CHUPACABRAS

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PRIMEIRA NOITE

O farfalhar das folhas secas de um Outono tardio indicava uma noite calma. Os galhos secos das arvores arranham o solo terroso e as paredes de um sobrado antigo de uma família de camponeses adormecidos. O cansaço talvez os fizera adormecer tão cedo, ou devido a força bruta exigida em seus trabalhos – Ou tudo aquilo fizesse parte apenas de um cotidiano diferente, o contrário da democracia de estilos de vidas e horários das grandes cidades – Normalmente diferente.

Naquele lugar e naquele momento tudo parecia perfeitamente tranquilo. Até que o relógio antigo e colossal ao canto da sala de jantar imergiu sua soberania no meio da escuridão e bateu a meia noite. Momento exato em que um rugido de um grande animal feroz foi ouvido ao lado de fora, aos arredores da casa, foi um grunhido satânico aquele que pode se ouvir. Qual animal feroz seria capaz de produzi-lo, astutamente á meia noite e apenas uma única e singela vez.

No interior do casebre o camponês, humilde pai de três, abriu seus olhos tentando apurar veemente se o que ouvira ainda estivesse a espreita.

SEGUNDA NOITE

Os comentários no dia seguinte do grunhido macabro fora engolidos por uma enorme duvida, ninguém mais além do pai ouvira tal barulho, porem este jurava não estar insano.

De fato não estava, informação esta que foi provada por volta das três horas da tarde quando o sol parecia danar a pele nos corredores da panha. Os filhos mais novos corriam enroscando suas sandálias no chão de terra levantando fumaças trazendo um assunto que se fazia urgente.

-Pai. Precisa ver isto!

Alarmado o pai seguiu os garotos enquanto os colonos que por ali também trabalhavam se mantinham em seus calcanhares. Ao chegarem numa carreira uma lúgubre visão começava a ser moldada, desde uma linha de arrasto até a um cadáver animal logo a frente. Era uma cabra – uma forte cabra– estirado ao solo com o pescoço revirado a quase trezentos e sessenta graus e com um sinal de mordidas que eram tão grandes quanto a tétrica cena.

-Que diabos faria algo assim? -Indignou-se o pai.

-Deve ter sido um lobo.

-Um lobo? Não sejas tolo. Um lobo não tem capacidade de extrair até a última gota de sangue de sua presa.

Curiosamente naquela noite o velho relógio quebrava o silêncio uma vez mais exatamente à meia noite. Porém naquele momento o velho camponês arregalou os olhos deitado na escuridão de seu quarto e aprumou os ouvidos para tentar ouvir algo. Foi quando voltava a depositar a cabeça sobre o travesseiro novamente quando ouviu novamente um grunhido de arrepiar os cabelos. Lembrava um tigre e um porco ao mesmo tempo, mas desta vez não fora o único a se sobressaltar com aquilo, o fiel pastor alemão começara a latir sem descanso, embora não fosse seu latido habitual e destemido. Poder se ia dizer que havia medo nele.

Cortando o silêncio aquele senhor acordou alarmado enquanto ouvia o cão ao lado de fora ficar ainda mais agitado. O que for que estivesse fazendo tal som estava bem perto. Estava ao lado de fora, estava no terraço. Tremendo de medo aquele homem muniu-se de uma espingarda e passou a mão na velha jaqueta de caça. Teria que enfrentar o medo.

Já ao lado de fora adentrando na escuridão gelada da noite, a primeira coisa que o fez sobressaltar foi a falta do cão que parara de latir sem motivos aparentes. Para apurar tal fato o homem iluminou o outro extremo com uma lamparina a querosene e lamentou ter o feito. O velho cão estava jogado ao chão com apenas algumas manchas de sangue ao seu lado. Mas seu corpo parecia estar murcho, vazio...

Uma segunda luz foi chegando para perto ameaçadora entre ao galhos das arvores, fazendo sombras entre os galhos e fumaças condensadas da madrugada. Iluminou em cheio o velho camponês que disparou a arma acertando num tronco qualquer. Sua mão tremia demasiado e por isso errou o tiro. Por sorte.

-Valha me Deus, homem. Por pouco não me mata!

Era o compadre vizinho que viera também apurar o grunhido animal. Constatou que em sua propriedade naquele momento jazia mais uma cabra, uma vez mais nenhuma gota de sangue fora encontrado no animal.

TERCEIRA NOITE

Os boatos se faziam piores a cada vez que era recontado. Tinha o poder de se aumentar e piorar a cada boca em que passava. E logo a colônia toda estava amedrontada com a aparição e ataques do chupacabras. Aquele ser lendário que além de matar suas presas sugava seu sangue até á ultima gota – e agora saíram dizendo que o ser pegava também mulheres e crianças – o caos se instalara.

Naquela altura os homens que estavam de mãos atadas resolveram que era hora de colocar um ponto final naquela historia. Reuniram-se numa varanda para fumar e tomar pinga durante aquela tarde e resolveram que naquela noite iriam ficar de tocaia e armar uma emboscada para aquele diabo sanguessuga. E assim o fizeram.

Estranho como naquela noite o ar parecia estar um tanto mais pesado e sombrio. A lua cheia iluminava toda a colônia enquanto um vento forte assobiava entre os galhos das arvores. Algo naquela noite estava dantesca. Os homens fizeram se corajosos em duplas, o velho camponês levou o filho maior consigo, e adentraram na mata gelada. Uma fumaça se despregava do chão de terra molhada enquanto de suas bocas exalava a condensação por uma noite extremamente fria.

O relógio no pulso do garoto avisava que era exatamente meia noite, foi quando o seus corações acelerava num ritmo absurdo. O demônio iria se revelar a qualquer hora para alguma das duplas dentro da mata. E não deu outra. Logo o grunhido diabólico foi ouvido. Tão próximo quanto as ortigas que criavam um caminho. O velho camponês não hesitou em apertar o gatilho e disparar um tiro contra a origem do barulho, mas foi no segundo seguinte que aquele ser terrível imergiu-se das trevas e se mostrou diante da luz fraca da lamparina. Sua pele parecia ser impenetrável, seus olhos vermelhos como sangue e longas orelhas longas e pontudas. Garras enormes e dentes pontiagudos à mostra. O diabo era intragavelmente horripilante. E foi num golpe certeiro que aquele ser o derrubou no chão e em seguida abocanhou o calcanhar se seu filho, puxando-o por uma clareira como se este fosse uma boneca de trapos. Sumiu na escuridão, o velho tentou segui-los, mas suas pernas cansadas não eram páreas para um ser tão grande. Neste momento sentiu outro golpe, era outro chupacabras, que por sorte voltou-se para o velho que já soltara uma bala em sua direção acertando-lhe na região das pernas dianteiras. O animal sucumbiu-se na escuridão.

O velho começou a soar um apito que trazia amarrado ao pescoço como quem pede ajuda. Logo ele pôde ouvir outros apitos, que estavam com as outras duplas. Mas algo já estava começando a lhe cheirar mal, quanto mais próximo da colônia ele estava, mais gritos de desespero ele ouvia, algo estava acontecendo, por isso começou a correr entre os arbustos molhados e argilas no chão.

Foi quando notou que algazarra se fazia ao redor de sua casa, sua esposa corria em sua direção, a velha camponesa soluçava enquanto narrava ao marido que outro filho seu também fora arrastado pelo demônio sanguessuga. O camponês bradou e atirou diversas vezes para o alto fora de si.

A lenda agora seria imortal e suas vidas mudariam para sempre, assim como a de todos os colonos, alguns até mudaram-se de região, mas o que permaneceram agora tinha um toque para se recolher e jamais andavam sozinhos. Mas o mais bizarro de tudo, é que nunca mais o grunhido nas trevas, o som do animal sanguinário não fora ouvido.

FOLCLORE SANGRENTOWhere stories live. Discover now