— E qual dessas duas explicações você acha que cabe à minha modéstia, neste caso?

— A maneira indireta de se gabar. Na realidade você se orgulha realmente das suas deficiências no escrever, porque considera que esses defeitos procedem de uma rapidez de pensamento e descuido na execução, coisas que você acha, se não estimáveis, pelo menos altamente interessantes. A capacidade de fazer as coisas rapidamente é sempre muito apreciada pelo possuidor, que frequentemente não repara nas imperfeições da execução. Quando você disse a Mrs. Bennet esta manhã que se algum dia resolvesse deixar Netherfield partiria em cinco minutos, estava fazendo uma espécie de panegírico ou de elogio a si mesmo. E no entanto, não há nada muito louvável numa precipitação que acarretaria, forçosamente, a necessidade de deixar coisas importantes inacabadas, e não pode trazer nenhuma vantagem real, nem para você próprio, nem para ninguém mais.

— Isto é demais — respondeu Bingley —; lembrar-se, de noite, de todas as tolices que eu disse de manhã! No entanto dou-lhe a minha palavra de que falei sinceramente e de que ainda neste momento acredito no que lhe disse. Pelo menos, portanto, eu não me atribuí esse traço de precipitação inútil apenas para me gabar diante das senhoras.

— Acredito na sua sinceridade; mas não estou absolutamente convencido de que se resolveria a partir com tanta rapidez. Sua conduta estaria tão à mercê do acaso como a de qualquer outro homem; e se no momento, no instante de montar a cavalo, um amigo lhe dissesse: "Bingley , é melhor você ficar até a próxima semana", você aceitaria imediatamente o conselho. E se lhe fizessem outra sugestão, ficaria provavelmente um mês.

— Com isto apenas prova que Mr. Bingley não fez justiça ao seu próprio caráter. O senhor o pintou com muito mais exatidão do que ele próprio.

— Sinto-me extremamente grato — disse Bingley — pela sua maneira de converter o que o meu amigo disse num elogio à doçura do meu gênio, mas creio

que está atribuindo àquele senhor uma intenção que ele não tinha, pois ele decerto pensaria que, em tais circunstâncias, eu deveria recusar certamente a sugestão e partir imediatamente, como tinha resolvido.

— Consideraria, Mr. Darcy , a precipitação da sua decisão original compensada pela sua obstinação em aderir a ela?

— Dou-lhe a minha palavra que não posso explicar exatamente o que ele quis dizer. Darcy deve falar por si mesmo.

— A senhora está querendo que eu justifique uma opinião que resolveu me atribuir, e a qual não subscrevo. Aceitando, porém, o caso tal como a senhora o coloca, é preciso que não se esqueça, Miss Bennet, de que o suposto amigo que desejou que Bingley ficasse em casa e adiasse os seus planos contentou-se em exprimir o seu desejo sem oferecer nenhum argumento que justificasse o seu pedido.

— Ceder facilmente, prontamente, à persuasão de um amigo não é, então, um mérito aos seus olhos?

— Ceder sem convicção não depõe a favor do bom senso de nenhuma dessas pessoas.

— Mr. Darcy , o senhor não me parece conceder nenhuma importância à influência da amizade e da afeição. A consideração por um amigo faz com que a gente ceda prontamente a um pedido, mesmo que esse amigo não ofereça argumentos em apoio do que pede. Não estou considerando, particularmente, o caso em discussão. Devemos esperar, talvez, até que ele ocorra, para discutir o acerto do seu procedimento. Mas em geral, nos casos comuns entre amigos, quando um deles é solicitado pelo outro para que altere uma decisão de pouca monta, pensa o senhor que aquela pessoa que cedeu, sem exigir outros argumentos, procedeu realmente mal?

— Não será preferível, antes de continuar no assunto, que determinemos com mais precisão o grau de importância real do pedido? Bem como o grau de intimidade existente entre as partes?

Orgulho e PreconceitoWhere stories live. Discover now