Reencontros

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As pálpebras abriam com uma dificuldade imensa, a cada tentativa uma luz ofusca ia e vinha, como se tomassem coragem antes de enxergar as consequências do tinha feito.

Mas aos poucos seus olhos se abriam, como borboletas abrindo asas lentamente.

Virou a cabeça aos poucos, aquela luz que ofuscava seus olhos terminaram numa silhueta branca. As dores o lembravam que aquilo não era um sonho.

Doía até para respirar.

Olhou devagar ombro baleado a sabe-se lá quanto tempo, o cheiro, conhecia aquele cheiro.

Estava com um curativo que indicava ter sido trocado a pouco tempo.

"Será que estou em um hospital?"

Sim deveria estar no hospital, seria preso depois de ter alta e dessa vez sabia que não era inocente.

- Acordou? Disse a voz de uma mulher se virando pra ele. Ele a fitou mas sabia quem era só não acreditava, será que tinha morrido e acordara no paraíso?

Não conseguia se imaginar com um destino tão bom depois de morrer matando outra pessoa.

Vitória, o olhava com um sorriso tímido mas com um brilho nos olhos, e também percebeu de onde vinha o cheiro quando ela jogou o cigarro fora antes de caminhar até ele.

Vitória é maconheira, sua mente o lembrou.

- Não se esforce muito, falou caminhando até ele, consegue conversar ?

- Como, o que esta acontecendo, como você...tentando se sentar na cama enquanto ela foi ajudá-lo.

- Calma menino, você acabou de ser baleado, sorte que a bala o atravessou sem causar muito estrago.

- Onde estou, como vim parar aqui? Davi colocava as mãos no próprio peito e fazia caretas.

- Calma, vou te responder, mas também tenho perguntas a fazer, disse ela.

- Outro acordo de cavalheiros, mas dessa vez pelo menos seria com uma dama.

Vitória era o tipo de pessoa que sabia exatamente separar as coisas, por mais que estivesse interessada ou não em Davi, tinha suas convicções e ambições e agora que tinha se candidatado a prefeitura deixava isso bem claro o tempo todo.

Mas ainda era uma mulher, a determinação que era obrigada a ter naquele momento, as pessoas que haviam ficado pelo caminho como o próprio pai e irmão acabaram aflorando sua necessidade de ter alguém do lado.

De se reconfortar, de poder desabafar e ser apenas o que de fato era, uma mulher forte que mesmo fragilizada seguia em frente mas com o coração cada vez mais sensível.

Ela acendeu um cigarro convencional, dessa vez se levantando e jogando os cabelos pra traz.

-Eu estava indo de carro e o encontrei em cima do cavalo, deu muita sorte rapazinho, com um olhar maldoso.

Pensei que estivesse morto mesmo não tendo sido atingido nenhum órgão, osso ou tecido mais importante, você só não morreu de hemorragia porque a pele do cavalo estancou seu sangue tempo suficiente até eu te encontrar, pode acreditar ele salvou sua vida duas vezes, aí te trouxe para a minha humilde clínica.

- Eu só tenho uma vida e devo uma a você e duas ao cavalo, disse mudando de posição por causa da dor no braço.

- Porque não me levou a polícia ou ao hospital?

Vitória assumiu um semblante sério, jogou o cigarro no lixo e se sentou na maca de cachorro, pegando as mãos de Davi.

- Você sabe porque, não sabe? Sabe que não está tudo normal, essas mortes, seu tio, meu pai, meu irmão, ela escondeu o rosto virando o pescoço para o outro lado.

Revolução ou CriseOnde histórias criam vida. Descubra agora