57: fase dois, parte I

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– Por que você está demorando tanto? – Brenda sussurrou, irrequieta, agachando-se sobre os calcanhares à altura de Thales e dando uma boa olhada na fechadura intacta – E por que está tremendo assim?

Era bastante perceptível que ele estava apreensivo, e, pelas gotas incômodas de suor que se formavam em sua testa, Brenda era capaz de atestar que alguma coisa não estava dando certo.

– Nem todo mundo é um criminoso profissional como você. – Thales rebateu, malcriado, o enfezamento quase que inaudível. Assim que percebeu que era com Brenda que ele estava falando, tratou de amaciar a voz. – Por favor, não ponha fogo em mim.

Brenda soltou uma risadinha incompatível com o momento desconfortável entre eles.

– Não sei do que você está falando. Eu sou inofensiva, contanto que não cheguem perto das minhas amigas. – ela não se preocupou em parecer chocada ou nada do tipo; após ponderar com alguma razoabilidade, acrescentou: – Ou das minhas medalhas.

Isso porque vocês são as Boas Meninas.

– Quem te con... ah, Alana. – ela revirou os olhos, concluindo que provavelmente a amiga comentar com Thales sobre o rótulo que elas receberam desde o primeiro dia de Colégio. Sem querer parecer dar grandes justificativas, mas por alguma razão incomodada com o julgamento na voz de Thales, ela explicou: – Acho que depende muito do que você entende por "boa menina" ou o que seja. Para os meus pais, uma garota má é alguém que vive em festas, não estuda, usa drogas e, sei lá, perdeu a virgindade com um caminhoneiro enquanto fugia de casa para ir a um festival de reggae. Eu e as meninas não somos assim, então eu acho que não somos garotas más porque mentimos sobre relacionamentos com professores, invadimos computadores, ou tocamos fogo em coisas que merecem queimar. – ela deixou escapar um sorriso que Thales, compenetrado em sua tarefa, não foi capaz de perceber – Somos Boas Meninas com maus hábitos, só isso.

– Não me diga. – ele enxugava as palmas úmidas de suor na bermuda antes de tentar pressionar a chave mais uma vez; o esforço e concentração afetavam seu modo de falar – Deve. Ser. Difícil. Ser apaixonado por uma de vocês.

Ah, os lamentos de um cara rejeitado. Já estava demorando.

Brenda cruzou os braços e encostou as costas na parede, esticando os joelhos para se sentar confortavelmente. Já que Thales Velten ia perder tempo com sentimentalismos, ela tinha mais era que esperar sentada para aquela porcaria de porta ser arrombada. Ela endireitou os ombros e demonstrou sua insatisfação através de uma bufada irritadiça, já que de nada adiantaria revirar os olhos ou bater os cílios, pois, para notar o desprezo de Brenda por qualquer sentimento patético, Thales teria que, pelo menos, erguer os olhos para além do ferrolho.

– Eu odeio ter esse coração. – Thales insistiu, por outro lado, encarando equivocadamente seu silêncio como estímulo a continuar – Ele tem o hábito de bater por quem não corresponde as coisas.

– Isso é muito poético e tal. – ela disse, tomando cuidado para não dizer "patético" em vez de "poético", que era o que ela realmente queria dizer. Brenda apertou a ponte do nariz entre os dedos, impaciente, e dessa vez efetivamente revirando os olhos, só que para si mesma – Mas você sabe que quando você fala em hábitos, isso significa que eles podem ser modificados, né?

– Aé? – ele riu sem humor, forçando mais uma vez a fechadura – Vamos falar sobre o seu hábito de tocar fogo nas coisas.

Ao perceber a fonte de calor que irradiava a seu lado, Thales repousou seus olhos em Brenda pela primeira vez. Ela tinha uma expressão meio assassina no rosto e as veias do pescoço saltavam como se lava, não sangue, pulsasse em suas veias; era a cara de quem estava prestes a esmagar um inseto muito irritante. Se ela não fosse uma garota tão bonita – e isso ele não podia deixar de notar –, com aquele cabelo escuro brilhante e pele dourada, ele teria certeza de que estava num filme de terror de baixo orçamento. Encarnando o papel do idiota que morre primeiro nos thrillers, Thales perguntou:

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