2. Point me to the sky above.

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Algumas horas de conversas sobre morte e vida e cigarros, Gerard descobriu que a causa da morte de Frank foi depressão profunda. Ele não tinha uma boa relação com a família e começou a morar sozinho muito cedo, tendo como emprego ser caixa de mercado medíocre para pagar sua faculdade de veterinária - mesmo querendo ter feito música, mas ele não se achava talentoso o bastante -, e seu único e melhor amigo morreu em um assalto, e ele viu tudo, porém, a polícia chegou a tempo e Frank sobreviveu. A partir daí tudo desmonorou: Frank perdeu o emprego, teve que trancar a faculdade e a solidão e dificuldade o oprimiu, fora que a memória de seu amigo morto em sua frente o atormentava e ele se sentia, de certa forma, culpado por não ter feito nada - não que ele pudesse ter feito algo, e foi o que Gerard lhe disse junto de um abraço. Frank não tinha ninguém com quem contar e com o psicológico fragilizado, aquilo fora muito pra Frank. Ele teve uma overdose planejada no carpete da sala e seu castigo por ter posto fim a própria vida fora ficar preso ali por uma década.

"Você gosta de filmes de terror?" Frank perguntou animadamente. Era incrível como ele parecia ter mais vida que Gerard mesmo não respirando mais.

"Sim, vem, eu posso te mostrar os novos que saíram desde que você partiu." Way se levantou indo até a sala e se assustando ao encontrar Frank esperando já o no sofá. "Seu merdinha." Ele pôs a mão no peito, recuperando o fôlego do susto enquanto Frank ria infantilmente. Gerard colocou alguns novos filmes como Invocação do Mal - mesmo que ele não gostasse muito, mas Frank pareceu achar incrível - enquanto Way quase dormia.

"Ei, você tem que acordar cedo amanhã, né?" Iero perguntou, vendo os olhos verdes do mais velho quase se fechando. Ele apenas resmungou um sim e bocejou. "Vem cá." Frank disse carinhoso e tímido, Gerard se aproximou do outro não ligando pro quão estranho aquilo se tornaria e pôs a cabeça no colo do fantasma. Sentiu as mãos gélidas e pequenas dançando por suas mexas negras em toques suaves, e fechou os olhos aproveitando o carinho que, no fundo, ele desejava todas as noites ao se deitar sozinho na cama fria. Agora ele estava no sofá, que continuava sendo frio, mas ele ainda sim estava aquecido.

Aquecido por amor e alegria de não estar sozinho e sentindo-se como um gato preguiçoso, sua respiração meio ofegante foi se tornando cada mais calma, quase como ronronando, e com as bochechas adoravelmente rosadas sob o olhar carinhososo de Frank, ele adormeceu.

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Quando Gerard acordou na manhã seguinte, ele estava com dor nas costas e sozinho no sofá. Suspirando, ele sentou-se e enterrou os dedos nos cabelos desordenados e oleosos, ponderando sobre tudo que ocorrerá noite passada. Não tinha nenhum vestígio que aquilo havia sido real além de todas as novas emoções em seu peito.

Lembrou-se da história triste de Frank e dos dois abraços trocados. Gerard sentiu-se estranhamente parecido com um fantasma: ele também estava em abstinência de humanidade. Porra, ele nem se lembrava qual foi a última vez que algum amigo ou familiar o abraçou daquela maneira e lhe disse que estaria ali para ele. Ninguém estava ali pra ele; a verdade era que parecia que ele estava fodidamente sozinho no mundo, vivendo no modo automático, como Frank havia lhe dito.

Incrível. Talvez um morto tenha o feito voltar a vida. Gerard queria mudar tudo. Mas como?

Way se levantou fazendo um ruído que velhos costumavam fazer por dor nas costas e ouviu uma risadinha.

"Nossa Gee, quantos anos você tem mesmo?" O fantasma surgiu ao seu lado, o fazendo estremecer e praguejar um palavrão. "Bom dia, flor do dia."

"Bom dia, para de aparecer assim. Tenho 33 anos, qual o problema?" Respondeu, a voz baixa e rouca, meio mal humorada, como ele costumava ser nos primeiros minutos após acordar. Mentalmente, ele se desculpava por ter sido rude, mas o pequeno pareceu não se importar e apenas sorriu.

"Hmm, alguém precisa de café." Frank torceu a boca. "E você é, tipo, 7 anos mais velho que eu. Permaneço com 26 para sempre, isso é realmente legal" O baixinho desapareceu novamente, surgindo na cozinha e começando a preparar o café da manhã. Gerard ficou um pouco confuso com a mudança brusca de lugar, mas logo se deu conta que iria se atrasar (como todos os dias) se não fosse ir tomar um banho logo.

"Frankie, você não precisa fazer..."

"Shhh, vai tomar seu banho." Ele disse animado, cantarolando uma música antiga do Misfits. "Gostei do apelido." O mais velho pôde sentir o sorriso na voz de Frank. Way, sem saber o que dizer pra aquilo, murmurou um "vou me arrumar" e foi para seu quarto.

Debaixo do chuveiro ele só podia pensar em como a situação era embaraçante e nova. Quer dizer, o padrão era preto e branco e de repente tinha novas cores surgindo ali, novos sentimentos. Não tinha o que fazer sobre a situação e nem como mandar Frank ir embora dali - não que ele quisesse, no entanto - e Gerard queria descobrir alguma maneira de fazer o espírito de Frank livre da terra, mas ele não fazia ideia de como. Encerrou o banho, arrumando-se de forma simples e vestiu roupas quentes, levando sua bolsa consigo para a cozinha.

"Point me to the sky above. I can't get there on my own. Walk me to the graveyard. Dig up her bones." Frank cantarolava, servindo Gerard com café.

"Te admiro muito por ter um humor desses há essa hora." Way comentou rindo e assoprou a fumaça da bebida quente. "Obrigada, honey."

"Não há de quê, Gee. Eu sempre cantei pela casa, algumas vezes você completou as músicas achando ser sua própria mente, mas sempre fui eu." O maior o olhou assustado, arrancando um riso de Frank - aparentemente, o fazer sorrir era a coisa mais fácil e Gerard percebeu que gostava disso. "E bem, eu tô realmente muito feliz por você ter me visto e não tem como ser mal humorado. Faz um bom tempo que eu tento falar com você e também tem os cigarros, e eu acabei fumando todos enquanto dormia, espero que não se importe." Frank tagalerou e Gerard apenas escondeu um sorriso com a xícara com o jeito afobado. Compreensível, tanto tempo ser falar com ninguém. Way reagia de forma diferente à isso. Era complicado pra ele manter conversas e por vezes se encontrava sem o que responder em algumas situações.

"Tudo bem. Te dou mais à tarde." Gerard sorriu gentilmente. "E ei, nós vamos descobrir como fazer seu espírito livre, okay?" Gerard disse, apertando a mão gélida em cima da mesa em um ato impulsivo e automático. Ele corou profundamente quando notou o que tinha feito, mas não recolheu sua mão, no entanto.

Frank deu um sorriso tão brilhante que poderia iluminar uma noite escura e agarrou a mão enorme e artística de Gerard com as suas mãos pequenas e desenhadas. "Obrigada, mesmo. Você é incrível." Seu sorriso se alargou tanto que ele parecia o gato de Cheshire e seus olhos mortos pareciam brilhar. Era insano.

"Você é o morto mais vivo que eu já vi. Não que eu tenha visto outros..."

"Muito obrigado, sr. Way. Agora vá dá sua aula, você está se atrasando." Frank se levantou e Gerard também. "Que homem cheiroso." Ele murmurou pra si mesmo.

"O que disse?" O mais velho sorriu sacana, sabendo exatamente o que Frank tinha digo. O baixinho ergueu seus olhos âmbar e lhe deu um olhar inocente.

"Nada, Gee. Tenha uma boa aula." Ele se aproximou e lhe deu um beijo na bochecha, antes de desaparecer com um sopro gelado.

"Não mexa nas minhas coisas."

"Não há nada aqui que eu já não tenha visto, sr. Way." A casa respondeu de volta e Gerard se arrepiou um pouco. Ele corou com as palavras, percebendo um duplo sentido.

"Fantasma pervertido."

***
O que eu tô fazendo da vida,,,

If I Should Go Before You • FrerardOù les histoires vivent. Découvrez maintenant