Um Rapaz de Deus

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O dia havia sido corrido, sua beleza não chegou a ser admirada e logo agora que a noite começava a cair o céu estava nublado, nenhuma estrela estaria a vista, a lua seria incapaz de ver. A chuva já começava cair, em um primeiro momento devagar, com doces e calmos pingos e mais tarde já não se ouvia outra coisa a não ser o barulho estrondoso que se fazia lá fora.

Pedro se aproximou da janela do pequeno apartamento que dividia com o irmão e observou a chuva cair e escorrer pela vidraça, ouvindo a ventania e apreciando as maravilhas que Deus criara.

Para muitos aquele era um dia de azar, um dia do qual teriam que ficarem presos em casa e deixarem de curtir uma boa festa em qualquer balada da enorme cidade.

Mas para Pedro, não havia nada mais maravilhoso que ver a chuva cair, que ouvir o som das águas, e sentir o vento frio batendo na pele. Se podia ver de longe que o Rapaz era muito diferente de seu irmão, Marcos adorava praia, sol, calor; quando pequenos costumavam dizer que ele era um menino quente; Pedro talvez fosse o menino frio mas ninguém nunca lhe disse nada sobre isso. Pelo contrário, apesar de preferir o tempo frio ele era bastante caloroso, sempre conquistou a todos com seu carisma, tinha muitos amigos e era um conquistador nato, não que fosse a intenção do rapaz sair por ai conquistando corações, apenas acontecia o que as vezes o deixava bastante constrangido.

E o motivo do constrangimento já era de se esperar, em grande parte das vezes, a conquistada era uma de suas melhores amigas, para Pedro talvez fosse difícil lidar com aquilo. Seu irmão muitas vezes riu e em tom brincalhão o chamou de frouxa, porém Pedro nunca se importou, sua atenção era dividida entre a família, o Colégio e o principal, Deus.

Pedro era um rapaz de Deus, um rapaz que acreditava na bíblia, que depositava sua confiança no altíssimo, um jovem tão sábio, tão cheio de fé.

A porta do pequeno apartamento se abre com um rangido, Pedro não se mexe, não se vira, apenas continua na mesma posição desde o momento em que se aproximara da janela para ver como estava a chuva do lado de fora.

- O que faz ai Pedro ? - a voz grave de seu irmão soa pela local.

- Vendo a chuva cair - responde simples e calmo.

- Eu trouxe biscoitos - se encaminha para a cozinha logo sendo seguido por Pedro que pega a cafeteira e serve a si mesmo e ao irmão.

Marcos se senta à mesa de forma relaxada pegando um biscoito e dando um Primeiro gole em seu café, sem tirar os olhos do irmão, que também se senta dando uma mordida em seu biscoito e franzindo a testa quando percebe o olhar constante sobre ele.

- O que foi ? - perguntou o jovem.

Marcos se manteve em silêncio por mais um tempo e depois sorriu.

- Ana me procurou - Pedro o olha interrogativo e ele completa - Queria saber de você.

- Saber o quê ?

- Saber como estava ora essa, você sabe muito bem que a garota gosta de você - Marcos revira os olhos

- Marcos, você sabe, Ana é uma moça que gosta de festas, bebidas, cigarro... - Pedro já gostara de Ana mas isso foi a muito tempo atrás, antes dela o deixar por coisas e pessoas novas, com o tempo o sentimento morreu mas o carinho por ela ainda continuou.

- Idai ? Ela é gata e interessante - responde dando de ombros.

- Idai que não tem nada a ver comigo, onde já se viu, Luz e Trevas? Ou a Luz brilhará dissipando as trevas, ou no pior dos casos as trevas apagarão a luz. Neste caso meu irmão, a segunda opção é a que prevalece, prefiro não dar a ela esperanças. - sorri tomando um gole de seu café amargo.

- Já vem com esse papo de menino de Deus é? Você é um saco.

Pedro ouve as palavras do irmão em silêncio, abaixa a cabeça e olha seu café, respira fundo e então volta a olhar o irmão que não tirara os olhos dele.

- Nunca questionei seus motivos por não acreditar em Deus; mas peço que respeite a minha crença.

Os olhos do irmão de arregalam levemente, ele nunca havia dito ao irmão que não acreditava em Deus, porém agora sabia que não era preciso, o irmão já estava ciente, suas atitudes nunca foram escondidas e por mais que não o fizesse em palavras, o fazia em atitudes.

Pedro sabia que era o único na sua família que verdadeiramente acreditava em Cristo, seu irmão se dizia ser ateu assim como o pai, e a mãe não sabia bem dizer no que acreditava, as vezes dizia acreditar em Deus e as vezes dizia não crer.

Ele nunca questionou o motivo da família, nunca se interessou, ele sabia que através dele, através das orações dele, Deus cuidaria dos seus.

Ana um dia foi a melhor amiga de Pedro, já foi algumas vezes com ele a igreja aos domingos, porém com o tempo ela se afastou, queria algo novo, experimentar coisas novas, conhecer pessoas novas. Pessoas que sabiam "curtir" a vida e não somente pessoas que iam a igreja em momentos que poderiam estar dançando e bebendo em uma festa qualquer, amanhecendo em casas desconhecidas com pessoas desconhecidas. E isso foi uma das coisas que o jovem nunca quis, apesar de tão novo sabia muito bem que as escolhas eram dele, cabia a ele decidir o caminho que queria, e ele não poderia escolher outro caminho além do caminho que levasse a salvação.

Ela acabou se perdendo, esquecendo- se que um dia havia ido a Alguma igreja, esquecendo- se que um dia havia conhecido Pedro, uma pessoa que estaria ao lado dela sempre que a mesma precisasse. E um dia, em uma sexta-feira quando Pedro estava voltando da igreja, com sua bíblia em baixo do braço, cantarolando uma canção que dizia:

"O inimigo luta pra você deixar a Cruz, sem ela ele sabe que você negou Jesus, o peso da tribulação não pra comparar com o peso da Glória que o céu vai revelar..."

Ana aparece o fazendo parar, precisa de ajuda, se encontrava em um estado do qual ele nunca havia visto, ele não imaginava que ela estaria naquela situação quando se foi dizendo precisar de coisas novas. Ao olhar nos olhos dele lágrimas escorreram pelo rosto da jovem e Pedro se aproximou a abraçando, as lágrimas dela molhavam a camisa dele e o aperto dela amarrotava, porém ele não ligava para aquilo, então susurrrando a ela um "Jesus te ama" viu o choro dela se tornar incontrolável, seus soluços eram tão altos, e ele podia sentir o aperto que o ela sentia no coração, o vazio que sua alma sentia.

Pedro a levou para sua casa naquele dia, ela tomou um banho tirando o cheiro de bebida e cigarro, enquanto ele colocava as roupas que ela antes vestia para lavar, pegando uma bermuda de jogador e uma camisa dele e colocando sobre a cama para que ela se vestisse, e quando ela saiu do banheiro enrolada na toalha com os cabelos pingando e viu as roupas dele sobre a cama, seu olhos se encheram de lágrimas novamente, ela se perguntava como ele podia ser tão bom com ela, mesmo ela tendo partido em busca de coisas novas, tendo o deixado para trás, então ela pegou as roupas e se vestiu.

Ele apareceu na porta do quarto algum tempo depois e se encostou no batente da porta olhando-a sentada sobre a cama, ela olhava para as mãos. E dizendo a ela que poderia dormir no quarto dele aquela noite ela se deitou e adormeceu, ele se aproximou e a cobriu pedindo a Deus que cuidasse dela e se afastou saindo do quarto logo em seguida.

Pedro chorou naquela noite, chorou por ver Alguém que um dia já fora tão importante para ele naquele estado, chorou por saber o quão vazia ela estava, ao olhar para ela ele podia sentir a solidão e a dor que ela sentia, ele queria ajudá-la mas era algo que iria depender somente dela, então ele orou agradecendo a Deus e se deitou no sofá adormecendo.

No dia seguinte Ana foi embora sem
dizer nada, Pedro acordou com o barulho da porta se abrindo e ao se sentar olhou e a viu parada em frente a porta aberta, ela já vestia a mesma roupa com qual chegara ontem, porém agora limpa, segurava a maçaneta da porta; ela o olhou por um breve momento e saiu sem nada dizer.

Olhos Vendados - Uma Chama de Esperança Where stories live. Discover now