CAPÍTULO DEZENOVE

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Jason:

Aquele silêncio gritante dentro daquele quarto me afligia, nunca pensei que fosse tão ruim ficar numa cama durante dias. Acordei por volta das quatro da madrugada e fiquei ali engolindo doses de tédio e como dizem "mente vazia, oficina do diabo", meus sentimentos estão muito confusos, ainda dói muito ter perdido o meu melhor amigo. Mas, não estou nem um pouco confortável com essa situação envolvendo Ana.

Uma vez eu disse que Paige não teria sucesso em sua vinda, porque seria uma imbecilidade dos infernos se nos envolvêssemos com aquela mulher. Me arrependi todos os dias da minha vida há sete anos por ter colocado os olhos naquela mulher, por causa disso eu ganhei um inferno de graça. Mas, não se enganem, Nathaniel sempre esteve acima de mim e de Paul. Quem dera estas comparações ridículas tivessem começado depois de Paige, mas não... Isso é de natureza.

Uma vez, meu pai inventou uma viagem para Orlando, obviamente Paul e eu nos animamos muito, mas logo veio a notícia de que apenas Nathaniel iria. A justificativa pobre que ganhamos foi de que "Nathaniel tinha notas muito boas e Paul e eu não tanto", quando éramos adolescentes por eu ser considerado o "rebelde" da casa eu não era incluso em nada. Por exemplo, muitas vezes eu não fui ao baile da cidade por que me proibiram, pois acreditavam que eu poderia causar mais polemicas para sujar o nome da família.

No dia da formatura de Nathaniel nenhum deles se interessou em me dar o convite, Paul que sentiu na pele um pouco do que eu sentia foi quem teve a decência de trazer, eu não dei as caras, mas fiz questão de rasgar o convite em pedacinhos (eu sei, não foi algo muito maduro, mas foi a primeira coisa que me veio a mente). Digo que Paul sentiu um pouco porque ele deixou a casa muito cedo, Ashley foi sua primeira namorada e dentro de dois anos de relacionamento os dois noivaram e por fim casaram.

— Parabéns pelo casório Paul, com certeza vai ser melhor estar com Ashley do que naquela casa esmagadora de ego. — retruco o abraçando e dando algumas batidas em suas costas. Paul ri.

— Obrigado Jason.

— Sentirei sua falta. Sem dúvidas Paul. — era a voz de Nathaniel, fiz uma cara de desagrado assim que o vi.

— Eu também sentirei, mas não deixamos de ser uma família. — falou Paul.

— Como deixar de ser o que nunca foi? — pergunto com certa ironia, Nathaniel me olha.

— Talvez só você pense assim. — disse Nathaniel.

— Talvez eu pense e diga, talvez você pense e finja que não. Não sou hipócrita como você Nathaniel... — me aproximo dele de peito erguido, Nathaniel então me encara também.

— É traidor. O que é muito pior do que ser hipócrita. — Paul então adentra o meio de nós dois.

— Não me digam que pensam em sair numa luta no dia do meu casamento? Vocês dois não cansam de serem chatos? — pergunta nos encarando.

— Desculpe Paul, não quero que isso aconteça. — diz Nathaniel ajustando seu terno.

— Pois eu quero. E quando isso acontecer Nathanielzinho, não vou ficar satisfeito se não quebrar pelo menos uns dois ossos do teu rosto. — dou as costas e os deixo. 

Aqueles enfrentamentos aconteceram tantas vezes que eu já nem ligava mais, não tinha uma vez que Nathaniel e eu nos víssemos que não ameaçássemos brigar. Sei que não somos os melhores amigos, estamos bem longe disso, mas hoje em dia eu poderia dizer que alcançamos um nível de paz jamais alcançado dentro desses anos.

— Se Ana o quer, eu não impedirei. Mas, quero que ela quebre logo a esperança de um. Seja aquele babaca ou eu. — retruco.

Desde que a vi com Nathaniel naquele dia eu senti que o filme "Paige" poderia voltar a acontecer, desta vez eu seria Nathaniel. Não. Eu realmente não quero.

Dançando sobre o fogoWhere stories live. Discover now