Soul On Soul

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6. Soul On Soul.
Alma na alma.

EUA - Virgínia -
St. Chris - 2017.

"Deus bom tenha piedade de mim
Você não me abandonou?
Eu quero estar junto, alma na alma nesse momento
Acredite em mim, jamais me deixe sozinho

Soul On Soul - Rod Stewart."

Justin identificou aquela como a semana mais estranha da sua vida. Ele devia estar na Itália naquele momento, preparando-se para o campeonato de motocross que planejara disputar simplesmente pela diversão. A maioria das suas roupas e seu barco estavam em Monte Carlo, o carro estava em Nice e a moto em Roma.

E ele estava ali, em St. Chris, servindo de babá para um garoto de dez anos cheio de marra. Esperava, com toda a fé, que o menino estivesse na escola àquela hora. Aliás, era o lugar exato onde ele devia estar. Haviam travado uma batalha gigantesca a respeito disso naquela manhã, o que não era de se espantar, já que viviam em pé de guerra com relação a quase tudo.

Tarefas da cozinha, hora de dormir, roupas sujas, esquemas para assistir a tevê. Justin balançava a cabeça enquanto analisava os degraus podres da escada dos fundos. Tinha a impressão de que o garoto se encrespava todo só de ouvir alguém lhe dar bom-dia.

Talvez ele não estivesse fazendo um trabalho assim tão bom como guardião legal, mas também, que droga, tentava fazer o melhor possível.

E tinha uma dor de cabeça constante, provocada pela tensão para provar isso. Além do mais, basicamente, ele estava por conta própria.

Ryan prometeu ir para lá nos fins de semana, o que já era alguma coisa. Mas isso deixava um terrível buraco de cinco dias para preencher. Christian fazia questão de dar uma passada e ficar ali algumas horas todas as noites, depois de encerrada a sua jornada de trabalho no mar.

Mas ainda sobravam os dias.

Justin teria negociado a sua alma imortal em troca de uma semana em Bora Bora. Areias quentes e mulheres ainda mais quentes. Cerveja gelada, nenhuma briga. Em vez disso, estava lavando roupa, aprendendo os mistérios sobre a culinária de microondas e tentando observar de perto um menino que parecia totalmente dedicado a tornar a sua vida miserável.

"Você era do mesmo jeito."

"Eu não! Aqui eu era assim! Não teria chegado nem aos doze anos, se fosse um idiota assim tão grande."

"Na maioria das noites daquele seu primeiro ano conosco, Stella e eu costumávamos ficar deitados na cama, quietinhos, nos perguntando se você estaria em seu quarto pela manhã."

"Bem, pelo menos vocês eram dois, e..."

As mãos de Justin ficaram sem forças e ele não conseguiu segurar o martelo. Seus dedos simplesmente soltaram a ferramenta que caiu com um baque surdo no chão, ao seu lado. Ali, na velha cadeira de balanço da varanda dos fundos, Ray Bieber estava calmamente sentado. Seu rosto parecia mais bonita e exibia um sorriso largo. Seus cabelos eram um apanhar de fios brancos e cheios, um pouco mais compridos. Vestia sua calça favorita, a cinza, que usava para pescar, e uma camiseta também cinza, muito desbotada, com a estampa de um caranguejo na frente. Estava descalço.

"Papai? - A cabeça de Justin girou uma vez, deixando-o tonto, mas então seu coração explodiu de alegria. Colocou-se em pé com um salto rápido."

"Você não achou que eu ia deixar você sozinho nessa furada, nessa tremenda confusão, achou?"

"Mas... - Justin fechou os olhos. Ele estava surtando e tendo alucinações, compreendeu então. Era o estresse, a fadiga, o pesar, tudo junto."

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⏰ Last updated: Jan 16, 2018 ⏰

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