15 - O dia do encontro

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Tem coisas na vida que podem ser boas para você, ao mesmo tempo em que podem não ser tão boas para um amigo. E por conta disso você até se sente mal, fazendo com que essa coisa boa pareça uma coisa ruim. O que na verdade não é. É apenas uma coisa boa que não veio num bom momento. Uma coisa que poderia vir antes ou... depois. E quase sempre essas coisas não aparecem na hora certa; mas se você não aproveitá-las mesmo nas horas erradas, talvez essa oportunidade não apareça novamente. E seu amigo poderá até ficar feliz, ao contrário de você, que poderá se arrepender por um bom tempo. Por isso não é sempre que se deve desistir de algo por causa de um amigo.

Era assim como eu me sentia.

Era sábado, o dia do encontro com a Sophia.

O mais natural seria eu ficar animado e contente, porque cara, eu tinha um encontro! E com uma das garotas que faziam o meu coração ficar alegre! Uma das – esse era o problema. Embora eu me sentisse bem perto da Sophia, a Zoe me provocava praticamente o mesmo sentimento bom, especialmente depois da conversa de ontem. Ela simplesmente havia admitido que estava gostando de mim.

Eu sabia que tinha só quinze anos e que talvez sequer saberia como namorar – porque devia ser algo difícil, pelo menos na minha opinião. As garotas são estranhas e perigosas, e são bem difíceis de entender também. Eu definitivamente nunca tinha me dado muito bem com elas, nem mesmo na outra escola, em Belém. Quando tentava me aproximar, elas se afastavam. Quando eu me afastava, aparecia um monte querendo se aproximar. Uma vez beijei uma menina depois da aula, e até pensei que estávamos namorando, mas quando fui ver no dia seguinte, lá estava ela beijando outro. Não fiquei muito triste pelo ocorrido, mas acredite: esse tipo de coisa também não é muito agradável. E era por isso que eu tinha trauma até hoje. Cheguei em Honorário e a Sophia me ajudou, demonstrando ser uma pessoa meiga, gentil. Eu achei ela linda de início, e com os dias, eu meio que fui sentindo algo a mais. Se é isso o que chamam de amor, eu podia dizer que estava quase amando. Mas eis que surge a Zoe...

Uma pessoa que chegou entendendo os meus sentimentos e dizendo o que eu precisava ouvir. Além de linda, possuidora de um caráter admirável. E ela estava gostando de mim! Consegui um encontro com a Sophia, no entanto, não estava tão empolgado quanto deveria estar. Ao mesmo tempo em que o meu coração parecia balançar por duas garotas, eu me sentia culpado. Suponhamos que a Sophia também estivesse gostando de mim, e eu descobrisse que era dela que eu gostava, qual seria a reação da Zoe? Como ela se sentiria? Definitivamente, eu não queria ver a Zoe sofrendo, e foi esse pensamento que envolveu a minha mente durante o sábado inteiro. Eu não podia vacilar com a Sophia, muito menos deixar a Zoe triste. Resumindo: eu havia me metido numa baita de uma encrenca.


Já na cozinha, na hora do café da manhã, avisei à minha mãe:

- Mãe, hoje vou sair, e só volto à noite.

Ela logo estranhou, colocando o café nas xícaras.

- Aonde você vai?

- Na casa de um amigo. – Eu odiava mentir, mas dessa vez foi necessário; minha mãe, no entanto, imediatamente me olhou com malícia. – O que foi, mãe?

- Nada. Esse amigo é homem ou mulher?

- O que você quer dizer?

- É algum encontro?

Fiquei vermelho. Minha mãe percebia tudo, e isso, de certo modo, me deixava constrangido.

- Um encontro? Com quem? Que ideia maluca!

Caçador Herdeiro (1) - Vento Sufocante | COMPLETOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora