9 - Boliche

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Lara

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— Finalmente uma semana de estagio concluída. Quase não posso acreditar que já faz quase duas semanas que estou aguentando aquela menina que a minha mãe insiste em chamar de "melhor aprendiz do mundo". Eduarda deveria seguir o protocolo de chefes malévolas e tratar a Catarina tal qual a  Miranda Priestly tratava a Andrea em O DIABO VESTE PRADA. Sou eu a filha, eu deveria ter um tratamento especial, mas não, do contrario, Eduarda age como se eu fosse só mais uma estagiaria como varias que estão ali para servi-la. 

— Amor, já notou que durante toda essa semana, o assunto Catarina não saiu da sua pauta? Esquece essa garota e se concentra em nós. Vem cá e me dá um beijo? Você está em seu horário livre, esqueça esse jornal e vamos nos divertir? Você nem está acertando as bolas no alvo e você sempre foi a melhor jogadora de boliche que conheço. Desse jeito vou acabar ganhando de você fácil, fácil. Vai mesmo deixar? — Arthur desafiou-me mudando de assunto. 

— É claro que não vou. Não existe nesse shopping melhor jogadora que eu. Observe e veja como se faz um strike. — sorri vitoriosa arremessando a bola pesada, a fim de derrubar as dez peças de madeira em forma de garrafa em minha frente, e como o previsto, consegui. — viu como se faz, amor? Ninguém me vencia nesse jogo, pobre do Arthur em acreditar que podia.   

Catarina

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— Hoje fui obrigada a escrever um relatório sobre ela. A questão foi, o que eu escreveria? A verdade? Que ela é uma desocupada que fica sentada me vendo trabalhar ou  que ela é prestativa e de boa vontade em exercer suas funções para não deixar a Eduarda mais desapontada ainda? Caramba, sou Catarina Vidonni, uma aspirante a jornalista que saiu da universidade para exercer minha tão sonhada função. Apesar de achar ridícula a superficialidade da indústria da moda, consegui um emprego que "um milhão de garotas se matariam para ter" em uma das redações de jornais e revistas mais referentes do pais. Não posso me rebaixar a babá de patricinha mimada. Não mesmo! Tornei-me assistente pessoal de Maria Eduarda, a editora-chefe da revista Styluos e também jornalista colunista bastante influente do Jornal "folha de Recife" comandado por Laura, única herdeira do maior patrimônio de jornalismo já avaliado no país. A unificação da revista e do jornal, nasceu por meio de Jennifer, uma fotografa renomada formada em artes gráficas e milionária de berço, que junto de suas amigas apostou em crescer seus horizontes de mercado. Tal mistura deu tão certo, que Jennifer, Laura e Eduarda hoje comandam a maior redação do pais, e se tornaram a terceira empresa mais lucrativa deste mercado. E foi por isso que dei o melhor de mim por essa vaga, ainda que de estagiaria, eu tinha que começar de algum ponto. Dai uma riquinha idiota vem e ameaça me tirar da vaga que sempre sonhei em conquistar? Isso não é justo. 

— Amiga, eu não vim para o shopping para ficar te ouvindo reclamar sobre essa tal Lara. Eu nem conheço essa menina e até já sei os milhões de defeitos que ela tem. Muda o disco? Vamos curtir o sábado? Tem uma lojinha da grife oneway que está ansiosa por nossa visita. — Ariane disse babando na vitrine. — Vem, vamos entrar? — ela praticamente me arrastou para dentro daquela loja.  

Ariane tinha mesmo razão. Por que gastar meu sábado pensando no trabalho? Na Lara? Na redação? Eu deveria esquecer tudo que me aborrece e apenas me divertir, é o que devo fazer, é o que vou fazer; chega de gastar meus neurônios com esse assunto tão enfadonho.

Lara

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A sensação de caminhar no shopping degustando um sorvete e me deliciando com o sabor da vitória sobre Arthur no boliche é inenarrável. Céus, nunca pensei que sentiria saudades disso, mas em duas semanas descobri o quanto é maravilhoso ter Arthur por perto. O modo como ele me entende e me faz rir, o modo como ele fingidamente me diz que me "deixa ganhar" porque é um cavalheiro. Ele é mesmo um namorado incrível!

— Amor, acaso não foi a Ariane que entrou naquela loja acompanhada de uma garota? — ele disse acordando-me de uma dose absurda de devaneios. Olhei de um lado e outro e não vi ninguém.

— Quem é Ariane? — busquei em meu banco de dados e nenhuma Ariane veio em minha mente. 

— Aquela que você ajudou a salvar na festa de aniversario da Kiara? Quando por brincadeira os alunos do terceiro ano jogaram ela na piscina? E depois disso você começou a ver que a Kiara, sua melhor amiga, não era tão incrível quanto você imaginava ser.  Acho que não lembra dela por nome, porque ela saiu com tanta vergonha da festa que nem conseguiram se apresentar direito e no dia seguinte ela mudou de escola e desde então não a vimos mais. 

— Acabei de lembrar! Você era tão amigo dela e vivia falando sobre o quanto eu deveria conhece-la, e eu a conheci apenas naquela noite, foi nosso primeiro e único contato.  Ela era do segundo ano e eu do primeiro, quase nunca havíamos nos esbarrado nos corredores e nossa apresentação foi basicamente eu salvando a vida dela. Aposto que ela nem deve mais lembrar de mim e se souber ao menos meu nome, é muito. Faz tanto tempo! 

— É claro que lembra. Você salvou a vida dela, ué, como ela esqueceria? Ela pode até não saber seu nome ou algo solido sobre você, mas com certeza lembra que você salvou a vida dela.  — ele disse convencendo-me. — E eu prefiro acreditar que ela não esqueceu de mim, eu sempre fui tão próximo à ela. Nas aulas de química, no laboratório de analises eu era um dos monitores que ela passava mais tempo conversando, antes de você chegar em minha vida, ela era minha melhor amiga, e ela não pode ter simplesmente esquecido da nossa amizade como num passe de magica. Vamos até lá? Ela entrou naquela loja, tenho quase certeza que era ela. Faz tempo que perdemos o contato, mas rever velhos amigos é sempre bom. 

— Você sabe o quão anti-social sou, Arthur. — relutei. 

— Ela foi minha melhor amiga, Lara. Quando eu nem ao menos te conhecia, ela me ajudou a ser mais que o "nerd esquisito de química". Vamos lá? Eu preciso tentar entender o porquê ela sumiu por tanto tempo sem deixar astros ou explicações. 

Eu tentei dizer não, mas me pareceu tão importante para ele que não pude recusar. Sinceramente, qualquer namorada em meu lugar estaria se mordendo de ciumes, afinal por que meu namorado faria tanta questão de falar com outra garota? Mas bom,  falta de confiança nunca combinou comigo. Seguimos juntos e entramos na tal lojinha à procura dessa tal Ariane. Um flash do momento em que tirei seu corpo desmaiado da piscina me veio a mente,  lembro vagamente daquele rosto pálido, e do quanto poderia ter sido serio o rumo que uma ingênua brincadeira poderia ter tomado...

L a r a - [ROMANCE LÉSBICO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora