Capítulo único

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"Você tem dado a dose correta? Lembrado dos horários, precauções e tudo mais?" a voz abafada de Mycroft transmitia preocupação todas as vezes que tocavam nesse assunto.

"Não se preocupe. Está tudo sob controle." John respondeu, se distanciando ao máximo do quarto de Sherlock, onde o detetive estava, para que nada fosse ouvido.

"Ótimo. Não preciso lhe lembrar da importância disso, certo Dr. Watson?" Mycroft se tornava muito mais protetor e controlador quando o assunto era o seu irmão. Afinal, não poderia deixar que ela voltasse.

"Não, senhor." Disse John encarando a bolsa de seringas no canto da cozinha, pensativo. "Não deixarei nada acontecer."

A ligação foi encerrada e Watson pegou nas mãos uma das seringas rotuladas de "TD-12" em meio a todas as outras que formavam um estoque necessário para que a segurança de todos estivesse garantida. Bateu na porta do quarto do detetive antes de entrar, e esse sorriu tristemente, sabendo que estava na hora. John sorriu de volta, sentando-se ao lado de Holmes na cama e selando seus lábios levemente antes de injetar o líquido em sua veia. Sabia que dessa forma o acalmaria. Sherlock já não questionava mais. Decidia ignorar, sabendo que não poderia evitar. Mas, em pouco tempo, se sentia bem novamente. Sentia-se amado e protegido.

O médico, que fora designado à missão de cuidar e medicar Holmes, agora se via muito mais envolvido. As emoções tomavam conta e assim ele se deixava levar. Os olhos tristes do companheiro lhe provocavam angústia, mas John era treinado. Lembrava-se das primeiras sessões de terapia, que lhe torturavam até a própria mente, que fora obrigado a comparecer, por conta de o remédio ser seletivo e apenas funcionar no cérebro do paciente de forma específica. Eram sessões cruéis. Mas sabia que precisava se manter forte. Sabia que teria que continuar com o procedimento com a mesma firmeza que iniciou. Era um soldado, preparado para as mais difíceis situações, e tinha consciência de que tudo o que fazia era para um bem maior.

O detetive logo estava lendo sobre mais um dos muitos casos que apareciam para ele, com toda a empolgação e, como gostava de dizer, com o sangue correndo nas veias. "Oh, é natal!" Sorriu para John, demonstrando sua animação sobre o caso de assassinato.

Os homens pegaram os seus casacos. Estavam prontos para mais uma corrida.



-x-



Uma semana depois...

"Você chegou bem na hora dos biscoitos." O homem sorriu levemente, atendendo o detetive em sua porta.

"Como? Eu não... quero nenhum biscoito." O mais alto falou pausadamente, um tanto quanto surpreso. Seu novo vizinho, de cabelos e olhos escuros e estatura média, usava um avental rosa e carregava um pano de louça no ombro. O cheiro exalado do local era surpreendentemente bom.

"Que pena. Entre, de qualquer forma." Agia como se fossem velhos amigos — e, de fato, eram. Mas era disso que Sherlock não sabia.

"Não sei se seria uma boa ideia." Sorriu, ainda surpreso pela forma como o homem agia. "Sherlock Holmes." Estendeu a mão para o vizinho.

"Já sabia disso." Deu de ombros e Holmes franziu o cenho. "Ora, como não ouvir do famoso detetive Sherlock Holmes?" Sorriu. "Jim Moriarty." Finalmente deu um aperto firme na mão de Sherlock, que pigarreou assim que cessaram o toque.

"Você tem um pouco de açúcar para me doar?" Sherlock tentou o seu melhor sorriso. "Sabe como é... Preciso de café. Para trabalhar."

Eram onze horas da noite. Moriarty perguntaria o porquê de estar trabalhando tão tarde se não o conhecesse.

TD-12 | BBC SherlockWhere stories live. Discover now