A fábrica da esperança

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- Que historia é essa de trocarem todos os homens da fábrica por mulheres, começou um funcionário.

- E mandaram embora um rapaz que trabalhou a vida toda aqui, Marta sabia que era impossível ter trabalhado a vida toda ali porque a fábrica tinha apenas 20 anos, apenas 3 anos fora promovida para instalar em Bouganville.

Começou a retrucar mas Alexander a conteve, e ela dessa vez estava seguindo seus conselhos.

- Bom senhores, quando tomei a decisão de vir aqui escutá-los não imaginava que a conversa seria tão direta, eu os agradeço por que também não sou chegada a rodeios.

Disse ao microfone ainda se sentindo estranha pela aparência recém inventada pelo publicitário.

-Jamais haverão demissões por motivo de sexo e gênero nessa fábrica, pontualmente homens podem ceder lugar a mulheres, e mulheres aos homens mas tudo dentro do próprio desempenho.

Olhou para as pessoas, e esperou um tempo, como se esperasse pela atenção de cada pessoa que estava ali, e depois continuou.

-Nos próximos meses daremos uma grande alavancada na produção e por isso já solicitamos 250 novas contratações, homens e mulheres, conseguimos fechar um grande contrato, por isso os novos macacos e equipamentos, e todos aqueles que quiserem fazer hora extra pra aumentar seus ganhos estão liberados, conseguimos também uma participação no lucros da fábrica que foi dividido igualmente a todos os funcionários de acordo com o tempo de casa.

Falava encarando cada um dos funcionários como se cada palavra fosse dita para cada um, uma reunião individual e coletiva ao mesmo tempo.

Depositamos de uma vez pra facilitar pro Rh, que vai ter que se desdobrar pelas admissões, encerrou.

As pessoas escutavam mas ainda tinham aquele ar de desconfiança, percebeu que teria de expor a situação mais a fundo, mais no íntimo daquela gente, e depois de um copo d'água continuou.

-Eu sempre achei um absurdo qualquer mulher ser limitada a forno e fogão.

Olhos passeavam entre os funcionários como quem dissesse:

"Eu não disse".

-Mas sempre tive um imenso respeito com os  pais que trabalham sozinhos para sustentar suas familias, e hoje como Diretora de uma fábrica e candidata a prefeita vejo que isso não foi justo com nenhum dos dois.

As pessoas todas em silêncio agora.

-Não é justo que os homens carreguem todo o fardo de suas famílias e pras mulheres acompanharem isso de mãos atadas também é um fardo, a medida que equipararmos, as coisas vão ficar melhores pra todo mundo.

-Os meus filhos vão ter que se virar sozinhos enquanto minha mulher trabalha? Resmungou alguém no fundo do auditório.

-Senhor Francisco, o homem se assustou dela saber seu nome, a preocupação do senhor é genuína, a cidade hoje não tem uma escolinha, uma creche, esse projeto é da prefeitura que pretendo assumir, mas caso isso não aconteça, caso não seja eleita, faremos uma aqui para os funcionários e funcionárias da fábrica.

Alexander ponha na pauta com prioridade.

Olhos se encaravam enquanto alguns gritos tímidos ecoaram pelo galpão.

Um casal que trabalhava na fábrica não conseguiu conter o abraço pensando no filho pequeno, a desconfiança parecia ter desaparecido com tantos benefícios, pelo menos na maioria.

- E de onde vai vir tanta verba? Gritou um homem ainda sério na multidão de sorrisos.

-A verba já existe iremos apenas dividi-la com mais igualdade senhor Moacir, respondeu Marta.
O homem deu uma risada de desdém como se fosse o único lúcido ali, e continuou.

-Quem nos garante esse tal contrato?

As pessoas se calaram novamente e esperaram por uma resposta, mas antes que ela respondesse, os portões do fundo se abriram.

O barulho do metal e parafusos que se escancaravam como se fosse uma janela do tempo, deu lugar a uma sombra que tomou aos poucos a entrada inteira do galpão, uma silhueta grande como da era pré-histórica.

  Linda desceu uma escadaria correndo e colocou a mão no ombro de Marta.

- Bem na hora. Dizia com um sorriso meigo de uma menina e a expressão de confiança de alguém extremamente eficiente.

E todos olhavam o imenso caminhão repleto de lã ocupando a parte de trás do galpão.

O motorista se assustou quando as pessoas começaram a aplaudi-lo, e ele retribuía aos acenos sem saber porquê, parecia um daqueles agentes humanitários levando comida e suprimentos para pessoas com fome.

Mas ali não, levava as respostas que o funcionários ansiavam, e não poderia ter chegado em momento melhor.

Marta desceu e viu muitos olhos brilharem com lágrimas, alguns funcionários mais exaltados dançavam em frente o caminhão que seguia ainda mais devagar, seria difícil acalmar a euforia, mas ela não queria isso, aproveitava cada abraço e voto de confiança e percebeu que cumpriria cada promessa feita ali

Por que não podia enganar aquela gente.

Alguns apontavam com as mão quando o segundo caminhão, foi manobrando devagar seguido pelo terceiro, os motoristas olhavam curiosos mas se sentiam extremamente valorizados e também distribuivam sorrisos.

As pessoas os cumprimentavam como entusiasmo.

Marta se virou assustada quando aquele senhor resmungão, dessa vez apertava sua mão. Acredito na sua palavra, disse ele.

Ainda não percebeu Moacir, falou alguém também se virando pra Marta.

- Você é nossa esperança, nunca se esqueça disso.

Continuou uma senhora que trabalhava no refeitório, enquanto passava com bandejas de café, servindo os colegas com alegria.

Ela olhou pra Alexander maravilhado, olhou pra Linda com lágrimas nos olhos e sorrindo como uma menina, aquela gente, aquele calor.

Viu o quanto aprendeu com aquelas pessoas em tão pouco tempo. O quanto foi bom e produtivo aquele incidente causado por Marconi.

Viu que estava mais forte que nunca e o principal. Também não estava sozinha.

Revolução ou CriseWhere stories live. Discover now