Capítulo 52

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Chegando lá ....

- Minha querida! - Miriam exclamou, ao receber a filha.- Alfredo, venha cá!- Chamou, enquanto abraçava Rafa.
O pai da morena apareceu momentos depois, fumando um charuto, a expressão séria.

- Olá papai.- Rafa foi abraçá-lo.
- O que faz aqui? E seu marido?
A morena recuou, um pouco sem jeito.

- Felippe está resolvendo alguns assuntos e não pôde vir comigo, papai. Mas não está feliz em me ver?- Ela o olhou.

Alfredo fez um gesto impaciente com a mão, dando uma tragada no charuto.

- Sim.
- Claro que ele está, meu amor.- Miriam sorriu para Rafa.- Mas venha tomar algo conosco.
Rafa acompanhou a mãe, contente. Alfredo seguiu-as logo atrás.
Enquanto tomavam suco, mãe e filha ficaram conversando alegremente. Alfredo só comentava alguma coisa ou outra, e somente quando Miriam lhe dirigia a palavra, ou quando ele tinha uma oportunidade de criticar Rafa.

- Com licença, vou para o meu escritório. - Ele disse em certo momento, se levantando, colocando o copo de whisky na mesinha e saindo.
- Acho que ele não está muito feliz com a minha visita.- Rafaella murmurou para Miriam.
- Não diga bobeiras, Rafaella. Ele é seu pai.
- Isso não quer dizer nada. - A morena franziu a testa.

Miriam balançou a cabeça e deu um jeito de puxar outro assunto banal com a filha. Decorrida meia hora, a mulher disse que precisava preparar o almoço com os criados, e pediu que Rafa a esperasse e ficasse à vontade. Quando a mãe saiu, Rafaella encarou as chamas da lareira acesa da sala de estar. Logo se levantou, e decidiu ir até o escritório da casa. Deu duas leves batidas e entrou.
Alfredo estava sentado numa poltrona, de frente para a janela e observando o lado de fora.
Ele olhou para trás e quando viu Rafa não falou nada.

- Posso entrar?- Ela perguntou hesitante, já fechando a porta atrás de si.
- Já entrou. - Ele respondeu com frieza, voltando a encarar a janela.

Rafaella engoliu em seco e se aproximou...já estava na hora de ignorar seus medos em relação ao pai e enfrentá-lo. E aquilo seria agora.

- Não parece muito contente com minha visita hoje.- Murmurou de forma banal.
Alfredo deu de ombros.

- Estou normal, Rafaella.
- Sim, normal.- Ela soltou o ar.- Normal porque você sempre me tratou assim, desde pequena. Mas somente é normal para você, papai. Não para outros pais.
- Do que está falando, menina?
- Eu quero dizer que o normal é um pai amar seus filhos. - Ela respondeu, distante. - Dar carinho, atenção, e querê-los bem.
- Agora vai querer dizer que eu não a trato bem, é isso?

Rafa soltou um suspiro.

- Só quero dizer que você não age como os pais normais. Você me faz sentir uma completa estranha aqui. Me faz sentir indesejada, como algo que incomoda. E me sinto assim desde pequena, papai.
Ele não respondeu, e a morena se aproximou, tocando o braço de Alfredo.

- Porquê? Porquê me trata assim? Eu sou sua filha!
Rafa estava com vontade de chorar, mas estava prendendo todas as suas emoções.
Alfredo voltou-se para trás, encarando a filha. Pareceu avaliar o que diria por um segundo, e logo voltou a virar para frente, ficando de costas para ela.

- Você foi um acidente.- Ele disse de repente.- Eu e Miriam não havíamos planejado você...na época éramos muito jovens e não estávamos preparados. Eu não queria filhos tão cedo.- Ele disse em tom distante.

Rafa ficou estática.

- Mal havíamos casado, um filho iria atrapalhar tudo. Eu...pedi para Miriam tirar, quando ela engravidou, mas ela não quis.- Ele confessou.
Falava tudo sem olhar para Rafaella, como se falasse sozinho.
A morena começou a sentir os olhos arderem.

- As pessoas começaram a tentar mudar meus pensamentos...começaram a dizer que se Miriam tivesse um menino, ele seria o herdeiro e que eu poderia ensiná-lo muitas coisas. E era verdade. Aos poucos eu me animei a ter um filho.
Rafaella sentou-se numa cadeira, calada.

- E foi aí que você nasceu.- Alfredo pela primeira vez olhou para trás e olhou no fundo dos olhos amêndoas de Rafaella. - Tem noção da decepção que foi para mim?

A morena começou a sentir os olhos arderem.

- As pessoas começaram a tentar mudar meus pensamentos...começaram a dizer que se Miriam tivesse um menino, ele seria o herdeiro e que eu poderia ensiná-lo muitas coisas. E era verdade. Aos poucos eu me animei a ter um filho.

Rafaella sentou-se numa cadeira, calada.

- E foi aí que você nasceu.- Alfredo pela primeira vez olhou para trás e olhou no fundo dos olhos amêndoas de Rafaella. - Tem noção da decepção que foi para mim?
A morena engoliu em seco, a garganta ardendo pelo nó que havia se formado.

- Uma menina... - Ele continuou, amargurado. - Destruiu todas as minhas esperanças de poder ao menos ter um herdeiro. Você é minha maior decepção, Rafaella. - Ele murmurou, sem pena.
A morena ofegou, os olhos rasos pelas lágrimas. Mas não ia chorar na frente do pai.

- Agora eu entendo.- Ela sussurrou. - É uma pena que eu tenha te decepcionado tanto, mesmo que sem querer, papai.

Dizendo isso, Rafa se levantou da cadeira e saiu do escritório sem olhar para trás. Passou pela sala de estar, e saiu da casa sem se despedir de ninguém.
Somente entrou no carro que a esperava do lado de fora, querendo sair dali o mais rápido possível.

 * * * *

“Você é minha maior decepção, Rafaella.”

Aquilo martelava violentamente em sua cabeça. Quando chegou na Mansão, Rafa saiu do carro sem ao menos prestar atenção onde estava. Os olhos estavam marejados e sua expressão estava pálida, quase mórbida. Precisava de um lugar tranqüilo, somente isso...

Entrou na mansão, de cabeça baixa e rosto triste. Foi andando pelo jardim. Ia entrar na casa, mas mudou de idéia e foi atrás de algum lugar escondido e solitário no jardim.
Logo achou...um lugar escondido perto da Fonte da mansão.
Sentou-se no chão, pouco se importando se ia sujar a roupa, e  momentos depois não segurou mais o pranto que lhe assolava por dentro. Todas as tristezas que lhe remoíam por dentro saíam através de lágrimas e soluços. Estava com as pequenas pernas dobradas, e a cabeça enterrada entre os braços, toda encolhida.
Quando uma mão quente lhe tocou o ombro.
Rafa estava tão mal que sequer se deu ao trabalho de levantar o rosto para ver quem era. D. Dulce, talvez...

- O que foi?- Ela ouviu uma voz grossa e hesitante perguntar.

Rafa se assustou e ergueu os olhos molhados para cima. Felippe a observava, ainda com a mão em seu ombro. A morena soluçou, e percebendo que sua voz não saía, voltou a deitar o rosto nos braços.
Felippe sentou ao lado dela. Ele parecia meio incerto, Rafa nunca o vira daquele jeito.

- O que aconteceu, Rafaella?- Ele pressionou.
Ela escondeu o rosto nas pequenas mãos.

- N-Nada...
- Então pare com esse choro. - Ela não parou.
Dava para notar que ela não conseguiria parar.

De  repente, antes que Felippe pudesse reagir, Rafaella se virou para ele e engatinhou até seu colo, sentando-se nas pernas dele e o abraçando como se pedisse consolo.
Ela soluçou, escondendo o rosto no pescoço de Felippe.
Ele piscou, incrédulo pela atitude da morena e sem saber como agir.
Estava desnorteado.
Ela estava procurando consolo e proteção...com ele ?
Logo com quem ela odiava?

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