Caio olhou para ele e sorriu.

— Eu sei.

— Agora eu acho melhor a gente ir para casa porque já está tarde e eu tenho que terminar o trabalho de Climatologia.

— Não, está tão bom aqui.

Rafael levantou.

— Eu sei, mas é preciso. - Pegou a mão de Caio e o puxou, mas ele permaneceu deitado. – Vamos que a gente pede uma pizza para comer enquanto eu faço o trabalho.

— Você disse pizza? – disse Caio se levantando.

***

No exato momento em que a aula acabou, Lili entrou na sala. Havia ido ao banheiro.

— Caio, teu crush está ali fora te esperando. – disse ela.

— Shiii. Fala baixo.

— Por que? Ninguém está prestando atenção na gente. E ele está muito longe para ouvir.

— Mesmo assim.

— Eu já te disse umas mil vezes que você devia contar para ele. Na verdade, eu não sei como é que você aguenta ficar com ele o dia todo, às vezes até dormir com ele, e não falar.

— Por isso mesmo. Se eu falasse eu perderia tudo isso. Eu perderia ele. Eu prefiro ficar com ele só como amigo do que imaginar uma vida sem ele por perto.

— Ok. Você que sabe. Aquela proposta da serenata ainda está de pé, tá. Agora vamos logo que eu estou com pena do coitado sozinho lá fora. Vamos.

Saíram da sala e encontraram Rafael esperando escorado na moto.

— Não é verdade, Rafa? – perguntou Lili.

— O quê?

— O Caio é muito lesado?

— Um pouco. Mas o que foi que ele fez, ou não fez, agora?

— Ele não tem coragem de tomar uma atitude. É muito lerdo.

Rafael riu e disse:

— Eu estou boiando totalmente nessa conversa.

— Porque também é lesado, ou então saberia do que eu estou falando. – passou por Rafael. – Tchau, lesados. E vê se abre o olho, Rafael.

Caio lhe lançou um olhar que dizia "Eu vou te matar, Lili!", mas ela simplesmente se afastou e foi embora.

— Do que ela está falando?

— Se preocupa não. Ela cheirou muito formol no laboratório, não está bem da cabeça.

— Então tá. Vamos.

Subiram na moto e foram para casa. Caio ficou pensando no que Lili havia falado. Será que ele deveria contar de uma vez? Lembrou das muitas vezes que tanto Amanda como Lili o aconselharam a abrir o jogo. Será?...

— Você está tão calado. Aconteceu alguma coisa? – perguntou Rafael ao descerem da moto.

— Não aconteceu nada. Eu só estou com dor de cabeça.

— Então acho que é melhor eu ir para casa, para você descansar. Depois a gente se fala. Tchau! – e foi em direção ao amigo para abraçá-lo.

Aproximaram-se os dois ao mesmo tempo, o que fez com que quase se esbarrassem. Pararam muito próximos um do outro. Caio conseguia sentir o calor do corpo de Rafael, o hálito no seu rosto, a boca tão próxima da sua... tão perto... sentiu uma vontade enorme de beijá-la... uma vontade irresistível... então se inclinou um pouco para frente e o beijou.

Não pensou no que estava fazendo, apenas se entregou à vontade de beijar aquela boca que tanto desejava. Era tão macia, tão doce... exatamente como ele havia imaginado.

Não sabia se a não reação de Rafael se devia ao fato de estar muito assustado, ou se ele simplesmente aceitou o seu beijo. Até que Rafael o pegou pelos ombros e o afastou. Ficou olhando para ele por um tempo com o rosto confuso.

— O que foi isso, Caio?

— Um beijo.

— Disso eu sei, mas porque você me beijou?

Caio baixou os olhos. Essa era a hora certa para falar, dizer que o amava, dizer tudo que ele estava segurando, mas ele simplesmente disse:

— Eu não sei, desculpa.

Rafael o soltou.

— É melhor eu ir para casa, acho que o formol mexeu com a tua cabeça também. Vai dormir e vamos esquecer isso, ok?

Então foi embora, deixando Caio com um turbilhão de sentimentos no peito.    

No teu abraçoOnde histórias criam vida. Descubra agora