A perseguição

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Era estranho olhar Bouganville como se fosse a marquês de Sapucaí, os rostos de Marta e de Vitória estavam mais familiares que tudo naquele momento.

Placas novas com acabamento moderno distoavam das velhas plaquinhas que a Pepsi tinha dado aos comerciantes.

Era nítido que a cidade pulsava intensamente as eleições, jovens estavam fazendo pequenos bicos de garçon porque os bares e butecos ficavam lotados ao fim da tarde.

O delegado devia estar as loucas, algumas brigas entre pessoas que apoiavam Marta e outras que apoiavam Vitória, seria uma disputa acirrada pelo visto.

A diretora da fábrica que antes levava vantagem perante o público feminino agora não tinha mais esse benefício.

Vitória era a filha ousada do prefeito, isso que falavam sobre ela boca a boca.

Davi viu algumas pessoas fazendo cadastro pra créche que Marta tinha prometido na reunião da fábrica, algumas senhoras que cuidavam dos netos e nunca tinham sequer trabalhado fora na vida sorriam de empolgação.

A idéia da faculdade era só o que preenchia os assuntos entre o jovens, ele não se lembrava de ter brincado de profissões mas agora as crianças diziam que iriam ser médicas, advogadas, dentistas...

  Era uma mudança de mentalidade brusca que ninguém jamais havia sonhado e uma responsabilidade de quem vencesse também.

Alguns fazendeiros, empresários se hospedaram na cidade para acompanhar o desfecho da situação, e a van do jornal mostrava que o que quer que acontecesse viraria notícia.

Davi encontrou com Vitória numa expressão séria pelo caminho enquanto voltava pra casa, poucas vezes nos últimos tempos tinha a visto sem acessores.

Era como encontrar Marta sem aquele tal de Alexander.

O farol do Jeep batia nas placas dando um reflexo que iluminava o caminho, como haviam vários deles com o rosto das duas candidatas.

A volta pra casa parecia uma trilha de luzes e soava engraçado, principalmente pra quem havia exagerado nas doses de Catuaba, como era o caso de Davi, mas ele estava ansioso.

O delegado não dava posição sobre o andamento dos casos e a única pista que conseguiu morreu antes de dizer o que sabia, estava ficando sem saber como cumprir a promessa que fez ao tio.

Havia uma placa imensa próximo a sua casa pelo visto, Davi se assustou com o reflexo no parabrisas do velho Jeep, ajustou a visão e percebeu que na verdade era de um farol extremamente alto, um furgão que passava a mil, e não resistiu a tentação de buzinar em protesto.

-De onde vinha?

Pensou ele, enquanto aquele mau pressentimento voltava a assola-lo.

Esta vindo da minha casa.

E voltou correndo, imaginando se sua tia estava bem, na chegava estacionou o veículo de qualquer maneira.

A frente da casa estava escura mas uma pequena luz acesa na cozinha deu a ele a sensação de que estava tudo normal, os galhos que caiam sobre a varanda balançam demais por causa do vento, e antes mesmo que conseguisse chegar perto da entrada avistou um bilhete jogado na escadaria da varanda.

Quem quer que o tenha colocado, teve tempo suficiente  pra deixar uma pedra como peso, para o papel não ir com a ventania.

Ele pegou em suas mãos e o desdobrou com cuidado pra não rasgá-lo, devido a ansiedade tremenda.

"Quer saber a verdade sobre essas mortes, inclusive do seu tio vá a fábrica de confecções essa noite e terá as respostas"

Por um instante pensou em sentar, se acalmar pensando nas consequências daquela aventura perigosa, seria inocentado pelo advogado, disso sabia, afinal era realmente inocente, mas não era apenas isso, prometeu a si mesmo e ao tio que o assassino não passaria em pune, mas não podia confiar naquelas investigações.

Revolução ou CriseWhere stories live. Discover now