Zodíaco

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- Olá, Pégaso.

Aiolos encarou o rapaz, enquanto percorria os últimos degraus até Leão.

- Formalidades são desnecessárias entre nós, Kanon – respondeu. Sempre que encontrava o gêmeo de Saga, um alarme não negligenciável disparava em sua mente, apesar de conhecerem-se desde pequenos. – Pode me chamar pelo nome.

- Há! Há! Acho mais interessante usar as alcunhas.

Kanon percebera o cosmo de Aiolos na casa de Câncer, e decidiu aguardá-lo. Divertia-se com a reação das pessoas à sua presença.

Juntos seguiram atravessando os templos, conscientes da ausência de guardiões. A falta de dourados era uma preocupação partilhada por todos no Santuário.

"Por alguma razão, o mestre ancião permanece na Ásia", pensava Aiolos enquanto percorria a casa de Libra. "O Grande Mestre parece não se importar. Deve haver um propósito maior para isso".

Kanon exibia a expressão desvairada de sempre, acompanhando-o sem esforço.

Assim que adentrou Sagitário, o peito de Aiolos esquentou. Aquela sensação indicava que seu cosmo reagia a algo. Seguiu sem entender, até passar pela sala onde repousava a urna dourada. Percebeu, então, que a caixa emitia uma sutil luminosidade, bastante convidativa. Definitivamente a reação do seu cosmo estava relacionada àquela armadura. O rapaz teve vontade de interromper-se ali por algum tempo. Bem sabia que a vestimenta sagrada dos cavaleiros possuía vida própria.

Olhou para Kanon, que parecia alheio ao fato. Conservou consigo o acontecimento, decidido a refletir sobre ele mais tarde.

- Afinal, o que aconteceu conosco? – questionou Laila, enquanto desciam o monte Nisa aos saltos.

Haviam deixado o misterioso templo e retornavam, agora, a Atenas.

- Aquele é o lugar mais maluco de todos – falou Draco.

Saga estava pensativo e silencioso como sempre. Laila o interrompeu de seus pensamentos:

- Então, quando você acordou, a armadura de Taça simplesmente estava lá?

- Sim. Como vocês, eu despertei sem recordar o motivo do desmaio.

Dizia a verdade, porém omitia os lampejos desconexos em sua memória.

Acordara à margem de um dos incontáveis riachos do lugar. Dentro dele estava a armadura de prata, em sua forma de copo. A imaginação do rapaz remeteu imediatamente à lavagem de louça. Esse tipo de pensamento hilário lhe ocorria nas horas mais impróprias.

Notara, desde que despertou, uma considerável alteração em seu autocontrole. Sua racionalidade perdera a predominância habitual, de modo que se via tentado a consentir a qualquer impulso de vontade. Era como se tudo e todos lhe devessem natural obediência. Começava a questionar seus extremos comedimentos até ali.

- Certamente fomos vítimas dos ares estranhos do templo de Dioniso – continuou Saga. – Penso que o deus esteja retirado no Olimpo, junto aos seus iguais. Talvez aquele lugar esteja abandonado há séculos.


Os cavaleiros adentraram o salão em marcha uníssona.

Shion os fitou, satisfeito com o pronto atendimento à convocação.

- Conheça Kanon, o santo de Quilha, e Aiolos, da constelação de Pégaso – apresentou-os ao aprendiz, que estava acomodado à direita do trono.

- Muito prazer – completou Mu educadamente.

A notável intimidade entre o rapaz e o Mestre despertou rancor em Kanon, que não media esforços para cair nas graças do Papa. Jamais falhara em qualquer missão, como também se gabava de seus extraordinários poder e habilidade.

"Um moleque cheirando a leite não haverá de se interpor entre mim e o Grande Mestre", pensou.

- Cavaleiros, deveis supor a razão da minha convocação – pronunciou Shion em tom formal. – Antevejo um sério perigo despontando sobre a Terra. Minhas suspeitas apontavam para uma temerária batalha contra Ares, a divindade da guerra além de Atena. Contudo, os relatórios das missões a vós designadas conduzem-me a descartar tal possibilidade.

Os três ouviam-no atentos e reverentes.

 - Aguardo o retorno do grupo de Erídano, para descortinar demais possibilidades

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- Aguardo o retorno do grupo de Erídano, para descortinar demais possibilidades.

A mão esquerda de Kanon teve um espasmo à menção do irmão. Por sorte, estava voltada para trás, longe da vista dos demais. Cada um dos presentes era dotado de extrema perspicácia, como se espera de cavaleiros. Também o garoto de Jamir despertava sua atenção pela serenidade e refinamento do cosmo que emanava.

- Mesmo sem conhecer a identidade de nossa ameaça, estou convencido de que é chegado o momento de expandir as forças deste Santuário. A descida de Atena está próxima. Nossa ordem existe pelo propósito de protegê-la e de garantir a paz no mundo – o ancião discursava com paixão comovente.

Levantou-se de sua cátedra e aproximou-se de Aiolos.

- Pégaso!

- Senhor! – respondeu Aiolos erguendo a cabeça.

O velho estendeu a mão largamente enrugada, porém firme, tocando com o indicador o peito da armadura, próximo ao coração. O traje vibrou emitindo a luz azulada característica da constelação. Então, desprendeu-se do rapaz, para assumir a forma de Pégaso, ao lado do mestre reparador.

- Por seus muitos méritos, em especial pelo acurado senso de justiça e destacável poder, eu o consagro santo dourado da constelação de Sagitário.

Kanon segurou a mão esquerda que agora tremia. Manteve o rosto abaixado.

- Senhor, eu... – o rapaz estava naturalmente surpreso.

Shion fechou os olhos. Quase instantaneamente surgiu diante de Aiolos a urna sagrada, emitindo um calor intenso.

- Vá em frente – ordenou o Mestre.

Puxou, então, a corrente da caixa. Com um grave clique, a estatueta do centauro arqueiro revelou-se em todo o seu esplendor dourado. O cosmo do rapaz ressoou pela segunda vez com a armadura, que já o reconhecera momentos antes. Ela desmontou-se, por fim, cobrindo-lhe o corpo.

Saint Seiya: Ascensão de SagaWhere stories live. Discover now