranquila. Ele desviou seus olhos para mim, era como tivéssemos compartilhando o mesmo pensamento. Era óbvio, essas pessoas precisavam de maior compreensão do amor de Deus nas suas vidaa. Eu compreendia, pois então não estaria respirando.

Antes de tudo acontecer, estava profundamente consciente do Seu amor, especialmente do Seu amor pelas outras pessoas, mas não acreditava que ele me amava tanto quanto amava os outros.

-- A enormidade do rancor e da dor é causada pelo passado. A culpa, a tristeza e o medo, formam uma barreira enorme que os impedem de sentir o amor de Deus -- doutor Douglas explicou. Ele era um médico ou que? -- por causa dessas coisas, reconhecer Deus como pai, exige uma grande passo de fé.

Essas foram as últimas palavras do doutor Douglas. Todos deixaram a sala de terapia em grupo, do hospital beneficente. Me levantei da cadeira e Pedro me acompanhou. O dia estava uma merda total. Me sentia ansiosa, era como se a qualquer momento algo ruim poderia acontecer. Mas sabia que isso era coisa da minha mente perturbada.

Sair do hospital e o vento roçou no meu rosto. Caminhei para a lanchonete do outro lado da rua. Sem me importar se Pedro gostaria de me acompanhar. Eu me sentia livre, poderia caminhar e ir para qualquer lugar.

Ele me acompanhou. Embora não falasse nada. Eu não estava a fim de conversar hoje, e parecia que Pedro compreedia, porque o tempo que passamos juntos, não nos falamos nenhuma vez. Além do bom dia que exclamou antes de me buscar em casa. O silêncio que havia entre nós, era estranho, mas reconfortante.

Entrei na lanchonete, sentando na primeira mesa. Através da janela de vidro, era possível ver as pessoas andando na rua. Pedro se sentou na minha frente. A garçonete se aproximou.

-- um bolo de chocolate com bastante calda -- pedir. Elisa tinha comentado certo dia que o bolo dessa lanchonete era maravilhoso. Ela anotou meu pedido e olhou para ele.

-- vou querer o mesmo -- falou educadamente. A garçonete sorriu para ele, como se quisesse chamar sua atenção, mas parecia que Pedro estava com a cabeça nas nuvens ou já era acostumado com esse tipo de atenção que nem se incomodava mais.

Batia repetidamente meus dedos na mesa. Ele se acomodou na cadeira e cruzou seus braços. Olhei através da janela para a fluxo de pessoas que transitavam do lado de fora. Minutos depois a garçonete surgiu com nosso bolo.

Ninguém tinha ideia de quanto vezes eu imaginei fazendo esse simples ato, sem que tenha alguém no meu pé, tomando as decisões por mim. Isso me deixava menos louca.

Coloquei um pedaço de bolo na boca. E me permitir sorrir. Desvie meu olhar para ele, que me deu uma piscadela também sorrindo. Será que sabia quanto estava satisfeita como nunca tive na vida?

-- você é mais bonita sorrindo -- falou. Olhei para baixo. Não sabia o que estava acontecendo comigo. Mas corei com seu elogio. Eu não sabia se confiava em Pedro, provavelmente não. Não sei se voltaria a confiar em algum homem. Mas era bom te-lo por perto. Me sentia mais segura e minha sanidade era totalmente voltado para ele. Não ficava divagando sobre as merdas do passado.

-- obrigada por ter me acompanhado -- falei apreciando o meu bolo. Ele balançou a cabeça concordando.

-- você consegue confiar em mim Andy? -- perguntou. Desviei meu olhar para o lado. Não iria mentir para ele.

-- eu não confio em ninguém -- limitei a dizer.

-- pode pelo menos tentar? Sei que estou te pedindo muito. Mas gostaria tanto de lhe ajudar e está ao seu lado --
Ele pegou a minha mão e apertou forte. Eu poderia tentar, mas sabia que não ia conseguir. Era uma pessoa tão quebrada e ferrada.

Balancei a cabeça, apertando os lábios.

-- mas não prometo que sairá ileso -- afirmei. Sempre fui a favor da verdade.

-- e quem disse que eu quero sair Andy Penélope -- ele sorriu para mim. Será que aguentaria enfrentar minha loucura? Ainda não tinha todas as respostas para minhas perguntas, mas parecia que Pedro enfrentaria qualquer coisa por mim. Ele me olhava do mesmo modo que Elisa, como se não admitisse que eu vivesse dessa forma.

Sentia meu coração bater rapidamente somente de está no mesmo ambiente que ele.

-- Andy é você mesma? -- olhei para o lado e Vick, a melhor amiga de minha irmã me encarava contente. Ela desvio seu olhar para Pedro e me deu um olhar desconfiada.

-- Oi Vick. Estive esperando sua visita -- comentei. Desde que sair da minha prisão, estava com algumas ideias na cabeça que somente Vick poderia colocar em prática.

-- desculpe querida. Mas sua irmã é horrível para compartilhar seus problemas. Fiquei sabendo hoje que você já estava em casa -- ela revirou os olhos. Depois me olhou pensativa -- poderia por favor se levantar, deixa eu avaliar a qualidade desses trapos que você chama de roupa.

Eu meio que adorava Vick. Ela era sincera demais e parecia que me entendia perfeitamente. Levantei da cadeira e no mesmo momento ela colocou uma expressão de desgosto.

-- depois da faculdade, estarei na frente de sua casa. Isso é caso de vida ou morte -- ela piscou para mim. E acenou para Pedro antes de sair da lanchonete.





















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