único: é como comer bolo

12.1K 1.1K 3.4K
                                    

Acompanhei com os olhos o carro de corrida que ultrapassava o da frente no Need For Speed que eu estava jogando. Era um dos melhores modelos do jogo, mas parecia não ser muita coisa se comparado ao Lamborghini que me fechou e, colidindo na lateral, fez com que o meu BMW fosse arremessado para a contramão, onde bateu de frente com outro veículo que vinha.

— Caramba, hyung! — choraminguei ao ver o capô completamente ferrado do meu carro. O motorista causador daquilo riu ao ver a minha decepção quando constatei que já tinha perdido a corrida.

— Fala de novo, Nam. — Jin me lançou um olhar de canto, ainda manobrando seu carrão azul pela via movimentada. — Repete que é melhor que eu.

Não me dei ao trabalho de responder. Para a informação dele, eu era, sim, melhor, só não estava em uma boa partida. Não era minha culpa se o monstro sobre rodas dele tinha agido estrategicamente para, ao invés de tentar ganhar a competição, me tirar da jogada. O danado estava ciente de que eu ganharia se as coisas continuassem como estavam.

— Não quero mais. — Cruzei os braços e desviei o olhar da televisão, onde ele cruzava a linha de chegada em primeiro lugar. Que palhaçada!

Seokjin revirou os olhos. Ele sabia que eu odiava quando coisas assim aconteciam, mas não se importava em causá-las. Grande sem coração, não é?

— É só um jogo, você vai superar — teve a coragem de rir da minha expressão nada boa. Vendo que eu não reagiria, soltou o seu controle ao lado do meu no chão e ergueu as mãos, simulando garras com os dedos. — Ou prefere que eu te faça superar?

Ah não. Não, não, não. Mal pude reagir antes de sentir os seus dedos apertando a minha barriga, me ocasionando risadas altas e fortes.

— Je-Jesus! — exclamei, tentando me livrar daquele garoto. Não surtiu efeito, pois ele apenas riu do meu estado e intensificou os apertos, soltando um "Esqueceu o meu nome, Nam?" debochado.

Era sempre assim. Mesmo que tentasse, eu nunca conseguia ficar chateado ou bravo perto dele.

Seokjin e eu tínhamos uma boa história. Nos conhecíamos desde o início do ensino fundamental, quando, por ser meio desastrado, eu quebrei o meu lápis de escrever e ele me deu um que tinha e não usava. Parece que estudávamos juntos desde a primeira série, mas foi apenas na terceira que ele foi colocado pela professora na carteira atrás da minha. Depois disso, só levou duas metades de um lápis para conversarmos pela primeira vez e repetirmos no dia seguinte, quando eu lhe dei uma lapiseira bonita do Batman que tinha em casa e não usava por ter problemas com o grafite.

Com aquilo, passamos a nos falar todos os dias, contato que só se intensificou quando ele demonstrou ter o mesmo gosto que eu para jogos e super-heróis. Não tardou muito para aquela amizade deixar de ser apenas uma coisa entre colegas e passarmos a frequentar a casa um do outro, e isso foi como apertar um gatilho para o que tínhamos se tornar especial. Eu não era bom fazendo amigos, o máximo que tinha era colegas que interagiam comigo no dia do brinquedo, e achar alguém como Jin que pensava como eu tinha sido algo muito bom. Logo nos víamos como melhores amigos.

Teve apenas uma época em que parecia que tudo aquilo estava prestes a acabar, e essa foi o começo da adolescência. Seokjin tinha se fechado, isolado-se em seu canto e mal falava comigo, fosse na escola ou quando eu ligava para o telefone da sua casa. Desviava o assunto, dizia que estava ocupado e desligava — isso quando atendia a chamada, o que se tornava algo raro com o passar dos dias. Aquele mês foi o pior da nossa história juntos para nós dois, quando eu quase o perdi, mas, como se nada houvesse acontecido, de uma hora para a outra ele voltou a se dirigir a mim e frequentar a minha casa. Não parecia que tinha passado tanto tempo afastado, estava o mesmo de antes, mas eu via que algo estava diferente, pois nos tornamos ainda mais unidos depois do incidente. Jin ainda era o meu suporte, assim como eu o dele, mesmo que se recusasse a falar sobre o que havia acontecido naquele mês. Minha mãe me disse que devia ser algo relacionado aos pais, já que a situação entre ambos não andava boa, e eu aceitei aquilo. Meu amigo não iria falar, eu não o pressionaria.

como é beijar um homem? × sj+njWhere stories live. Discover now