Capítulo 5 - Mãos Quentes e Couro Frio

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Tocou as margens do Lago de Ekyella com a leveza de um pássaro. O ruído dos carros e caminhões que passavam pela rodovia próxima a atordoavam; não havia nada parecido com aquilo no Mundo Antagônico. Estava molhada dos pés à cabeça; a viagem não havia sido um sucesso completo. Mas estava lá, e era isso o que importava.

Olhou para o chão e viu seus pezinhos brancos se contorcendo de frio; as botas haviam ficado para atrás, assim como seu casaco pesado. A blusa branca estava colada ao corpo esquelético; era possível ver as costelas da moça de longe. O coque jeitoso se desarrumou e agora as madeixas castanhas, quase negras, grudavam no rosto magro dela.

Tremendo de frio, andou sobre as pedras ásperas até a pequena elevação. Agarrando algumas raízes, subiu até a rodovia. Os faróis perturbavam seus olhos. Apoiou-se na divisória de metal gelado e sentiu os pés molhados encherem-se de poeira da estrada. Para piorar tudo, o asfalto havia sido molhado por uma chuva recente e os carros faziam com que a água respingasse nela.

Ela ergueu a mão trêmula para os automóveis. Ficou fazendo sinal por quase meia hora. Não aguentava mais o frio quando deixou as pernas descansarem. A poeira engolia suas calças molhadas, mas isso realmente não era um problema.

Não sabia mais quanto tempo se fazia desde que havia saído do Mundo Antagônico, mas isso só fazia diferença para ela, então também não era nada muito importante. Afinal, tudo estaria do mesmo jeito quando ela voltasse. Claro que estaria; sempre estava.

Talvez tivesse perdido a consciência, ou só estivesse cansada demais para se lembrar de tudo. Bem, fosse o que fosse, não se lembrava de nada do que aconteceu antes de sentir uma mão quente afagar-lhe as costas carinhosamente. Não deu um pulo nem nada do tipo, apenas ergueu a cabeça com uma expressão confusa estampada no rosto. Tinha a vaga consciência de que alguém havia lhe perguntado se estava bem, mas não teve forças para responder.

A mesma mão carinhosa puxou seu braço enquanto outra lhe ajudava a levantar pelas costas. Quem quer que fosse, não estava certo da estabilidade da moça, pois Alley foi guiada com todo o suporte possível até um banco de couro frio. Foi coberta com um casaco de veludo macio e caiu num sono profundo logo após sentir um balanço aconchegante de onde quer que estivesse.


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O Lago de AlleykeWhere stories live. Discover now