69 - Ajustes mentais

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— Alex! Você não tem vergonha? — Ela pareceu aborrecida por um instante, mas depois riu também. — Me deu um susto!

 — Desculpe. — Pedi divertidamente.

— Liguei pra saber se está bem, mas você parece ótimo. — Clarice comentou.

— Imaginei que fosse isso. — Não estava interessado em aprofundar o assunto. — Estou ótimo, seguindo em frente.

— Você está bem mesmo?

— Ninguém espera sofrer um acidente de carro, não é mesmo? — Retruquei. — São percalços da vida.

— Você precisa de alguma coisa? — A loira perguntou preocupada.

— Já tenho tudo que preciso. — Respondi com sinceridade. — Obrigado por se preocupar.

— Não por isso. — Clarice disse com um pouco de desapontamento. — Se precisar...

— Eu sei, tchau Clarice.

— Tchau.

Por alguma razão desconhecida, a raiva que sentia de minha ex-namorada desapareceu.

Ana sempre brincava comigo dizendo que eu não tinha dignidade, porque esquecia muito depressa as coisas ruins que me faziam. Gostava de encarar isso como uma boa qualidade, já que tinha facilidade em deixar de lado os sentimentos ruins, focando no que realmente importava.

Jamais imaginei que Clarice fosse me procurar outra vez, já que ela era muito orgulhosa, nosso namoro terminou da pior forma possível e ela tinha jogado sujo quando foi até a casa da minha mãe, fazendo dela sua aliada.

— Ligou para sua mãe? — Ana questionou quando me viu finalizando a ligação.

— Por quê faria isso? — Exclamei com surpresa.

— Porque você conseguiu ter uma conversa amigável com sua ex-namorada, sendo divertido e agradável, e otimista. — Ela me deixou saber que tinha escutado a conversa de um jeito bem sutil. — Já da sua mãe, não pode ouvir falar nem o nome.

— Eu não entendo você.

— É tão difícil?

Ana fez a pergunta e me deixou sozinho novamente na sala, com uma sensação incômoda de não saber se ela estava brava comigo ou não por causa da Clarice.

Não demorou muito para que minha namorada voltasse para perto de mim com Matheus nos braços. Assim que Ana sentou numa poltrona que estava ao lado de minha cadeira de rodas, o moleque começou a sacudir os bracinhos e perninhas, jogando-se na minha direção.

— Ele quer ficar com pai. — Ana sorriu.

— O pai dele também quer ficar com ele. — Devolvi. — Vem?

Estendi os braços da direção do menino, que segurou minhas mãos com força. Sim, ele queria um tempo comigo, e isso me deixava fascinado. Segurei meu filho pelo corpinho e puxei para meu colo.

— E aí, garoto? — Perguntei enquanto o inspecionava. — Como você está se sentindo hoje?

Ele riu e deu um gritinho entusiasmado.

— Acho que você está muito bem!

Equilibrei meu filho de pé sobre minhas coxas, segurando-o bem firme para que não caísse. Matheus prontamente agarrou minha barba, apertando as mãozinhas em torno do meu rosto, sorrindo e apoiando o a bochecha no meu nariz, para depois mordê-lo suavemente.

— Ai! — Exclamei brincando e ele soltou uma gargalhada parecida com a minha.

O moleque envolveu meu pescoço com os bracinhos e aquela conhecida onda de amor paternal me invadiu, trazendo lágrimas aos meus olhos.

Kika vai ter um bebê! (Livro 2)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora