Capítulo 1 - Ninguém mais percebe?

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                                                   "Destrua quem o possuir...você precisa se salvar...salvar a nossa raça..."

                                                                                              - últimas palavras de Denatheor, o rei dos dragões

Não era romântico.

Não era fofo.

Não era adorável.

Não era sexy.

Era o que Missandra pensava enquanto calçava suas elegantes botas de caça e as amarrava com destreza até o joelho. Ter Lantis como guarda-costas era demais, nisso ela concordava.

Bom, mas nesse caso não era demais como as pessoas pensavam.

Afinal, ele era chato demais, implicante demais, irritante demais. Ah, e um pequeno detalhe...

Tinha quase certeza de que estava tentando matá-la.

Sim, pode-se dizer: "Ah, pare com isso; é tudo frescura de princesa. Elas têm a tendência a terem tudo o que querem e aí quando não conseguem algo..."

Mas aí é que está. Missandra não se considerava fresca, de verdade. Suas botas manchadas de lama e seu cabelo preso em um rabo de cavalo desajeitado provavam isso. Ela nem fazia ideia onde estava seu espartilho – apertilho, como chamava. E quanto a ter tudo o que queria, isso só era relativamente verdade. Porque quando ela queria algo e o pedia para seu pai, o rei Gallad, o herói de toda a terra até os confins do reino de Landom, seu querido e incrível guarda-costas o aconselhava a não lhe dar. E seu heroico pai escutava tudo o que esse bolha falava – era o que Missandra ruminava dentro de si.

O lagarto em seu parapeito, o qual ela chamava Croc – diminuído de crocodilo, por ele ser muito pequeno – a fitava com curiosidade, enquanto a jovem resmungava baixinho e prendia os dedos nas fivelas por causa da pressa.

– Amarga? Não sou amarga. Só estou furiosa. Por causa dele agora estou aqui, tendo que calçar essas botas desconfortáveis para escalar muros e luvas de proteção, que esquentam horrores, para poder pular as muralhas sem me machucar. Podia simplesmente passar pela porta, mas o que ele pode ter dito aos guardas?

Croc ergueu os olhos arregalados para ela.

– Ora, de quem você acha que estou falando? Do Lantis, ora! Tenho que ir rápido atrás de meu amigo Mane. Ele me disse que tem algo muito legal que achou enterrado atrás do castelo. E tenho que voltar antes que meu pai e meu irritante futuro assassino retornem da ronda. Quer ir comigo?

O réptil não fez nada além de soltar um som arranhado da garganta. Ela deu de ombros.

– Você que sabe, seu antissocial.

Missandra abriu a janela de sua varanda tentando atrair o mínimo de atenção possível. Mesmo pendurando-se no muro, os camponeses já estavam acostumados com suas fugas sempre que Lantis estava em algum lugar longe dela. Já nem apontavam ou riam. Apenas davam de ombros – com certeza Lantis apareceria do nada e a trancaria novamente no quarto. Ainda era algo divertido de se ver, entretanto.

Ela jogara óleo nas dobradiças das janelas, cerca de uma semana atrás, para que ninguém ouvisse quando as abrisse e ele a fez limpá-las com um pano imundo.

Ela! A futura herdeira do trono de Ayala! Sua futura rainha! Como ousava tratá-la daquele modo?

Inevitavelmente, enquanto se equilibrava para saltar no muro próximo à sua varanda, começara a resmungar novamente.

O Legado do Dragão - degustaçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora