Às préssas

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Naquela manhã, Michele acorda cedo como de costume e ao sentir o clima de chuva pela alta humidade do ar, levanta-se e vai conferir o tempo. Realmente estava certa: o céu estava completamente nublado. Ela tira as roupas do varau improvisado que havia feito e recolhe as lenhas empilhadas para não molharem com a chuva. Em seguida pega uma panela e caminha até o riacho vagarosamente, pois com a barriga grande já não tinha o mesmo vigor de outróra. Às suas margens ela desce à beira das águas pluviais e enche a caneca para preparar o café.

          Lá dentro, Reginaldo ainda cochilava. Ele costumava acordar mais tarde que ela, já que dormia por último todas as noites. Mas aquela em especial, ele mal pregara os olhos por toda madruga, pois Michele havia sentido um mal estar e ele ficou lhe cuidando.

Se ela quisesse, despercebida, poderia tranquilamente sair para para usar drógas. Nada à impedia. Reginaldo sequer saberia, a não ser é claro, que notasse o efeito depois, mas já seria tarde de mais… No entanto, ela não queria fazer aquilo. Não por ela, mas pelo bebê, a quem ela já amava exorbitantemente.

          Até mesmo o consumo da bebida ela tinha cortado nesses últimos meses, não era fácil, mas sua motivação era muito maior do que a dependência. No entanto, dos vícios manteve apenas o cigarro.

Sublimemente ela inspira profundamente o ar puro da natureza à sua volta. Sentia-se inteiramente viva; e melhor do que isso, estava felíz por tanto.

          Quando Reginaldo acorda se depara com a mesa improvisada, colocada. A fumaça que saía da caneca, lhe indicava que tinha café feito. Haviam algumas fatias de pão de forma também. Uma refeiçãos simples, mas preparada com muito amor por sua amada namorada. Ela estava asentada sobre um caixote, a mão no queixo sustentando a cabeça levemente inclinada, vendo-o acordar, aquele olhar gracioso.

Observando-a, ele nota que ela havia ganhado uns quilos com aquele novo estilo de vida. Estava com uma aparência ótima. Bela sempre fora, mas agora aparentemente mais saudável. Ela sorrí para ele, revelando suas belas covinhas, Reginaldo retribui o sorriso. Óh Deus, como ele era apaixonado por aquela mulher!

         Ele se levanta, lhe dá um selinho e vai escovar os dentes. Depois, rapidamente retorna e se senta junto a ela. Tomam o café sem préssa, conversando, beijando-se e rindo muito.

          Aquele era uma dia especial: seu aniversário de namoro. Michele sempre se lembrava da data, mas não falava nada até Reginaldo tocar no assunto, para saber se ele se  esqueceria. E sim, ele havia se lembrado, como todas as outras vezes, mas desejava fazer diferente aquele dia; deixar um suspense no ar, uma expectativa... Queria presenteá-la, mas precisaria de uma boa deixa para poder sair sem causar suspeitas. Então repara que os maços de cigarros haviam todos acabado. Aquela parecia uma ótima oportunidade e uma boa desculpa também.

           Após terminar de comer ele levanta-se, alegando que iria lhe trazer um pacóte. Mete o revólver na cintura, lhe dá um beijo, se despede e sai. Ela não desconfiava de nada. Na verdade até estava meio desapontada pensando que ele havia realmente se esquecido. Mal esperava ela pela surpresa.

           Embora Reginaldo estivesse munido, a arma nem sempre era usada. Na maioria das vezes ele apenas cometia furtos, pois não gostava de usar de violência, conquanto as vezes fosse necessário. Tinha planos de  largar aquela prática; vinha pensando muito à respeito daquilo ultimamente. Existiam formas mais dígnas de conseguir dinheiro. Embora soubesse que o mercado de trabalho não lhe abriria as portas tão facilmente, pois ele já não tinha mais seus documentos e nem sequer uma roupa apresentável para comparecer à uma entrevista. Mas haviam outras alternativas. "Posso catar sucata ou trabalhar de servente de pedreiro." pensa ele. Porém aquele dia teria de assaltar. Não teria outro jeito.

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