A Chegada da Morte

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A emergência não demorou muito para chegar, Marcos acompanhara o irmão enquanto tentava desesperadamente informar a família do ocorrido, quando conseguiu entrar em contato com a mãe e lhe deu a notícia ela chorava tanto que ele podia ouvir os soluços dela do outro lado. Ouvira a voz de seu pai, parecia calmo e controlado mas conhece o pai bem o suficiente para saber que está tentando manter o controle das emoções uma vez que sua mãe já o perdeu.

Os pais de Pedro demoraram cerca de trinta minutos para chegarem ao hospital em que o rapaz estava, sua mãe havia tentado conter as lágrimas durante toda a viagem mas ao ver Marcos sentado na sala de espera com a cabeça entre as mãos, desabou, seus olhos lacrimejaram e um soluço saltou de sua garganta, seu marido se aproximou a envolvendo seu seus braços enquanto se aproximavam do filho que se levantou assim que notou a presença dos pais.

- Como ele está? - O homem pergunta encarando o filho.

Marcos olha da mãe para o pai e suspira profundamente, estava tão abalado quando a mãe mas tinha que ser forte por ela, embora seu pai já estivesse fazendo esse papel.

- Parece que cheguei na hora certa, eles o encaminharam direto quando chegamos, precisam fazer a lavagem gástrica com urgência - diz balançando a cabeça para os lados tentando apagar a imagem terrível do irmão perdendo a vida em seus braços.

- Eu... Eu não sei... se você não tivesse chegado ele teria... - a mulher soluçava tanto que mal conseguia falar e seu cheio desesperado impediu que terminasse o que queria dizer mas não era preciso, todos sabiam que se Marcos não tivesse a brilhante ideia de fazer uma surpresa a Pedro, ele estaria morto.

Embora eles estivessem desesperados, ainda estavam confiantes de que tudo ficaria bem, Marcos nunca acreditara em Deus mas naquele momento era capaz de fazer qualquer coisa para não perder o irmão.

- Deus do meu irmão, não deixe ele morrer - sussurra para si mesmo, não acreditava que algo fosse mudar mas se o Deus do irmão realmente existisse, tudo ficaria bem assim como a família esperava que ficasse.

Marcos liga para Ana para avisa-la, ela precisava saber, a menina era apaixonada em Pedro e ele tinha total certeza de que a notícia a abalaria tanto quanto abalou toda a família.

Horas e mais horas sem que eles tivessem alguma notícia, sentados naquela sala de espera fria e vozes sussurrando ou chorando baixinho, o que era ainda mais atormentador. Ana havia chegado com a família a algumas horas atrás, eles ficaram por um tempo mas decidiram procurar um hotel para descansar, não tinham família na cidade para ficarem em suas casas, assim como a família de Pedro também não e embora tivesse a casa dele, ninguém queria ficar lá, os pais de Ana insistiram para que ela também fosse mas ela disse que não redaria os pés do hospital até ter notícia, então eles a deixaram.

Quando o médico entrou na sala de espera chamando pela família de Pedro, houve-se um silêncio ensurdecedor, todas as respirações foram presas e os batimentos pareciam acelerar a cada vez mais que o médico demorava para dar a notícia que necessitavam.

- A radiografia mostrou que o veneno foi o chumbo, fizemos a descontaminação com o objetivo de diminuir a absorção e aumentar a eliminação, no entanto, ele entrou em coma devido ao efeito do veneno, só nos resta esperar alguma reação - O médico disse por fim os olhando, ele tentava passar confiança mas estava falhando.

Após a notícia Ana chorou encolhida no canto enquanto sua mãe chorava nos braços do pai, Marcos se aproximou da garota e abraçou dizendo que tudo ficaria bem, ele queria acreditar que sim, precisava acreditar.

Os dias foram se passando lentamente e Pedro não dava nenhuma resposta, o aperto no peito da família era imenso e Ana parecia tão abalada quanto todos eles, chorava dizendo que ele não merecia isso, que ele não deveria ter feito isso, dizia desesperadamente que ele era o refúgio dela mesmo estando tão longe, era nele que ela pensava sempre que queria morrer e acabava tendo forças para viver.

Marcos se sentia vazio, ver a mãe e Ana chorar doia mas lembrar o motivo pelo choro estraçalhava com o peito dele, era um dor sufocante.

A dois dias atrás o chefe de Pedro ligou tentando falar com ele mas quando Marcos contou o que havia acontecido, ele pareceu em choque quase como se tivesse culpa pelo que acontecera. Marcos não tinha ideia do que tinha acontecido para levar o irmão a fazer aquilo mas tinha quase certeza que era relacionado ao trabalho.

Havia três semanas que Pedro estava em coma e não reagira em momento algum, talvez a esperança estivesse morrendo, sendo consumida pela dor da perda mas Marcos se recusava a aceitar até o médico chamar a família.

- Estive acompanhando Pedro desde quando ele chegou aqui e até hoje não tivemos resultados, não irei engana-los, o rapaz ainda sendo mantido pelos aparelhos e assim que desligados ele virá a obto - O médico diz fazendo uma onda de pavor inundar a sala dele.

- O que isso quer dizer? - Ana pergunta em um sussurro.

- Quer dizer que ele só está vivo porque os aparelhos estão agindo por ele, sinto muito - era doloroso ouvir aquilo, o médico não queria dar aquela notícia se podia ver isso nos olhos dele.

O silêncio se instalou a não ser pelo choro das mulheres, lágrimas escorreram pelo rosto dos dois homens, pai e filho, que tentavam ser forte, o médico respeitou o momento deles até quebrar o silêncio.

- Está na mão de vocês, é uma decisão difícil mas não há nada que possamos fazer por ele agora - ele diz encarando-os.

Se eles ainda tinham alguma esperança, agora ela já não existe mais, se foi com a notícia que receberam logo pela manhã. Pedro ainda era muito jovem para o fim tão trágico, o mundo não perdera somente mais um jovem, perdera um filho, um irmão e um amigo. Um rapaz bom demais para que pudessem acreditar no que tinha feito mas agora, de frente para o corpo sem vida dele que funciova com os aparelhos a ficha começava a cair, eles o perderam e definitivamente.

Olhos Vendados - Uma Chama de Esperança Onde histórias criam vida. Descubra agora