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Lembro de quando entrei na pré-escola. Boa parte das crianças descobrem seus dons antes da escola, mas não acontecia com todo mundo. Não aconteceu comigo.

As crianças que já conheciam os seus dons eram malvadas com quem não sabia. Eram malvadas comigo.

Na pré-escola é quando começamos a nos controlar e a desenvolver as habilidades.

Éramos colocados em classes pela nossa habilidade. As pessoas que criavam fogo ficavam com as que criavam fogo, as da água com água, telepatas com telepatas e os que tinham telecinese com os dos seus.

Os que ainda não tinha suas habilidades eram colocados juntos, até que o dom manifestasse.

A sala dos que ainda não tinha habilidades era horrível. A pintura descascava e éramos obrigados a passar longos minutos fazendo várias coisas sem sentido para que os ensinadores tivessem noção do que dominariamos.
  Éramos poucos na minha classe. Cerca de quinze crianças. E aos poucos elas iam se manifestando e indo para outras classes. Sobraram doze. Dez. Sete. Quatro. Duas. Uma. Eu.

Se passaram quatorze meses. Eu era a única da escola sem habilidade. As crianças sussurravam quando eu passava no corredor. Roubavam meu lanche, me chutavam e batiam minha cabeça na parede. Os aquáticos tentaram me afogar na fonte, os incendiários criavam fogo em minhas roupas, não o bastante para causar queimaduras graves, só o bastante para queimar minhas roupas e deixar a pele vermelha. Os telecinéticos jogavam pedrinhas em mim durante todo o caminho até a escola. Até que acabou a pré-escola e fomos para a escola de verdade. Onde iríamos começar a aprender as coisas de verdade. Eu ainda não tinha habilidades. O inferno estava para começar.

ANOMALIAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora