16. Declaração

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Combinei encontrar-me com a Joana no Norteshopping depois do trabalho... O tema da conversa será obviamente a manifestação de sábado passado. Só de pensar naquela tarde arrepio-me de horror!

O dia começa sempre bem quando acordo nos seus braços! O tempo que passámos juntos na última semana é quase como se vivêssemos como um casal. E se isso foi uma amostra do que está para vir, então serei uma mulher muito feliz! Quem precisa de um príncipe encantado quando se tem um jornalista endiabrado! Sinto calor a inundar a face.

— Quem é o Rodrigo? – A voz do Gonçalo tira-me do meu mundo dos sonhos, quase que deixo cair o desinfectante que estava a guardar.

— Bom dia também para ti! – Respondo à sua interpelação irritada. A expressão dele mostra o quanto chateado está e acho que não tem a ver pelo facto de ser segunda-feira de manhã.

— Porque é que esse tipo tem acesso à tua conta do Face? – Põe as mãos na cintura, determinado a ter uma resposta.

— O Rodrigo é o jornalista que está a fazer a reportagem sobre a Causa. Lembras-te que te falei disso. E... somos namorados! – Continuo a repor os itens no armário, tentando dar um ar de normalidade.

— Namorados?! – Está incrédulo. – Há quanto tempo? Tu não me disseste nada...

— Não pensei que fosse assim algo importante e é muito recente... — porque é que está a ser tão dramático...

— Como é que te foste envolver com um tipo qualquer vindo do nada e eu que estou apaixonado por ti desde que te vi não me deste uma oportunidade? — Fala alto, ofendido.

— O quê? – Ele está-se a declarar?

— Eu sou doido por ti Mia! — Suspira.

— Não sabia... nunca suspeitei! – Oh meu deus e agora? Como lidar com esta revelação? — E a Susana? Pensei que gostasses dela...

— A Susana é apenas uma amiga, nunca tive nada sério com ela!

Outro! Eu estou realmente farta desta conversa fiada de "amigas" quando são ou foram algo mais! Sei que estou revirar os olhos mas não consigo evitar!

— Pensei... pensei que se me conhecesses melhor, mais cedo ou mais tarde, irias sentir algo por mim... — Continua.

— Sempre foste o meu colega de estágio, meu amigo dos cafés depois do trabalho... — Explico a encolher os ombros.

— Nada mais? – Pergunta com desalento.

— Nada mais...desculpa. – Acerto a olhar para o chão. Não o queria magoar, contudo não vale a pena dar-lhe esperanças, só iria prolongar a sua inquietude.

— Pois... eu também lamento... — Respira fundo, volta-se em direcção à porta que dá acesso ao corredor da clínica – Um aviso, se esse jornalista te conseguiu fazer capitular tão rápido, garanto-te que não é dos que ficam muito tempo no mesmo sítio! – Sai da sala e assusta-me ao bater com a porta.

Encosto-me ao armário e fixo a porta fechada. Nada me preparou para o que acabou de acontecer. Será que perdi um amigo? Será que ainda vamos ter uma boa relação de trabalho durante o resto do estágio? Eu gostava... o Gonçalo é um bom ser humano.

Penso que não havia outra forma de lidar com a situação, dadas as circunstâncias. Tenho a certeza que irá fazer outra pessoa muito feliz... alguém que espelhe o que ele sente. Não eu...

Entro na cozinha e a Susana está a almoçar. Olha-me com reprovação, pega no seu almoço e dirige-se à saída, não sem antes parar à minha frente.

Até Que o Sol Nasça Para TodosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora