1. O teu sorriso...

529 7 4
                                    


— Estou? – Atendo o telemóvel mesmo a tempo de não perder a chamada.

— Bom dia. Mia Aires? – Pergunta o homem do outro lado da linha.

— Sim, sou eu. – Não conheço o número, nem a voz.

— Sou o Rodrigo Fontes da revista Novos Olhares.

— Ah! Olá como está! – Estou bastante surpreendida! Finalmente uma resposta! Ando a tentar contactar há sei lá quanto tempo revistas e jornais, na esperança de conseguir alguém interessado em divulgar a mensagem que eu e o meu grupo defendemos.

— Bem. Passaram-me o seu e-mail esta manhã e gostava de me encontrar consigo para falar sobre uma possível reportagem.

Yes!

— Claro! – Falo mais alto — Quando quiser! – Não consigo esconder o meu contentamento.

— Que acha hoje, mais para o final da tarde?

— Saio do estágio por volta das cinco...

— Trabalha aqui, no Porto? — A sua voz é calma e, ao contrário da minha, desprendida de entusiasmo.

— Sim, perto da Avenida da Boavista.

— Nesse caso pode ser às 17.30 no Café Majestic na rua Santa Catarina, conhece?

— Sim. — Vivo na cidade há quase quatro anos e o Majestic foi dos primeiros sítios a visitar. É um dos ícones históricos incontornáveis da Invicta.

— Então ficamos combinados. Até logo.

— Ok. Até logo! — Desligo e fico uns segundos a recuperar. Agora é real, isto pode mesmo ir para a frente!

Guardo o iPhone no bolso da bata branca que uso, de onde ressalta o pequeno logotipo da clínica, bordado, próximo do peito em tons verdes e a placa identificativa com o meu nome a preto. Prossigo com a minha consulta à Dara, um canídeo fêmea Golden Retriever de onze anos, que segundo a dona, engoliu um carrinho de brincar do neto. Um Raio-X vai dar-me a certeza do diagnóstico e permitir localizar o objecto.

Estou na fase final do meu curso de veterinária, mais uns meses de ensino prático culminando num último exame e começará a verdadeira aventura! Nunca tive dúvidas na escolha de profissão pelo que sempre fui muito motivada. Aliás, a minha determinação intensificou-se desde que entrei para a faculdade e tive contacto com outras pessoas que partilhavam a mesma paixão que eu.

A Clínica Animedics, onde estou a fazer formação, fica num edifício novo de doze andares, ocupando todo o rés-do-chão. Lá dentro a cor predominante é o branco, com algumas áreas seleccionadas em verde-claro. Fotos engraçadas de animais de companhia espalhadas pelas paredes e tecto enchem o local de simpatia.

Antes de deixar o meu estágio passo pelo vestiário. Na zona comum a todos os funcionários há uma dúzia de cacifos verde-claros fixados à parede e, em frente, uma banca com quatro lavatórios em mármore clara e respectivos espelhos. Ao centro da sala, está um banco comprido de madeira mais usado nas pequenas pausas para a alegre cavaqueira da equipa.

Arranjo o meu cabelo preto comprido que é ondulado nuns dias e tempestuoso nos restantes. Estou na dúvida se devo usá-lo solto ou preso num rabo-de-cavalo. – Vai solto. – Decido por fim. Retoco o rímel e ponho batom.

Se soubesse que iria estar com um jornalista teria vestido algo mais clássico mas também não acho que esteja assim tão mal. Trago uns jeans azuis justos, botins de salto alto castanhos e uma camisola comprida quentinha lilás. Os meus olhos azuis sorriem-me pelo espelho. Irradio boa disposição! Sim, vai tudo correr bem!

Até Que o Sol Nasça Para TodosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora