5 - O estágio no jornal

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Lara

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Não acredito que além das responsabilidades do último semestre do ensino médio, ainda serei obrigada a estagiar no jornal em que minha mãe, Eduarda, trabalha. "Você tem que criar responsabilidades, Lara" é tudo que lembro de ouvir a voz da Melissa repetir antes de me bombardear com essa noticia. Estudar e dar o melhor de si já não é responsabilidade o bastante? É incrível como para minha mãe há sempre algo em mim a ser melhorado. Por mais que eu faça, ela sempre necessita mais.

Achei que após a viagem, Eduarda voltaria com um maravilhoso presente para sua filha, mas não, do contrario, volta para me recrutar para a escravidão trabalhista que é esse jornal. Hoje é meu primeiro dia e enquanto o elevador me leva ao último andar, eu só consigo odiar um trabalho que eu nem comecei, mas que algo em meu subconsciente diz que não vou gostar. Seria pedir demais que as responsabilidades só viessem na maior idade? Droga, sou uma garota de 17 anos. Tá, quase 18, mas isso não vem ao caso agora, eu tecnicamente ainda tenho 17, então nada de responsabilidades ainda. Era assim que deveria ser!

O som do elevador avisava que cheguei à ultima parada e, a raiva me dominou. Sai em busca da sala de Eduarda e aquilo parecia um labirinto com tantas salas.  Gente caminhando de um lado a outro e estagiários com seus crachás correndo por todos os lados levando cafés e papeis. É só para isso que eles servem afinal? Café e relatórios? Logo mais, eles serão eu. Cruzes, não quero nem pensar em passar meus dias servindo cafezinho ao chefe. Menos ainda se essa chefe for minha mãe! 

— Por Deus, me perdoe!  Foi a pressa, eu, eu... não tive a intenção. — foi tudo que lembro de ter escutado após sentir meu corpo queimando com um liquido escuro derrubado em mim por uma idiota qualquer  no exato momento em que sai do elevador.

— Você está cega, sua idiota? — gritei. — Não olha por onde anda? Você me queimou com esse café, sua estúpida!  

— Eu já me desculpei e o cappuccino não estava tão quente assim, não seja tão exagerada. E estúpida é a senhora sua mãe. —  ela esbravejou devolvendo o berro.

— Se você soubesse quem é minha mãe, pensaria duas vezes antes de falar isso. Vou exigir que ela te demita hoje mesmo. — vociferei.  

— A menos que ela seja a dona desta redação, não me importa raios nenhum quem é sua mãe. 

— Não querida. A dona é a minha tia, Laura. Conhece? Pois é! A minha mãe é apenas a sócia dela, a Eduarda. Conhece também? São suas chefes! Espero que agora se importe. — retribui sarcástica.   

— Se espera que dizendo isso vai me amedrontar, está enganada. Eu errei e me desculpei, mas no exato momento em que me ofendeu, perdeu a razão.  E sim, eu as conheço, são minhas superiores aqui e pessoas super profissionais, o contrario de você que é só uma patricinha filha da mamãe que se julga superior por não precisar lutar para conquistar nada, já que tem de bom grado tudo que deseja, e insiste em pisar em quem acorda cedo para trabalhar. — antes que eu pudesse formular uma frase grosseira o bastante para me defender, ouvi a voz de Eduarda soar. 

— Que gritaria é essa no corredor? O que está acontecendo aqui? Onde está meu café,  Catarina?

— Por acaso seria esse que está na minha blusa, mãe?  — falei mostrando minha blusa e rezando para que minha mãe desse uma bronca daquelas naquela idiota. 

— Lara, você acabou de chegar na redação e já está arrumando confusão? Caramba, a Melissa tinha mesmo razão. 

— A idiota derrama café na minha blusa e sou eu quem pago as consequências? Era com ela que você deveria reclamar, não comigo!

— Não chame sua colega de trabalho de idiota, Lara. Vamos, desculpe-se agora mesmo? Não foi essa a criação que te dei, menina. 

— Você vai me fazer pedir desculpas por um erro que não foi meu? 

— Isso se chama humildade. Agora vamos, peça, sem mais delongas. 

— Foi mal. — revirei os olhos, e sai em destino a sala de Eduarda antes que ela me obrigasse a formular um pedido melhor. Seguidamente ouvi a porta bater, era minha mãe entrando em sua sala e eu já podia prever que estava vindo a caminho uma bronca daquelas. 

— Se vai continuar a brigar comigo, quero dizer que foi aquela idiota que tombou em mim. Ela quem deveria receber suas broncas, não eu. 

— E por isso você vai gritar com ela? Lara, não é com grito que se resolve tudo. Na verdade gritar não resolve nada. E outra, tombar em alguém é coisa que acontece no cotidiano. E acredite ou não, após um tombo é possível conhecer pessoas incríveis. Foi assim que eu conheci Clara, sabia? Um dia vindo a caminho do trabalho e não olhando exatamente o caminho, tombei nela e quase caímos no cão. Ao invés dela gritar comigo e reclamar, ela sorriu. E bom, hoje estamos casadas e felizes. 

— Por que está me contando isso? Me poupe mãe. Uma coisa não tem nenhuma relação com outra. Se acha que vou ser amiga ou ao menos me aproximar dessa tapada, está redondamente enganada. 

— Sugiro que vá para casa trocar essa roupa e esfriar a cabeça. Amanhã as oito esteja aqui na redação, teremos muito trabalho em seu primeiro dia. Creio que hoje não seja um bom dia para você começar. — ela disse com toda paciência do mundo. Caramba, por que ela não me deixava logo livre de mais essa droga de responsabilidade? Sai dali bufando de ódio. Tomara que aquela estúpida não atravesse meu caminho outra vez, ou eu esganarei seu pescoço com minhas próprias mãos. 

L a r a - [ROMANCE LÉSBICO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora