17 - Um dia com o tio Michael

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Eu abri os meus olhos e levei um susto tão grande que até caí da cama. Era o assassino do filme "Pânico", com o rosto a poucos centímetros do meu!

- AAAHHH!!!!! – gritei enquanto desabava no chão. O indivíduo tirou a máscara e disse:

- Como de costume, te enganei!

Meu tio Michael e eu soltamos gargalhadas e nos abraçamos.


Michael era um homem alto, forte e branco, que tinha os cabelos curtos escuros e bagunçados e o rosto limpo, sem qualquer pelo de barba ou bigode. Apesar de ter quase trinta e oito anos, não tinha sequer um fio branco de cabelo, e não tinha rugas também, possuindo uma expressão de um cara jovem e daqueles sarcásticos, como o Natsuno – ele realmente fazia muitas brincadeiras. Meu tio usava uma camiseta vermelha cor de sangue, cuja gola tinha formato de V, e uma bermuda azul jeans que iam até os joelhos. Nem parecia que ele era um adulto experiente, ainda mais um mestre das artes marciais. Ele meio que me ensinou tudo o que eu sabia.

Já na cozinha, ele me apresentou sua noiva – uma mulher muito simpática e bonita, que tinha pele clara e cabelos castanho-claro – e tomamos café, juntos da minha mãe. Michael dissera que estavam namorando já fazia tempo, só não havia anunciado nada até decidirem se casar.

- Tio, é verdade que você pretende morar aqui em Honorário? – perguntei, um tanto animado.

- É sim – confirmou ele, mordendo um pão com queijo. – Vou passar alguns dias morando aqui enquanto procuro uma casa para comprar.

- Mas por que você decidiu sair da casa da vó?

- Você ainda é novo para entender. – Eu revirei os olhos e ele riu. – Eu quero construir uma família grande, se é que me entende. Lá não haveria espaço para mamãe, eu, Karen e mais dez catarrentos – ironizou.

- Não exagera, Michael! – Karen, sua namorada, protestou; todos os quatro rimos.

Terminamos de tomar o café e meu tio e eu fomos para o parque perto de casa.


O dia estava lindo. O clima, ótimo. E como era domingo, o parque perto da minha casa estava animado. Crianças corriam aqui e ali brincando e se divertindo, fazendo-me recordar da minha infância em Belém, a alegria de passar a tarde inteira com vários amigos e chegar sujo e suado em casa.

E meio que desviando de um pequenino ou outro, nós caminhamos pelo belo gramado da praça, conversando sobre a minha nova vida em Honorário e em como eu começava a me adaptar à nova cidade – pulando, é claro, a parte que envolvia os vampiros. Então meu tio perguntou, com uma ideia repentina na cabeça:

- Diogo, que tal treinarmos um pouco?

- Aqui? – eu estranhei, olhando todas aquelas pessoas à nossa volta.

- O quê que tem de mais? Ficou com medinho?

Eu realmente não gostava de ser provocado, ainda mais em público. Meu tio era do tipo que fazia as coisas sem se importar com as opiniões alheia. Ou seja: ele treinaria golpes mesmo no meio de uma multidão de estranhos.

- "Medo" é uma palavra que não existe no meu vocabulário – eu afirmei.

- Então vamos lutar, não temos nada a perder mesmo...

Nos preparamos e começamos a luta, atraindo os olhares dos outros moradores. Meu tio tentava me acertar com golpes nos braços e no estômago, como sempre fazia, mas eu desviava e contra-atacava. Sem acertá-lo, evidentemente, porque Michael era um faixa preta em várias modalidades diferentes. E mesmo assim eu percebi uma pequena melhoria na minha agilidade desde o nosso último treino, muito embora ainda não fosse o suficiente para acompanhá-lo. Pelo menos agora a luta estava durando alguns minutos a mais. Antigamente, além de perder de forma rápida e humilhante, eu sequer conseguia atingi-lo. Uma coisa não muito legal. Dessa vez, no entanto, meu tio parecia ter dificuldades para encontrar uma brecha e me derrotar.

Caçador Herdeiro (1) - Vento Sufocante | COMPLETOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora