35 - O arrependimento

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Kiara

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Não consigo acreditar no que fiz. Agora que penso melhor nas palavras das quais destinei para Lara naquele papel, sinto um arrependimento me tomar por inteira. E se ela me achar patética? Eu estou aflita, sem coragem de encara-la nos corredores da escola. A segunda-feira ainda nem chegou, mas estou rezando para que o domingo passe arrastando-se. Não saberei como olhar em seus olhos. E se ela tiver lido tudo aquilo com total desdém? Céus, e se ela for capaz de contar para Arthur, ou pior, contar para minha mãe? Ela tem uma prova incontestável nas mãos e minha mãe jamais perdoaria uma filha lésbica. Isso é um fato, doloroso, mas um fato. Onde eu estava com minha cabeça afinal? Após tanto tempo escondendo, eu já estava até acostumando, porque caralhos decidi falar? E se ela amar de fato seu namorado? E se tiver sido um erro impensável as verdades que coloquei naquele papel? Estou me sentindo inconsequente. Eu deveria ter aceitado meu espaço de megera na vida de Lara, e não ter mexido nisso desta maneira. 

Quer saber? Tenho que resolver isso! Vou até lá agora mesmo, e vou dizer que tudo não passou de uma grande brincadeira. Que na verdade não sinto nada do que escrevi naquelas linhas  e que foi apenas mais uma das minhas "armações". Ela vê em mim uma vilã, talvez acredite que foi apenas uma brincadeira sem graça.

Lara

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Quando minha mãe anunciou sorridente que eu tinha visita, desci as escadas querendo matar Arthur, afinal quem mais iria vir me ver tão cedo em pleno domingo? A junção do cansaço da festa e uma noite mal dormida estava acabando comigo. Me arrastando como um zumbi, consegui chegar até a sala e quase cai para trás quando me dei conta que não se tratava de Arthur. Era Kiara a visita que outrora minha mãe havia falado. A interrogação a cerca do que ela estaria fazendo aqui tomou minha cabeça. 

— Desculpe te incomodar em pleno domingo, mas eu precisava muito conversar com você. — ela parecia apreensiva. 

— Se for sobre o álbum e a carta, quero dizer que pensei muito sobre cada palavra escrita, mas eu nunca imaginei, fui pega de surpresa... — eu nem sabia em exato como juntar as palavras de uma maneira que não a ferisse. 

— Vim para falar desta carta sim, e se quer saber, ensaiei durante todo o caminho as melhores maneiras de negar cada palavra que te escrevi, não sei se por medo ou covardia, mas quando cheguei aqui e te vi, repensei e senti que continuar negando e escondendo é lidar com uma tortura constante. Eu prefiro confessar e lidar com o peso da sua recusa, que negar e continuar agindo como uma vilã tendo que lidar com seu desprezo. — seus olhos estavam perdidos, marejados, encarando os meus.

— Eu nunca te desprezei. Você o fez... Você se afastou. Eu sempre desejei mais que tudo que continuasse na minha vida, mas você passou a ficar irreconhecível e somente ai eu vi que você não era mais a Kiara que eu admirava. — despejei.

— Eu nunca deixei de ser a Kiara que você conheceu. Eu só me camuflei, me protegi, deixei que a covardia e o controle da minha mãe me afundassem. — eu nunca a vi tão desarmada, tão vulnerável.  Kiara caminhava a passos lentos para próximo de mim...

— E o que muda agora? — indaguei confusa. — Sua mãe ainda continua com suas visões conservadoras intactas. Ela nunca vai aceitar que sejamos amigas, e pelo que sei, você teme sua mãe tanto quanto o diabo teme a cruz. Pelo que te conheço, você nunca desrespeitaria uma ordem dela.

— O coração tem suas próprias regras. Quando admiti gostar de você, não planejei desrespeitar minha mãe, eu só deixei meu coração livre para fazer suas próprias escolhas. Eu não sei em exato o que muda, mas eu sei que não quero deixar igual... E eu não me perdoaria se nunca tentasse fazer isso... — ela finalizou suas palavras me surpreendendo com um beijo em meus lábios. 

L a r a - [ROMANCE LÉSBICO]Où les histoires vivent. Découvrez maintenant