Caixa

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—Quanto que deu Meri?

—20,34 senhora Macklamore.

—ah, vejamos... quanto eu tenho aqui...

Tenho certeza que ela vai me pagar tudo em moeda, até os últimos centavos, conheço a senhora Macklamore desde que eu tinha três anos de idade, ela sempre vem as sextas e quartas, e ela também só paga com moeda, a fila do caixa preferencial é um tédio, mas é muito melhor do que ficar nos caixas comuns, se bem que por aqui...

—ora veja, tenho moedas.

Eu sei que ela esquece mas não deixa de ser engraçado o fato de ela sempre fazer essa cara de surpresa quando acha o saco de moedas dentro da bolsa, acho que ela tem essa bolsa a uns cinquenta anos, já até perdeu a cor, mas simpatizo da senhora Macklamore, ela ao menos é educada e sempre foi muito gentil comigo, apesar de curiosa.

—e como vai o Pablinho querida?

—vai bem—começo a contar as moedas quando ela vai colocando as pequenas pilas de dez centavos—e o nome dele é Kael.

Pablinho não, mas parece que esse nome nos persegue, me persegue na verdade.

—você vai acabar voltando com ele filha, faça oração, Deus irá te devolver o pai do seu filho.

Eu não te desejava nenhum mal... até agora.

—ta senhora Macklamore, obrigada.

Não entendo porque as pessoas dessa cidade pensam que eu preciso que o Pablo volte pra minha vida, eu e ele não demos certo, ele decidiu ir embora e fim, eu vivo meu final feliz para sempre com o meu filho, também não compreendo porque acham que eu necessito dele, afinal, apesar de tudo me sustento sozinha, então... tecnicamente não, obrigada.

Ajudo ela a empacotar as poucas compras, coloco as sacolas em seu carrinho e me despeço com um aceno, eu sei que ninguém faz por mal e poucas vezes consigo me irritar com o assunto mas é muito chato ficar ouvindo sempre e sempre a mesma coisa.

Pablo vai voltar pra você Merida.

Pablo vai perceber o erro que cometeu e vai voltar.

Pablo e vocês tem que ficar juntos pelo bem do Pablinho.

Nem de Kael eles chamam meu filho!

Acho que é porque de fato Pablo era um membro presente na comunidade, ele também era um homem super gente fina e popular, desses que todo mundo gosta, mas um fato bem curioso é que ninguém nunca me perguntou quem era Pablo de verdade.

Eu sei muito bem quem ele é de verdade e não, não quero que ele volte, tão pouco que perceba nada nem ter que ficar com ele pro "bem" do Kael, só eu sei o que eu sofri ao chegar em casa de um dia de trabalho e encontrar a casa vazia, minhas coisas jogadas no chão do quarto, sem aviso prévio ou acordo algum.

Pablo Morreu pra mim quando decidiu ir embora Assim como aquele outro.

Eu não sei o que acontece comigo, parece um carma, todos os homens da minha vida vão embora sem avisar, eu não sei como papai não fez isso ainda.

Meu turno acabou, hora de pegar o Kael na escolinha e ir pra casa.

Fecho o caixa e retiro o dinheiro, e coloco no malote, aguardo Jenkins e ele vem, me acompanha até o cofre, não tem muito movimento hoje mas é acordado então...

—já vai belezura?

—sim Jenkins.

—manda um abraço pro Pablinho.

—ok.

Entro no cofre e confiro meus valores com Fifi, me pergunto se sempre irão ficar se referindo ao Kael dessa forma, apesar de tudo espero que não.




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Borralheira * DEGUSTAÇÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora