85 - CHARLES

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  Uma respiração ofegante vinha do banheiro. Um som assustador, de medo, desesperador. Era de um homem que demonstrava ter feito algo, escondia alguma coisa. Pelo banheiro, andava desvairado, tremendo, encostava na parede e esmurrava com força. 

A porta estava fechada. Tinha receio em abri-la. Suas mãos queriam tocar na maçaneta, mas o temor revestia a sua volta, não tinha controle de suas emoções. 

— Me ajuda... — sussurrou, suando frio. 

Cada passo perto da porta, o coração batia mais forte, acelerado. Ergueu a cabeça, respirou fundo e abriu. Esperou um tempo a sair, e quando finalmente observou a sala, não acreditava no que via; voltou para o banheiro, alucinado. 

Na frente do espelho, algo estava errado. Suas mãos estavam sujas de sangue, sua roupa encharcada, como quem acabara de cometer um assassinato. Ele estranhou ao olhar em seu corpo que estava limpo, era só um flashback.

 Vozes vinham lá de fora, avisando a central pelo rádio. Carros encostavam de modo brusco, e as sirenes iluminavam através do vidro, que refletia no seu rosto suado. Apavorado, correu até a janela do sexto andar e se surpreendeu com o que viu; policiais em frente ao prédio. 

— O que está acontecendo... eu não fiz isso! 

O local estava cercado. Já não havia mais saída, teria que encarar as consequências. Criou coragem e foi para sala. Estava confuso, atormentado, caminhava pelo cômodo em passos lentos. Num vacilo, tropeçou e caiu no chão, de cara com um homem que o encarava friamente, sem piscar os olhos, estava morto. A sua volta, haviam três corpos esquartejados, espalhados por todos os cantos. 

— Aqui é a polícia! Saia com as mãos na cabeça! 

O policial avisou com o megafone e depois de alguns minutos, ninguém se rendeu, logo, invadiram o edifício. Ele precisava agir rápido, tinha que pensar numa solução, ou se entregar e explicar que não era o culpado pela chacina. Diante de tanta confusão, não deu tempo, eles já estavam no primeiro andar. 

No corredor, outra grave surpresa; mais corpos dispersados. Sua visão começou a embaçar, sua cabeça girava, e o fim do corredor era infinito. Havia tanto sangue derramado, que movia-se beirando a parede. Queria chegar no elevador, mas era impossível pela quantidade de cadáveres jogados à frente. 

O cenário já revelava o terror marcado pela violência gratuita. Estava exposto aos olhos dele, que rezava para ser um pesadelo, mas era real. Já começou a imaginar o tamanho da proporção monstruosa; o hall inteiro estava manchado pelo ódio de um crime cruel, sem exceções. Alguns metros, os policiais apontavam as armas, preparados para puxarem o gatilho.

 — Não se mova! — avisou um deles. 

Ao ajoelhar bem devagar, o inesperado, caiu a energia. A escuridão dificultou a abordagem deles, que já não via mais nada, nem com as lanternas. Vasculharam por toda parte e num descuido, houve-se tiros e gritos, ecoando pelo local. Um minuto de silêncio. Foi exatamente isso para recompor o estrago. As luzes do corredor oscilavam e mostrava um palco aterrorizante. Todos assassinados. 

— Alguém me ajuda! Socorro! 

Ele gritava pelo corredor, enquanto caminhava desequilibrado. De volta ao seu apartamento, tentou usar o telefone, mas estava mudo. No banheiro, encarou o espelho, desconfiado. Ao se aproximar, ficou espantado com o que viu; sua imagem não refletida. 

— Olá, Charles... — disse o seu reflexo, na porta do banheiro.  


  Autor: Dan M.   

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