Capítulo 16 - O Trem dos Abandonados

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A Sra. Chermont estacionou o carro à frente de um restaurante bonito e iluminado. Uma janela estava adesivada com "Fazenda Leeds - Rodizio Bar & Grill". Todos saíram e se amontoaram na calçada, seguindo para a porta.

Um rapaz bem vestido os guiou pelo ambiente fino até uma mesa longa onde já se juntavam algumas pessoas. Alleyke sentou-se entre o Sr. Chermont e Felicy após apertar a mão de um homem, assim como todos ali.

Dois garçons trouxeram a comida pouco tempo depois.

- É um prazer tê-la aqui, Becky - o homem disse.

- O prazer é meu, Sr. Finlay - a Sra. Chermont respondeu, sorrindo.

Alley olhou pela janela. Por alguns momentos, esqueceu-se totalmente de onde estava e vagou em pensamentos. Conhecia esse lugar. Já havia estado ali com Alfred uma vez.

Foram até lá, jantaram e depois foram de trem até umas ruínas turísticas na Kirkstall Abbey. Elas ficavam fechadas durante a noite, então tudo estava escuro e silencioso. Foi lá onde ela contou a ele sobre o que era, sobre o seu mundo, sobre sua espécie. E ele não ficou assustado, mas encantou-se com tudo.

Sentiu uma queimação na mão esquerda ao acordar do seu devaneio.

O Sr. Finlay e a Sra. Chermont ainda conversavam sobre o trabalho. Alley olhou discretamente para baixo, onde seu braço descansava sobre seu colo.

Em alguns pontos, sua mão estava escura e puída.

Droga! Odiava quando viagens anteriores interferiam na duração das atuais!

Suspirou e fechou os olhos. Tinha de se apressar ou poderia não ter tempo para tudo.

Com agilidade e rapidez, Alley se levantou, pegou uma garrafa pequena e vazia de cerveja sobre a mesa e um guardanapo de pano.

- Alleyke? - todos exclamaram quando ela deu as costas para a mesa e partiu para a saída do restaurante.

- Eu sinto muito... Eu... Eu juro que sinto muito. - Disse rapidamente e saiu do restaurante.

As sapatilhas estalaram na calçada de pedra enquanto ela corria. Estava chovendo novamente. Seus cabelos se colaram ao rosto.

Passou por dentro da estação de trem e localizou o Achados e Perdidos. Estava tarde, provavelmente a troca de turnos. Bem, o fato é que não havia ninguém guardando o lugar.

Ela entrou e andou pelas prateleiras. Pegou um casaco, uma garrafa d'água vazia e alguns trocados de uma bolsa e saiu.

O trem de que precisava sairia em cerca de quinze minutos, então sentou-se num banco. Pegou o guardanapo e o amarrou firmemente ao redor da mão corroída no tempo. Vestiu o casaco e guardou as garrafas nos bolsos de dentro. Pegou os trocados e foi até a bilheteria.

- Um bilhete, por favor - pediu, passando os trocados pelo balcão.

A mulher do outro lado lhe devolveu algumas moedas e o bilhete.

Seis minutos.

Ela voltou ao assento e refez seu bom e velho coque. A estação estava quase vazia. O relógio digital lá no alto mostrava 22:53.

Às 22:58, o trem chegou. Umas sete pessoas desembarcaram, e outras três, além de Alley, embarcaram.

Procurou um lugar afastado do resto delas, à janela.

O apito soou e o trem partiu.

Alfred o chamava de "Trem dos Abandonados", porque todos naquele horário pareciam meio desorientados dentro dele.

Alley sentiu algo lhe incomodar e apalpou suas vestes. Havia uma coisa num bolso bem escondido no vestido que Felicy lhe dera. Era pegou os objetos. Eram um MP3 e fones de ouvido. Pareciam bem antigos, mas o aparelho estava carregado.

Ela pôs os fones e deu play na música. Deitou sua cabeça na janela do trem e sentiu a cidade passar por ela. Uma lágrima escorreu pelo seu rosto como apenas mais uma gota de chuva quando sentiu uma pontada de dor forte percorrer o braço. Mais uma solitária gota de chuva.


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O Lago de AlleykeWhere stories live. Discover now