Capítulo 51

9.2K 501 21
                                    


- Parece-me que palavras não bastam com você.- Ele disse, apertando-a cada vez mais...mais...
- Vai me matar?- Ela perguntou, olhando-o bem nos olhos.- É isso que quer? Não acho que isto vai apagar seu passado, Felippe. Me matar não vai mudar as coisas.
Ela fechou os olhos por um breve momento, engolindo em seco.

- Se eu quisesse a mataria agora mesmo.- Ele respondeu com frieza.- Mas eu não estragaria minha vida fazendo tamanha tolice.- Dizendo isso, ele desapertou o pescoço da esposa e a largou.
Rafa cambaleou, segurando o próprio pescoço e puxando o ar com força.

- Até porque, como você disse, isto não iria alterar as coisas.- Ele falou, parecia uma estátua fria e sem sentimentos.

Após recuperar o fôlego, Rafa ergueu os olhos.

Era incrível, mas não tinha mais medo de Felippe. Nenhum medo.

Talvez porque antes não o conhecia e o achava sem escrúpulos, capaz de tudo. Mas agora tudo estava diferente: agora ela sabia que havia um Felippe oculto por trás de toda aquela máscara de escuridão e crueldade. Um Felippe que ele escondia para se defender, mas que no fundo estava ali. Por isso ela sabia que ele se defendia da forma que podia: no caso era daquela forma fria e explosiva.  Rafa só precisava trazer o verdadeiro Felippe à tona novamente...
A morena tirou uma mexa da face, erguendo os olhos para observá-lo.
Naquele momento Felippe parecia tão...desnorteado. Tão solitário. Era uma sombra do homem maldoso e gélido que se mostrava à todos.

Rafa teve uma vontade desconhecida e impulsiva de ir até ele e rodeá-lo com os braços.

- Felippe...eu não pretendo atormentá-lo com nada disso.- Ela murmurou, com bondade. - Apenas quero dizer que estou aqui se precisar.

Felippe a olhou, ofegante. Pareceu sem saber o que dizer por um momento, como se estivesse desarmado.

- E...preste atenção.- Rafa se aproximou lentamente.- A culpa do que aconteceu não foi sua! Não pode se culpar.
- Cale-se.- Ele mandou.
- Felippe, eu apenas quero te ajudar...- Ela murmurou com desespero, erguendo a mão delicada para tocá-lo.
- NÃO PRECISO  DA SUA AJUDA! - Ele gritou, empurrando a mão dela com violência. - Não quero nada de você, fique LONGE de mim!- Ele urrou, saindo como se fosse um leão enjaulado que ganhava a liberdade.
Ele saiu de forma tão abrupta, que logo Rafa o perdeu de vista. A morena passou a mão pelos braços, os olhos marejados. Sentia o corpo tremendo.

- Senhora, com licença. O senhor desistiu da viagem? - O motorista se aproximou de repente, sem jeito.
Pelo visto estivera tão ocupado com o pneu que não havia notado a briga, já que Rafa e Felippe tinham se afastado.

Rafa ergueu os olhos.

- Me parece que sim...pode me levar de volta?
O motorista assentiu, parecendo confuso. Rafa o seguiu e entrou no carro.
Felippe agora precisava de um momento sozinho.
Rafa revirou as pequenas mãos no colo, nervosamente. Havia voltado para a mansão há quase duas horas, e nenhum sinal do marido.
Jack miou, enroscando-se nas pernas de Rafa, mas a morena estava tão distraída que nem percebeu. De repente ouviu os portões da Mansão se abrindo, e um minuto depois alguém entrou . Rafa se ergueu ansiosamente. Felippe parou bem na porta da sala de estar, observando a morena de forma sombria. Ele estava oculto pela sombra, Rafa mal pôde enxergar sua expressão.

Ia dizer algo, mas ele se afastou abruptamente, antes que ela abrisse a boca.
Resolveu deixá-lo ir, o seguiria depois. Mas alguns momentos depois, Rafa ouviu gritos sufocados e choros. Se assustou e foi ver o que era. 
Quando chegou na cozinha, viu Felippe de pé, com a expressão dura e arrogante..e D. Dulce logo adiante, sentada, em meio à um choro ansioso.

- O que está acontecendo?- Rafa perguntou.
- Dulce não é mais bem vinda nesta casa. - Felippe murmurou algum tempo depois, impassível. - Eu a convidei para se retirar.
Rafa arregalou os olhos, olhando da chorosa senhora para o marido.

- O quê?
- Pode deixar, senhora.- D. Dulce murmurou humildemente.
- Mas é claro que não permitirei uma coisa dessas!- Rafaella se indignou, virando-se para Felippe. - Está maluco?
- Não se meta nisso, Rafaella Vargas. - Ele retrucou friamente.
- Me meto sim! - Ela respondeu. - Não vou deixar você fazer isto!
- Você não tem poder de deixar ou não alguma coisa. Eu mando aqui.
- Que eu saiba a casa também é minha! Ou não foi isso que me disse no primeiro dia em que entrei aqui?

Felippe soltou o ar, impaciente.

- Não é hora de joguinhos, Rafaella. Minha decisão está tomada.
- Só está mandando-a embora porque ela me contou sobre seu passado, não é?- Rafa acusou. - Quanta criancice, Felippe! Achei que você fosse um homem maduro.
- Cale-se, você não entende nada.
- Entendo muito bem! - Ela gritou. Depois soltou o ar, acalmando-se. - D. Dulce não teve culpa, por Deus, Felippe... - A morena pensou rápido. - Eu a obriguei a me contar!
- Ah, sim?- A expressão dele foi de pura ironia.
- Sim! Fiz chantagem com D. Dulce para que ela me contasse tudo! Ela ficou com medo e não teve saída... mas agora eu vejo que agi mal, devia presumir que você descontaria suas frustrações nela também.

Felippe bufou.

- Pode descontar tudo em mim, se quiser.- Rafaella sugeriu.- Mas deixe-a. D. Dulce não tem aonde ir se sair daqui.
- Isto não é problema meu.- Felippe gritou, sem olhar para D. Dulce nenhuma vez.- Ela se meteu com algo que não lhe dizia respeito, não tem mais minha confiança e por isso não a quero mais aqui.
- Pois se D. Dulce sair, eu saio também. - A morena disse, abraçando a mulher pelos ombros. D.
Dulce soluçava, balançando a cabeça para Rafaella de forma negativa.
- O quê?
- Isso que ouviu.- Rafa cerrou os olhos.- Se ela sair, eu vou junto. Afinal, nós duas estamos nesta história juntas.
- Você é minha esposa, não vai a lugar algum.- Ele disse com ferocidade.
- Pois se você insistir em mandar D. Dulce embora, você não poderá me impedir!

Os olhos de Felippe escaldaram de fúria por um momento.

- Isto não acaba aqui!- Disse ferozmente, se afastando em seguida e batendo a porta.
Rafa soltou o ar, aliviada. Dulce ergueu o rosto, lavado de lágrimas.

- S-Senhora...muito obrigada. Nem sei como agradecer.
- D. Dulce, imagine! Eu não poderia deixar ele te mandar embora...ainda mais porque a culpa disso
tudo no fundo é minha. - Rafa suspirou. - Mas não me arrependo.
Dulce acenou com a cabeça.

- Mas...não fique com mágoa de Felippe. - Rafa murmurou de forma hesitante. - Ele está nervoso com isso tudo. Você conhece o temperamento dele mais do que eu, tente entendê-lo.

D. Dulce deu de ombros com um sorriso.

- Claro, senhora. Eu o conheço bem, sei o quanto impulsivo é. Só que desta vez ele parecia tão
decidido a me mandar embora que fiquei assustada, não tenho para onde ir. Mas de qualquer forma eu não o culpo, sei que já sofreu muito. O conheço desde pequeno, por isso o compreendo.
Rafa sorriu, pegando a mão da mulher.

- Obrigada por ser tão compreensiva, D. Dulce.
A mulher enxugou o rosto, e logo deu um sorriso.

- Não quero parecer alcoviteira...mas a senhora não odeia mais o patrão como no início, verdade?

Rafa pigarreou, sem graça.
- Bem...
- Não precisa responder.- D. Dulce murmurou.- Nota-se que seu sentimento pelo senhor está
mudando... e eu fico muito feliz por ele ter ao lado uma mulher tão compreensiva e bondosa. É disso que ele precisa para se transformar, afinal de contas. Acho que a senhora é a esperança que falta na vida do senhor Felippe.
Rafa não soube o que responder, por isso apenas deu um leve sorriso.
* * *
No dia seguinte, Rafa resolveu fazer uma visita aos pais. Logo cedo,mesmo fazendo frio, se vestiu,
tomou um café rápido, e aproveitando que o marido não estava em casa pediu à um dos criados que a levassem.

Um Casamento forçado Where stories live. Discover now