49: confiança é como um espelho

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Alana ouvira o suficiente

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Alana ouvira o suficiente.

– O que foi que você fez? – ela esbravejou ofegante após invadir a Escola Pública portões adentro, deixando para trás todos os seguranças que gritavam que ela não tinha permissão para entrar. Assim que seus sapatos lustrosos chutaram a porta do escritório de administração da Escola Pública, deu com um Tomás, um tanto desconcertado por vê-la, mas definitivamente não surpreso.

Ele sabia muito bem o que tinha feito.

– Alana. – ele disse, com a cordialidade com que geralmente dizia "Senhorita David". Aquela cordialidade era apenas dispensada a Alana quando estavam no Colégio, mas aquele não era o colégio, e não era daí que vinha toda aquela estranheza. Era a primeira vez que ela se atrevia a se colocar perante o Professor novamente. Ainda era incômodo ouvir Tomás chamando-a pelo primeiro nome de maneira tão distante, enquanto aquelas cinco letras, três sílabas, até ontem significavam muito mais do que um mero vocativo.

Quando Tomás dizia "Alana", eles estavam sozinhos e não tinham de quem se esconder. Um sentimento que parecia tão próximo, e ainda distante, porque agora eles não tinham mesmo nada a ocultar. Ele, não mais Professor. Ela, não mais sua aluna.

Não havia nada acontecendo entre eles.

            As coisas poderiam ser tão diferentes se ele não fosse um pedaço de merda.

            – Você sabia que isso estava acontecendo. – ela acusou, apontando um dedo malcriado para o rosto de Tomás enquanto ainda ouvia os berros de Brenda e Silvia ecoando aos dos seguranças, tentando impedi-la de atravessar o mar de alunos de Pública encarando suas saias plissadas para confrontá-lo – Por isso me disse que estava tão preocupado com Silvia, não é? Por causa do beijo? Você já sabia que os pais crentes dela queriam tirá-la do Colégio por causa de Ana, porque você estava no Comitê de Ética. E você não fez nada para impedir. Você nem ao menos me contou!

            As sobrancelhas grossas e bem delineadas de Tomás se ergueram para levantar os olhos caramelo do Professor à altura dos cinzentos de Alana. Em um primeiro momento, ele analisou o rosto da garota, afinal, era um de seus favoritos e há tempos não o vira. Tomás torceu os lábios, como se tivesse que lembrar a si mesmo de desprezá-la pelo que tinha feito.

O Professor encheu o peito para se defender. Alana conhecia aquele par de olhos bem demais para saber que uma desculpa esfarrapada estava por vir.

– E não venha me dizer que é por causa do Thales, – a ela se adiantou – porque você só descobriu isso muito depois.

Tomás engoliu em seco. Ele não sabia lidar com essa nova Alana, não-manipulável, que pensava por si própria. Um meio sorriso orgulhoso se formou no canto dos lábios dela, mas se dissipou rapidamente assim que se lembrou da fúria que estava sentindo pelo que acontecera com sua melhor amiga.

Não Confie Nas Boas MeninasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora