11 - A Casa Abandonada

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Já deveria ser umas dez horas quando nosso carro parou de funcionar. Estávamos eu e meu irmão voltando das melhores férias de nossas vidas nas lindas praias do litoral carioca. Porém, agora, por maldade do destino estávamos parados no meio da estrada. Depois de tentar por mais ou menos uma hora fazer o nosso carro pegar, nós decidimos procurar uma casa ou alguma pessoa, o que parecia ser difícil naquela estrada deserta. Pegamos nossas lanternas e fomos. Apesar de sombria, a estrada ficava perto de uma cidade, por isso tínhamos a esperança de encontrar ajuda por perto. Era uma noite escura e mais fria que o normal para a época do ano. Nos dois lados da estrada a vegetação era densa. Andamos mais um pouco e a vegetação não parecia mudar. Lembro-me de dizer a ele, que não encontraríamos nada, portanto, deveríamos voltar ao carro. Mas, de repente do lado direito surgi uma casa enorme. Ela parecia ter sido abandonada a muito tempo: as janelas estavam quebradas, a porta sem maçaneta e a tranca atirada ao chão. Mesmo não sendo um lugar aconchegante para passar a noite e até mesmo um pouco assustador, não deixava nosso espirito aventureiro, de homens no auge da adolescência, em paz. Entramos, logo vimos um grande salão, nele só havia uma enorme mesa de janta e um belíssimo piano maltratado pelo tempo. Ambos pareciam não ser usados a muito tempo. Mesmo com sua beleza, o salão não deixava de ser um pouco medonho. Na parede oposta a entrada havia três portas, todas feitas de madeira escura com maçanetas prateadas que, estranhamente, quando eu apontei minha lanterna brilharam com uma luminosidade de maçanetas polidas recentemente. Porém, naquele tempo eu não sabia disso, então, não estranhei. Abrimos a primeira porta da direita para esquerda e estranhamente um vento forte frio e sombrio saio lá de dentro. Eu hesitei em entrar, mas meu irmão me puxou para dentro. Nos deparamos com uma biblioteca gigantesca, o ambiente era tão escuro quanto o da sala, mas, assustadoramente mais frio, as estantes ocupavam todas as paredes e os livros eram antigos com cheiro de mofo. De repente, ouvimos um barulho interrompendo o silêncio mortífero da casa, olhei para todos os lados tentando encontrar a sua fonte. Até que, finalmente, avistei um livro caído no chão, atrás de meu irmão. Ele pegou o livro. Como todos os outros era antigo e cheirava a mofo. Ele tinha uma capa amarronzada e seu título estava escrito em letras douradas: " Guia para se livrar de ladrões e visitas indesejadas". Quando terminei de ler o título gelei, não poderia ser coincidência, logo este livro no meio de centenas cair. Era um sinal! Alguma coisa queria nos expulsar.Tentei falar isso ao meu irmão, porém nenhuma palavra saio da minha boca. Vi pela expressão dele que estava com medo, seu rosto estava assustado. No entanto, ele nunca teria me dito isso, pois eu era o irmão mais novo, e em toda nossa vida ele era visto como corajoso e eu como medroso. Por isso, mesmo estando com medo ele me falou em um tom decidido, porém com uma pontinha de medo, para explorarmos o próximo cômodo. Fomos, lentamente, em silencio, até à saída, assim que saímos a porta se fechou atrás de nós com uma grande força, porém sem fazer barulho algum. Eu levei um susto tão grande que dei um salto para frente, mas logo meu irmão me arrastou pera frente da segunda porta, nós a abrimos. Nós nos deparamos com uma cozinha tão escura quanto os outros cômodos, porém, estranhamente, muito mais fria e um pouco mais medonha, pois havia um cheiro de carne crua. Dentro da cozinha tinha: uma grande pia de mármore já, desgastada pelo o tempo, mas, ainda, assim bela: um dos mais velhos fogões a gás que já vi. No outro extremo do cômodo existia um par de correntes velhas e enferrujadas. Fiquei congelado em um canto. Meu irmão foi até o velho fogão, depois de ficar uma eternidade o observando, de uma ponta a outra, foi até a pia e a observou, pelo mesmo tempo, com o mesmo olhar de curiosidade e medo. Por último, foi, lentamente, com um certo receio, até as correntes. Nesta hora eu tremi, o medo foi tão forte, que não me lembro de sentir tanto medo em toda minha vida. Quando ele ficou a um passo das correntes, elas começaram a se mexer e uma ponta foi à direção de sua perna. Ele conseguiu fugir correndo com toda sua energia para fora da casa. Eu fui logo atrás dele. O medo nos consumiu por dentro, sendo a única coisa capaz de derrotar a curiosidade do meu irmão. Quando passei pela porta principal vi gravados na parede dois números que não estavam lá quando chegamos: 19 e 22. Voltamos ao carro que, estranhamente, agora estava funcionando e continuamos nossa viagem. Meu irmão morreu no seu aniversário de 19 anos, em um estranho acidente de ônibus do qual ele foi a única vítima. Amanhã, eu faço 22 anos e com certeza não fugirei do destino. A sorte nunca bate na mesma porta duas vezes.

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