XXXIII - UM ANJO DE ISTH

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Tudo o que via era um inferno vermelho. As chamas consumiam aquela área em uma vasta tempestade de fogo, mesmo na mata verde e no clima frio. Os rebeldes foram engolidos e as árvores queimavam violentamente, e para piorar a situação, uma forte ventania espalhava as chamas para a floresta, provocando um enorme incêndio. Cinzas e fumaças cobriam o céu negro.

A caçadora, maga infernal, estava no centro daquela tormenta. Ela balançava os seus braços em um movimento encantador — leve e lento — e em uma delicadeza sem igual, porém, estava controlando as chamas em um redemoinho devastador.

Lú segurava um escudo mágico em forma de cúpula. As palmas das suas mãos estavam abertas e seus dedos esticados. Gotas de suor despencavam da sua face, e através do seu escudo ele via o rio vermelho de fogo o consumindo. Ele não sabia quantas pessoas conseguiu salvar naquele momento, mas havia projetado a maior defesa mágica de toda a sua vida.

O garoto cerrava os dentes, sem suportar mais o intenso calor. A maioria dos rebeldes atrás de si já havia desmaiado pela exaustão. Jober e Gabbe se apoiavam um no outro, ofegantes, e tentavam se manter de pé.

— Desista, garoto — Gabbe falou com uma voz falha. — Vamos morrer.

— Não. — Jober falou em um sussurro. — Não podemos desistir. Eu acredito em você, Lú.

Lú gemia e fechava os olhos com força. Não estava mais suportando manter o seu escudo. As suas juntas queimavam e ele sentia que seus músculos se enfraqueciam cada vez mais. A dor em seu corpo estava insuportável, era como se tomasse um choque em sua alma.

Um raio cortou o céu ao meio, e naquele momento a tormenta de chamas começou a se dissipar lentamente. A fumaça negra que cobria o céu nebuloso e o fogo foram desaparecendo, restando apenas fuligem e brasas.

...

Isis estava deitada em uma cama simples de solteiro, o primeiro quarto que Karlo havia encontrado. O lugar estava escuro, as janelas estavam cobertas por uma cortina cor de vinho e o piso era totalmente de pedras.

O homem, às pressas, havia rasgado um pedaço do lençol que forrava a cama e o umedeceu com a ajuda de um jarro de alumínio que havia encontrado ali. Ele cobria o ferimento da jovem com o lenço. O sangue não cessava, para a preocupação dele. Ele estava sentando ao seu lado na cama, olhando-a fixamente.

— Como podem? — Isis falava delirando e Karlo não conseguia compreender.

Os olhos da rainha estavam semicerrados e vidrados no teto como se olhasse para algo fora do plano em que estava. Ela sorria e isso assustava o homem.

— Desgraçados.

— Isis? — ele sussurrou, preocupado, enquanto segurava a mão da mulher.

O homem fitou o punhal sob a mesa de madeira, o maldito punhal que estava levando a sua mulher para a morte. Ele pegou a arma e observou. Quem havia feito aquilo? Como o fizeram sem que ele percebesse?

— Quem fez isso vai pagar caro. Eu juro! — ele falou.

A jovem virou a face para ele, a sua aparência era cansada e quase sem vida, surpreendia o fato de ainda estar respirando.

— Você não vai conseguir detê-los — ela disse para Karlo.

O homem não fazia ideia do que ela estava falando, mas mesmo assim não quis questioná-la. Ela devia estar delirando com a dor do seu ferimento. Naquela hora, ele sentia a falta de mãe, ela sempre levou jeito com doentes.

— Não se preocupe... — ela gaguejou. — Sou resistente.

— Por ser uma guardiã? — Karlo estranhou, sabendo que guardiões não morriam por morte natural.

Legend - O Feiticeiro Azul ( Livro 1)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora