Capítulo 24

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Beatriz acordou e custou para abrir os olhos. Pela primeira vez depois de longos três meses estava longe do barulho do hospital, de soros intravenosos em seu antebraço, de visitas da equipe médica a cada três horas. Agora ouvia o canto dos pássaros, conseguia mover algumas partes do corpo, porém algumas outras estavam impossibilitando-a.

_Bom dia – ouviu uma voz feminina ecoar no silêncio daquele quarto.

Enfim abriu os olhos e sorriu na direção da voz de Sofia que entrava com uma bandeja de café da manhã.

_Eu preciso lavar meu rosto – com a ajuda da filha conseguiu sentar-se – Detesto aparecer com a cara amassada para vocês.
_Só o fato de você estar aqui em casa já está de bom tamanho – acomodou a bandeja sobre as pernas da mãe e sentou-se de frente para ela – E como foi a primeira noite aqui?

"Estranha" Beatriz falou por pensamento. Demorou a dormir, só conseguia recordar do encontro com Victor, o olhar que ele havia lhe oferecido mesmo com enigma era bom de sentir.

_É estranho ficar aqui no térreo. Quero meu quarto.
_Relaxa que logo terá acesso.
_Tomara – bebericou o café – Onde estão as crianças?
_Terminaram de tomar café, estou esperando eles descerem para levar pra escola.
_Na minha ausência você ocupou a minha posição materna né? – acariciou a mão da filha.
_Eu tenho que treinar, logo a Clarinha estará indo pra escolinha.
_Para de drama Sofia! – Beatriz deu uma risada gostosa – Sua filha nem saiu da sua barriga ainda.
_Mas o tempo voa, mãe – olhou para a própria barriga.

Talita e Igor entraram no quarto com sorrisos inexplicáveis, abraçaram a mãe com amor.

_Mãe, ainda não acredito que você está aqui.
_É, daqui a pouco irão até reclamar da minha presença.
_Imagina, eu até senti falta das suas reclamações porque eu deixava meu patins no meio da casa – Talita confessou.

No embalo de risos Beatriz conseguiu fazer seu desjejum, agora estava se alimentando melhor e isso só deixava os filhos mais felizes. Mais uma pessoa entrou no quarto, Rosy se aproximou para recolher a bandeja e passar a informação:

_Dona Beatriz, a sua enfermeira já chegou.
_O quê? – indagou confusa.
_O Gustavo avisou ontem que iria mandar a Valéria para te ajudar nos primeiros dias logo pela manhã – Sofia informou.
_Eu não preciso disso, sei muito bem me virar.
_Sério? E por acaso como vai conseguir se locomover daqui até o banheiro que fica no corredor? E como vai fazer a higiene matinal e tomar banho assim e na nossa ausência? – indicou com o queixo para a mãe.

A dura realidade estava incomodando Beatriz. Nos dias que passou no hospital tinha toda a equipe médica pronta para tudo, agora se sentia até ofendida. Como se seu silêncio fosse uma confirmação da realidade dos fatos Sofia inclinou o corpo para depositar um beijo na testa dela para falar:

_Eu tenho que ir pra faculdade, levo os pirralhos pra escola. Qualquer coisa a vovó e a tia Barbara vão ficar aqui até o meio-dia, depois disso, elas voltarão para BH. Caso precise de algo quando estiver deitada na cama aciona esse botão na sua cabeça – juntas olharam para a parede acima da cabeceira. – É uma espécie de campainha que ativa lá na cozinha e a Helena vem até você. Tchau.

No mesmo momento em que todos saíram uma mulher que pela fisionomia, ultrapassava de seus quarenta e cinco anos, adentrou no quarto. Ela usava vestes brancas e carregava no seu antebraço um jaleco. Beatriz conhecia cada enfermeiro que ficou ao seu lado enquanto esteve naquele hospital e Valéria era uma das poucas com quem tinha contato direto e conversavam durante horas seguidas.

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