2. Mirrors

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2. Mirrors.
Espelhos.

EUA - Virgínia -
Baía de Chesapeake - 2017.

"Porque eu não quero perder você agora Estou olhando bem para a minha outra metade
O vazio que se instalou em meu coração É um espaço que agora você guarda.

Mirrors - Justin Timberlake."

Point Of View Narrador.

Justin usou toda a sua influência, mexeu alguns pauzinhos, implorou favores e espalhou dinheiro em várias direções. Conseguir transporte de Mônaco para costa de Maryland, nos Estados Unidos, à uma da manhã não era nada fácil. Foi de carro até Nice, digirindo feito um louco pela estrada costeira, que era alta e onde ventava muito, até chegar a uma pequena pista de pouso a partir de onde um amigo concordara em levá-lo até Paris pela módica quantia nominal de mil dólares americanos. Em Paris ele conseguiu um vôo charter*, por metade da quantia que gastara até ali, e passou as horas do vôo sobre o Atlântico em um borrão de fadiga e medo que o corroía por dentro.

Chegou ao Aeroporto de Dulles, na Virgínia, logo depois das seis da manhã. O carro alugado já estava à espera, e ele começou a jornada até a baía de Chesapeake ainda no escuro que antecede o pré-alvorecer.

No momento em que chegou à ponte que atravessava a baía, o sol já estava alto e brilhante, fazendo a água cintilar e acentuando as formas dos barcos que já estavam no mar para mais um dia de pesca. Justin passara boa parte da sua vida velejando na baía, nos inúmeros rios e minúsculas enseadas daquele pedacinho do mundo. O homem que corria agora para encontrar ainda vivo lhe ensinara muito mais do que a simples noção de bombordo e estibordo. Tudo o que ele possuía, tudo o que conseguira realizar que pudesse lhe proporcionar orgulho devia Raymond Bieber.

Flashback.

Justin tinha treze anos e estava caminhando a passos largos em direção à desgraça quando Ray e Stella Bieber o resgataram do mundo em que vivia. Seus relatórios de delinquência juvenil já formava um estudo completo sobre as raízes de uma vida de crimes. Roubo, invasão de domicílio, ingestão de álcool antes da idade permitida, gazetas constantes e fugas da escola, assalto, vandalismo, mau comportamento.

Vivia do jeito que queria e, mesmo então, conseguira grandes períodos de sorte, durante os quais fugia por muito tempo sem ser encontrado. O momento de maior sorte em sua vida, porém, foi quando ele, finalmente, foi capturado.

Tinha treze anos de idade, era magro como um palito e ainda estava com as marcas roxas da última surra que levara do pai. A cerveja acabara em casa. O que é que um pai poderia fazer, a não ser surrar o filho por isso?

Naquela noite quente de verão, com o sangue ainda secando no rosto, Justin prometera a si mesmo que jamais voltaria para aquele trailer caindo aos pedaços onde moravam, nem para aquela vida, devolvido pela sociedade. Ele ia para algum lugar... talvez a Califórnia, talvez o México.

Seus sonhos eram altos, mesmo que sua visão estivesse embaçada graças a um olho roxo. Tinha cinquenta e seis dólares no bolso e mais uns trocados em moedas, as roupas do corpo e uma atitude arrogante. Tudo o que precisava além disso, decidiu, era transporte.

Conseguiu uma carona clandestina em um dos vagões de um trem de carga que saía de Baltimore. Não sabia direito para onde ia, mas também não se importava, contanto que fosse para longe dali. Esmpremido no escuro, com o corpo doendo e cada solavanco do trem nos trilhos, prometeu a si mesmo que mataria ou seria ou seria morto, mas jamais voltaria.

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