Capítulo II

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Capitulo II

Entrei na Mansão com meu coração na mão, parece que a qualquer hora ela ia descer aquelas escadas e me abraçar, perguntar como eu estava, iria sentar comigo no grande sofá de couro preto, e conversaríamos horas, sobre nada e sobre tudo. Ela sempre me ouvia, foi a única pessoa para quem eu tinha contado que era gay, eu tinha 13 anos e nem eu sabia o que estava acontecendo comigo, me ouviu atentamente e me abraçou, ela nunca me julgou, estava sempre ali para me ouvir, me amava incondicionalmente, e sempre me apoiou em tudo eu sentia tanta saudade.

Fiquei olhando para cada móvel, o grande relógio da parede, os tapetes, a grande cristaleira que ocupava uma parede inteira, a lareira, tudo ali era uma pequena lembrança da minha infância. A mansão com a chamávamos, realmente era enorme, meu tio, era um homem muito rico, e quando casou com a minha tia, que também vinha de uma família com posses, tornaram a mansão um lugar lindo para todos os amigos, infelizmente meu tio não podia ter filhos, foi a grande tristeza da vida deles, mas minha tia era uma mulher incrivelmente generosa, toda sua atenção se voltou para mim e para outras crianças, Ela dizia que se Deus não tinha lhe dado filhos era porque ela tinha que cuidar dos filhos das pessoas que por um motivo ou outro, não podiam cuidar dos seus.

Hoje, somente o lado sul da mansão era usado, os quartos dos moradores ficavam no segundo andar, já o lado norte tinha um grande salão de baile, com uma cozinha separada, e os quartos dos hospedes ficava em cima dessa ala, quando minha tia era jovem grande festas eram realizadas ali, mas com a morte do meu tio, ela tinha perdido a vontade de fazer grandes festas. A ala norte então ficava sempre desocupada, somente era feita a manutenção pelos empregados da casa que eram dirigidos pela Alberta.

A Alberta entrou na sala, eu estava deitado no sofá pensando na minha infância ao lado dela.

- Tome meu amor, pegue esse chazinho de Capim Cidreira que tu gosta tanto, essa é a carta que ela te deixou, vou te deixar a vontade, me chama se precisar.

Quando Alberta me deu o envelope, senti o perfume da minha tia.

As lagrimas não paravam de cair no meu rosto.

"Meu amado,

Sei que deve estar confuso com tudo o que aconteceu, eu já sabia a algum tempo que eu seria chamada para o lado de meu amado marido, seu tio.

Nunca te falei nada por que não faria diferença, eu queria que você guardasse boas recordações dessa velha senhora que te ama tanto. Espero sinceramente que a Alberta tenha feito o que pedi para meu velório, caso não, avisa para ela que virei puxar os pés dela na noite. Me deixar ser enterrada feia e mal arrumada seria demais para mim.

Mas sei que Alberta com certeza fez, ela sempre cuidou de nós como uma mãe zelosa, e é por isso que resolvi pedir a você que resolvesse algumas pendencias pra mim, você é meu amado sobrinho, tudo bem que é o único não é? Mas mesmo que eu tivesse vários tu sabe que seria o mais amado. Sei que está rindo agora dessa velha louca.

Quero te pedir algumas coisas, que acho, não terei tempo de fazer ainda nessa vida. E sei que vais me deixar feliz e fazer o que estou te pedindo, até por que sei que nunca me negaria nada. É claro que sabe que estou te chantageando não é?

Amor da minha vida, sabe que se eu tivesse a graça de Deus de ter um filho, ele seria igual a você que me deu tantas alegrias na vida.

Meu primeiro pedido amor, é que cuide de minha amada Alberta"

.......

Segui lendo a carta da minha tia, eu não sabia se ria ou chorava, ela nunca me deixou chorar, então eu deveria sorrir e seguir em frente.

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