16. End?

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          Canadá - Toronto - Maio - 2017
         Point Of View Bridget Campbell

Ao abrir a pasta para colocar mais um papel rabiscado, parei por um instante pensando na quantidade de folhas que tinham ali dentro. Eram cálculos e mais cálculos. Todos formulados por pura satisfação. Assim que eu me sentia quando o assunto era números, alimentando cada vez mais minha vontade de fazer uma faculdade de Contabilidade.

Eu não poderia passar o resto da minha vida trabalhando na casa de Justin. Sem nada concreto, cheia de incertezas, pois meus sentimentos por ele não garantiam meu futuro financeiro bem sucedido. Eram coisas distintas.

Após arrumar os papeis, levantei para fechar a janela, o vento gelado da noite que tinha lá fora denunciava a chuva que estava prestes a cair. Faltava cerca de uma hora para Justin chegar do trabalho, eu deveria ter o esperado, mas não vi mal algum em dar um pulinho na minha casa para arrumar a bagunça que ela estava. Evan dormiria aqui esta noite.

Já arrumada, vestindo além de roupas quentes uma capa de chuva, eu estava parada em frente a minha bicicleta. Pensando no quanto seria bom chegar limpa e sequinha na casa de Justin, apenas um carro me proporcionaria isso.

- Não tem medo do lobo mal, chapeuzinho vermelho? - Gary disse segurando meus ombros, salvando-me de uma queda por conta do susto.

- Idiota! Não faça isso, meu coração quase parou. - ele deu uma risada tranquila e colocou a sua companheira e fiel câmera na frente dos olhos. O flash não demorou a vir, embaçando minha visão.

Gary era fotógrafo, morávamos no mesmo andar. Eu o odiaria por viver tirando fotos minhas desprevenida, mas isso certamente não acontece, porque o jeito doce que ele tem não permite, muito menos o dom com as amáveis fotografias.

- Essa estará junto com as minhas preferidas. - disse analisando minha imagem na tela da câmera.

- Você sempre diz isso. - subi na bicicleta e arrumei minha mochila nas costas. Quando o olhei de volta, deparei-me com sua expressão risonha. - O que foi dessa vez?

- Quando vai perceber o erro que está cometendo? São apenas algumas fotos simples e naturais. Você sabe que não precisa de muito, Bridget. - meu adorável vizinho sempre insistia num ensaio fotográfico.

- Eu permito que você bata fotos minhas como um verdadeiro paparazzi e ainda ouço reclamações?

- Que culpa eu tenho se minhas lentes clamam por você. - deu de ombros.

Balancei a cabeça negativamente enquanto sorria para ele. Eu já estava atrasada, e seria um suicídio continuar mais tempo ali. Não prossegui a conversa e me despedi sem muitas explicações.

Eu havia chegado no apartamento de Justin, o piso branquinho da portaria ganhou manchas marrons. Meu tênis estava sujo de lama, o resto do meu corpo estava completamente ensopado.

Com o queixo trêmulo de frio, joguei a capa de chuva molhada no lixo, a tempestade havia me acertado em cheio. No elevador, olhei-me no espelho, meu cabelo estava molhado, mas nada me desanimaria agora.

Estava prestes a abraçar seu corpo quente. Isso era tudo que importava.

Abri a porta com uma certa euforia, pois tinha planos para preparar um jantar legal.

Tudo foi por água a baixo.

Justin já estava em casa.

Acompanhado.

Ele tocava violão, uma melodia lenta era produzida por aquela cordas, e Angie parecia apreciar aquilo tanto quanto eu. Tentei calcular a probabilidade de sair despercebida, mas falhei.

Chained SoulOnde as histórias ganham vida. Descobre agora