Capítulo 6 - O cientista Amoroso

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Até que dado um tempo de conversa, meu avô advertiu-me da hora e eu tive que cair no que estava a fazer e me despedir, eles me deram seus contatos, chamaram-me para um sarau em que Vila-Lobos tocaria ao piano e Mário de Andrade recitaria os versos. Que vontade de ficar para aquela noite histórica, porém não podia e sabia disso, após 24 horas me desintegraria, e o pior, àquela altura não sabia meu futuro, pois não sabia voltar e ainda não havia encontrado o cientista Amoroso. Despedimo-nos e saímos com o bonde certo ao encontro do cientista Amoroso.

Até que não demorou muito e descemos em frente ao hospital. Fomos até a recepção e descobrimos que faltavam 20 minutos para o fim da visita, então me credenciei e disse ao meu avô que esperasse na recepção se pudesse. Ele concordou de pronto, disse que queria saber dessa história mais afundo e entrei para falar com o cientista.

Adentrando o hospital, avistei uma grande escada no meio de dois corredores, subi a escada e encontrei no primeiro andar um corredor largo com várias portas com grades, provavelmente para os pacientes não fugirem. Cheguei em frente a porta identificada como "Amoroso" e entrei sem perder tempo. Ali estava ele, com uma pele amarela e olheiras enormes com os olhos fitados para baixo.

- Cientista Amoroso! Chamei eu.

- Sim, o que você quer? Já vai me levar embora?

- Não, não vim levar o senhor embora. Meu nome é Edison e gostaria de falar com o senhor sobre o cofre mágico.

Quando terminei de falar, ele levantou os olhos para mim e quase num susto me perguntou:

- O que sabe sobre isso?

- Expliquei a ele que vim de outra época e das teorias que ouvi falar sobre o cofre mágico, da viagem do tempo, do eclipse, fui falando tudo e ele ouvindo como um ótimo aluno na sala de aula. Quando terminei de explicar como vim parar ali, sem mencionar o meu avô, ele começou a gritar num salto.

-Funciona! Eu sabia, não sou louco. Funciona!

- Sim, funciona. Tinha uma cópia dos seus manuscritos no meu bolso, tinha tirado foto dos originais quando fui a uma exposição que falava sobre ciência e que tinha o senhor como um dos cientistas das teorias improváveis da viagem no tempo.

- Sério!? Eu fiquei famoso?

- Sim, mas é tida como uma teoria não comprovada, como disse, a exposição era sobre teorias improváveis.

- Lógico, filho. Você acha mesmo que diria a alguém se tivesse comprovado esta teoria? Mas você é uma prova viva de tudo isso. Porém, ainda não estou certo de que isso seria bom para humanidade, tanto que não acreditaram em mim quando apresentei a teoria na Faculdade de Ciências de São Paulo e disseram que fiquei louco.

- Eu não quero ser deselegante, mas é que temos pouco tempo para a visita e vi no jornal que será transferido para Ribeirão Pires ainda hoje. O senhor saberia me dizer como voltar? Eu perdi as cópias que tinha e agora se não voltar, posso não existir mais.

- Ah sim, vamos ser objetivos. Você não perdeu as cópias dos manuscritos, é que tudo o que não existe no ano em que a pessoa quer viajar no tempo, não pode existir. Por exemplo, você só está com esse terno, a lupa e os réis de sua mãe porque em 1929, o ano em que estamos, eles já existiam. As cópias dos manuscritos você fez no século XXI, impossível estarem aqui. Você deve estar se perguntando onde estão os originais, não é? Não estão no museu em que você viu a exposição, pois o lugar não existe ainda. Neste caso, estão no lugar onde deixei quando desconfiei que fossem me pegar. Te dizer o que está lá não posso, mas você pode ir pegar.

- E que lugar é esse? Falei ansioso.

- Ora, meu amigo, quando o bicho pega todos recorrem a religião, e por me considerar um mártir da ciência, deixei os manuscritos atrás da imagem da Paixão de Jesus Cristo na igreja do Valongo. Lá você encontrará...

Quando ele ia me falar alguma orientação que eu precisava saber, chegou o enfermeiro dizendo que acabou a visita e que o cientista precisava arrumar suas coisas para ir embora.

- Adeus, Edison. Não poderei estar com você na próxima etapa, rapaz. Na dúvida, procure por alguém que entenda de coordenadas geográficas, literatura, charadas e pitadas científicas. Boa sorte, rapaz!

E sussurrando no meu ouvido, disse:

- Na próxima vez, invente outro nome, pois este já está "passado" como diriam no seu século.

E saiu rindo da minha cara.

Isaac Thomas e o Cofre MágicoWhere stories live. Discover now