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No dia seguinte fui para a Mansão com Lua.  Estava tudo dando certo, almoçamos e rimos. Notei que Morte estava mais... Desanimada.  Depois da sobremesa, fui ao seu quarto.
Bati na porta que estava entreaberta.  Não houve resposta.

---Mo... - antes que eu terminasse de chamá-la, vi seu reflexo num espelho da suíte. Ela estava de costas. Em meio aos seus cabelos, vi que  haviam mais  e mais rachaduras em sua pele de porcelana.

Minha boca se abriu em um "o"

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Minha boca se abriu em um "o". Quando vi que estava se virando, corri para dentro do quarto de Tempo. O garoto  estava sem sobretudo,  guardando algumas roupas em seu armário.

---Eita, o que foi? Parece até que viu um fantasma... - Ele arqueou as sobrancelhas.

---Bem, eu vi quem leva eles. A Morte está cheia de rachadura nas costas. Eu vi o reflexo dela no espelho,  felizmente não me viu. O que está acontecendo?  Disse que estava mais perto da Magno acabar... - me joguei no sofá.

O garoto se aproximou de mim franzindo o cenho,  logo ficando de joelhos nos pés do sofá,  o suficiente para me olhar.

---Olha mijn liefde, Morte sempre foi a mais misteriosa de nós três. Os humanos a odeiam, e isso a deixa meio frustrada às vezes - ele deu um beijo em minha bochecha - e eu realmente não sei o que pode ter sido. Nossas emoções afetam nossos corpos por serem extremamente  frágeis, mas eu e Vido nunca rachamos por emoções.  Não sabemos de Morte, mas se você viu, ela deve estar bem mal.

---Entendi... - Olhei para o teto - depois tento conversar com ela.

O garoto tirou a blusa e se jogou na piscina, fazendo com que automaticamente  o resto de suas roupas se transformasse apenas num calção de banho.

---Eu adoraria ver você ao meu lado nessa piscina  - o garoto dirigiu uma piscadela para mim, que estava agora sentada numa poltrona.

---E eu obviamente adoraria ficar na sua frente de biquíni - Tentei não soar sarcástica para ver a reação do garoto.

Meu esforço contra o sarcasmo deu certo. O garoto pareceu surpreso, e eu vi sua pele branca como a neve virar um vermelho extremamente forte rapidamente.  Sua voz havia travado, então ele ficou num "eeeeeeeehr" eterno com a boca entreaberta. A expressão  "EITA!" nunca combinou tanto com a feição do rapaz,  que me fez rir até lembrar do meu diafragma.

--- Santa Morte. Você é o melhor tomate temporal do mundo  - ri, bagunçando seu cabelo ao se aproximar.

O garoto afundou o rosto na água, que fez aquele barulho de algo quente esfriando.  Ri, tirando as botas para descansar os pés na água.

Olhei para água  de tonalidade néon, se perguntando o trajeto feito por ela até aqui.

---Onde fica esse lugar? - Franzi o cenho.

---A Mansão?  - Tempo levantou a cabeça lentamente, e suas bochechas ainda estavam bem rosadas.

---Uhum.

---Como eu poderia explicar...   Este lugar pode ser comparado à uma ilha flutuante, já que fica no céu.  Não se pode vê-la ou achá-la em sua dimensão,  pois meio que estamos numa fenda. Só as pessoas com ferramentas especiais podem vir aqui,  como você.  Ou seja,  se for no jardim da mansão,  verá a beira da ilha e uma infinidade de nuvens, que ficam ainda mais bonitas no anoitecer.

Processei a informação.

---Se alguém se jogar da ilha... Onde cai? -apoiei a gente cabeça na palma da mão.

--- Esse é o problema: a pessoa não cai em nada. Ela fica caindo durante anos e anos, até morrer de fome ou velhice. É um buraco sem fundo, e alguns funcionários já se suicidaram aqui assim. Um humano que havia se apaixonado pela Morte teve o mesmo destino, pois os dois não poderiam ficar juntos também.  Enfim... Morte já teve vários namorados.  Eu só não me arrependo de namorá-la pois liberei espaço  para uma nova nação, e na mesma você veio - ele pôs  mão em meu queixo.

Soltei uma risadinha involuntária e logo ouvi alguém bater na porta.

---Pode entrar - falei alto o suficiente para que ouvisse.


Lua entrou correndo no quarto, em pânico. A garota puxou meu braço, gritando algo que eu não entendia direito.  De pés molhados e descalços, fui arrastada pelo corredor até o quarto de Morte, o de Tempo chegou segundos depois.

A cena era assustadora.  Morte estava deitada em sua cama, parecia que sua pele de porcelana estava manchada de preto. Seus olhos se esforçavam para continuarem abertos, coberta de  endredons. Seus lábios estavam rachados, e Vido tentava a todo custo passar uma pasta acinzentada nas manchas pretas em sua pele, e a garota se esforçava para desviar.

---MORTE! - Eu corri como um A
atleta bem treinado para chegar na cama da garota, em pânico - Pelos amor de Della Peste, o que  ela tem?
Vido olhou para mim e abaixou um pouco a máscara cirúrgica.

---É um doença que todos nós,  entidades,  pegamos. Pra vocês é como catapora, só se pega uma vez e é raro pegar duas vezes. No caso, a doença é contraída psicologicamente.  A entidade acaba adoecendo por algum acontecimento ou adquire com  o tempo, e acaba se isolando. Morte já pegou, realmente não sei o que a fez pegar de novo. Se ela permitir a se mesma melhorar, podemos acabar perdendo ela por um bom tempo.

Gelei.

---Como assim? Entidades morrem? - Minha voz estava trêmula.

---Não exatamente.  Quando uma entidade quebra,  demora bilhões, trilhões de anos para que ela volte. Em certos casos, ela não volta - Interferiu Tempo.

A garota fechou os olhos para  que seus olhos não fossem machucados pela luz.  Sua mão quase estilhaçada  caminhou por debaixo das cobertas até alcançar a minha. Coloquei a mão em sua testa, percebendo que eu poderia fritar um ovo alí.
Sua outra mão  fez um gesto para que o resto saísse,  deixando apenas eu e a garota.

---Mally... Por que vocês precisam ter tanto ódio de mim..? - Sua voz saiu em  um sussurro  vazio.

--- O que? Eu não te odeio - Franzi o cenho, colocando uma madeixa que estava livre sobre o rosto da garota atrás de sua orelha.

---Mas os outros sim.  Todos amam Vido.  Bem... Veeddo é uma bela mentira, e  eu sou a verdade dolorosa, certo? - Ela sorriu.

Por uma brecha- A Outra dimensão.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora