57: fase dois, parte II

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Pé ante pé, Brenda afastou a porta de madeira com cautela, evitando o rangido inevitável que aquelas dobradiças anciãs de prédio velho emitiriam. Após Thales se esgueirar para dentro com toda coordenação motora que seus quase dois metros de altura permitiam (ou seja, nenhuma), ela fechou a porta atrás de si com um baque surdo e, uma vez que o feixe de luz que vinha do corredor fora coberto, ambos estavam ao breu.

Thales tateou a parede em busca de um interruptor que pudesse iluminar o cômodo de entrada. Como não havia nenhuma tomada visível – ou melhor, palpável –, Brenda acabou usando a lanterna do celular até encontrar uma luminária imensa o suficiente para aclarar toda a sala. Perto do que julgou ser um lavabo, havia um botão que ela acionou para ligar as luzes.

Depois de tanto tempo à penumbra, visto que Thales levara cinco tempos de vida para arrombar uma simples porta, toda aquela luz a fez apertar os olhos, mas não a impediu de escrutinizar o ambiente. Não levou muito tempo para concluir que o apartamento de Tomás era exatamente como Brenda imaginava: o covil de um babaca pertencente a alguma subcultura hipster que aparentemente não se tocava que estava velho demais para bancar o escritor atormentado.

Sobre a mesa de centro, havia pilhas e mais pilhas de papel ao lado de uma máquina de escrever antiga, mas muito bonita, trabalhada em mogno. Tão bonita que Brenda chegou a pensar se deveria tocar fogo nela, ou levá-la para si. Ou para Alana, que provavelmente faria melhor uso.

– Claro. – ela comentou com desdém, depois de decidir que obviamente o melhor era incinerar aquela porcaria – Isso que dá ser um otário metido a escritor do século passado, é óbvio que ele escreve tudo à mão. Não tem nada digitado no computador... sem backup.

Ela percorreu a superfície da mesa com as pontas dos dedos, observando a datilografia em algumas páginas e uns rabiscos que Tomás improvisara. Para um Professor prodígio, ele era deveras estúpido por não usar algo mais permanente para armazenar suas histórias. Seus plágios, aliás. Vai ver Holiday já torrara os neurônios dele de tal forma que ele era incapaz de se atualizar para as tecnologias do milênio, vá saber.

– Amador. Se ele tivesse uma Silvia, não cometeria um erro desses. – ela se virou para Thales com graciosidade – Do que você está rindo?

– É estranho ouvir alguém falando como você.

– Como eu falo?

– Como se você estivesse vociferando seus pensamentos sem qualquer filtro. – ele ergueu uma das mãos até a nuca e coçou rapidamente a parte de trás da cabeça, incerto se Brenda levaria a mal o que ele estava para dizer – Sem se importar com o que as pessoas vão pensar.

– Eu não me importo.

– Mas a questão não é essa. – ele acenou a cabeça negativamente – É que... não sei. Parece que eu estou dentro da sua cabeça. Você é muito fácil de se ler.

Não Confie Nas Boas MeninasWhere stories live. Discover now