Eu, comigo...

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Me chamo Joaquim, mas durante meu relato serei Júpiter. Apenas Júpiter.

Cresci num lar católico por parte de mãe e cheio de pré conceitos por parte de ambos, pai e mãe. 

Fui muito assustado até entender sozinho que fantasmas não existem, mas que existem sim. Lembro-me de dona L., minha genitora ítalo-brasileira, devota ardorosa de Santo Antônio, dizia-me em qualquer delito infantil que eu cometesse:

"Olha que o diabinho vai puxar teu pé quando tu for dormir".

Coisas de mãe. Espero que ela não receba energia negativa misturada com ódio, pois eu a perdoei em muitas sessões de terapia, onde chorava feito uma criança de cinco ou seis anos, quando regredia àquelas cenas em que pulava na cama antes que a mão do capeta alcançasse meu pezinho, me arrastando para o caldeirão onde cozinhava crianças que não recolhiam os brinquedos ou que sobrassem as cascas do pão.

Sem maiores danos (?), cresci obcecado por organização e simetria. Nada que anos de terapia infrutífera não resolva. Não resolva, nunca resolva.

Ah, o que é o medo de escuro para um barbado de quase quarenta anos? Bobagem. Motivo de gozação, inclusive eu mesmo faço piada hoje. Mas ainda durmo com a luz acesa da sala e ainda pulo na cama com medo que o capeta agarre meu tornozelo e arraste-me para uma eternidade de tortura. Afinal com quase quarenta, há mais "delitos" cometidos do que aos seis anos de idade, logo os tormentos serão piores e prolongados.

...

Eu tinha uns nove anos, quando descobri que meu pai possuía às escondidas, revistas eróticas. 

Mulheres nuas na revista Playboy não me causavam tesão, mas outras sensações: era esquisito, era engraçado, era proibido. Eram mulheres peladas.  

A nudez delas era diferente da nudez de minha mãe. Enquanto dona L. era uma loura natural de cabelos lisos e olhos azuis, cujo corpo eu já vira despido muitas vezes, o oposto disso é o que atraía meu olhar para aquelas páginas. Chamavam-me à atenção, os triângulos de pelos escuros e os bicos marrons dos seios daquelas modelos, fêmeas maduras. 

Na escola não havia nenhuma professora que fosse bonita como aquelas modelos, muito menos as meninas. Meninas, tão crianças quanto eu era. Lembro-me que um dia, meus pais brigaram por "algo" que estava na gaveta das cuecas dele e que um dos filhos poderia ter encontrado. Depois disso, as duas Playboy desapareceram e fiquei frustrado. Apesar de ter me cansado de olhar para Nani Venâncio e Rosenery Melo, eu ainda as amava.


Por volta dos onze ou doze anos, descobri revistas novas junto aos primeiros episódios de ejaculação involuntária nas madrugadas. E dois anos depois, cheguei na fase onde nós nos imaginamos os "machos reprodutores" quando não passamos de uns "cabaços" tolos e tímidos. Era a fase da masturbação excessiva, "banhos demorados" e o uso do vaso, para "dores de barriga" que nunca aconteceram. O pau endurecia o tempo todo, era ruim e bom demais.

Entre as revistas que vieram parar em minhas mãos lá por 1992/93, havia uma que me interessava muito, Internacional! Uma revista mais explícita com garotas sem pudores a oferecer com mais vontade o que as modelos da Playboy só mostravam "por cima". 

Numa das fotos, uma modelo pousava sentada com as pernas abertas, seus dedos com unhas bem feitas afastavam os lábios vaginais de forma que expunha o segredo do prazer feminino: o clitóris. Confesso que o vi antes de qualquer coisa, mesmo que depois eu passasse muito tempo com o olhar perdido nos lábios menores que o rodeiam e o túnel secreto logo abaixo.

ProfundoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora