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Toco cada canto das paredes pela terceira vez naquele dia. Ou noite. Não posso saber. A janela é encantada, e não reflete o lado de fora e sim o meu reflexo quando chego perto demais. Eu não chego perto demais. Não mais.

Observo as minhas unhas, que já foram lixadas e certinhas, cada uma delas quebradas e sujas, com o esmalte escuro que quase não existe mais.

Não há nada para fazer, a não ser procurar um jeito de escapar. Mas já fiz isso incontáveis vezes e não há escapatória. Perdi as contas de quanto tempo estou aqui. Disseram que seria alguns dias, mas, para variar, mentiram. Faz meses.

O quarto treme e me apego a falsa esperança que estou sendo libertada. Mas não. Uma bandeja de materializa no canto escuro do quarto e sei que é hora da comida. Duas vezes ao dia. Essa é a primeira.

Pego a bandeja e vejo o que tenho hoje. Um pedaço de pão mofado, uma mistura que deveria ser sopa, mas tem a aparência de água suja misturada com tomate podre e cenouras, e uma garrafa de água. Pelo menos a água parece limpa e potável, mas aprendi a não confiar no que vejo.

Pego o pão e a água e me afasto do resto. Vejo um pequeno camundongo ir até a sopa. De onde ele veio?
Observo ele mergulhar a fuça na sopa e começar a se contorcer. Sua boca estava espumando e o coitado estava tendo convulsões. Observei aterrorizada o pequeno bichinho se contorcer até que parou. E não se mexeu mais. E nunca mais vai.

Estava envenenada. A sopa estava envenenada e provavelmente a água e o pão estavam também.

Eles vão me matar.

Procuro freneticamente o buraco por onde o camundongo passou. Se eu conseguir achar por onde ele veio eu posso....

Bem, parece que há um pouco de esperança.

ANOMALIAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora