30 de abril

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Londres, capital da Inglaterra. Oito milhões e seiscentos habitantes; mil quinhentos e setenta e dois de área e é considerada uma das metrópoles mais seguras do mundo.

... ou quero dizer.... era.

Até o ano de 2009, de fato, as pessoas andavam sem medo pelas ruas, orgulhosas por viverem em um local como aquele. Porém, — lembro-me perfeitamente com se tivesse sido ontem mesmo — quando a primeira manchete foi escrita e os boatos começaram a tomar voz, até mesmo as inocentes crianças tinham medo de ir à escola a pé e os corajosos policiais e destemidos militares tremiam ao empunhar suas armas ao sair de casa.

É, bons tempos aqueles, onde todos andavam desconfiados, temendo o invisível. Temendo-me.

Ou melhor... quase todos. Aquele idiota do Laurent Deckard não me temia. Maldito seja aquele detetive. Se ele fosse como as outras pessoas, nada disso teria acontecido. Eu teria vencido. Teria sido o novo demônio do mundo, espalhando o caos por onde quer que eu pisasse. Mas eu falhei. Cometi um pequeno deslize. Bem pequeno mesmo. Mas que, infelizmente, foi suficiente para que ele me pegasse e desse o xeque-mate.

Esse deslize pode ter sido pequeno, mas ele custou muito caro; muito caro mesmo...

Mas tudo bem. Deixemos o passado em seu devido lugar. Nem tudo está perdido. Antes de eu contar meus planos para sair daqui (porque obviamente eu tenho um plano), relatarei como tudo começou. Afinal, um feito grandioso desses — mesmo com alguns... contratempos — merece um relatório completo e detalhado.

Para isso, precisamos voltar há exatos quatro anos e alguns meses, no dia trinta de abril do ano de dois mil e dez. Esse foi o dia em que, oficialmente, eu comecei a participar de meu próprio plano malignamente genial.

Minha primeira vítima se chamava Katherine Backer. Quando eu a matei, ela tinha vinte e três anos. Era uma moça muito bela, admito. Ruiva de olhos azuis. Uma raridade. Matei-a justamente por essa peculiaridade.

Como já dito antes, na época, eu já havia traçado todo o meu plano, todos os passos que eu daria até chegar ao meu grand finale, da qual seria o glorioso xeque mate, a minha marca definitiva que faria todos me respeitarem por séculos. Eu entraria para a história mundial, com certeza. Em vista disso, apenas pessoas dignas, pessoas únicas poderiam me servir para esse propósito.

Katherine e os outros quem matei, infelizmente, não poderiam presenciar o final, mas, sem a morte deles, nada disso seria possível. Eles foram fundamentais, e eu esperava que, do inferno ou do céu, eles vissem a maravilhosa arte que eles ajudaram a fazer.

Não digo que fui o primeiro a ter essa honra de matar alguém que serviria para esse propósito. Infelizmente, era arriscado demais ser o primeiro a matar, pois logo iriam ligar as mortes principais à Inglaterra, e, graças a sua baixa população, seria mais fácil me ligarem às mortes. Não. Katherine foi a quinta pessoa a morrer. Meus sócios na Austrália, na Itália e Brasil foram os quatro primeiros. Mas não pense que tudo ocorreu às mil maravilhas. Infelizmente, o da Itália falhou miseravelmente, pelo fato que escolheu justamente a sua ex-mulher como vítima. Claro que os sentimentos entraram em ação na hora H, e ele não conseguiu trazer para mim o que eu pedi.

Naturalmente, tive que acabar matando-o com minhas próprias mãos. Silenciei-o de uma forma rápida e que praticamente não deixou rastros. Mas do jeito que a polícia é burra, eu nem me preocupei muito em em esconder exatamente tudo.

Foi um infortúnio. A Itália era um lugar bem estratégico para mim.

De qualquer forma, Katherine estava saindo da faculdade quando eu a abordei, fingindo ser um cego que precisava urgentemente chegar em casa e que o meu cão guia havia se perdido mais cedo. Eu já havia estudado Katherine por vários dias, e sabia que ela era uma boa samaritana e me ajudaria sem nem pensar duas vezes. Dito e feito: ela de despediu dos amigos, pegou o meu braço direito e, juntos, fomos para as ruas Londrinas. No caminho, ela foi me dizendo os nomes das ruas em que passávamos para que eu dissesse onde virar. Ela não suspeitou de nada por nenhum segundo sequer, afinal, modéstia à parte, eu era um exelente ator. Caminhamos durante exatos oito minutos e trinta e sete segundos antes de pararmos em um beco escuro e vazio.

— Senhor John, acho que você se enganou... — Katherine disse, ainda sem suspeitar de nada. Havia mentido meu nome. Não havia necessidade para isso, claro, afinal, ela iria morrer de qualquer maneira e o nome nunca seria divulgado. Mas eu realmente gostava de modificar o maior número de coisas possível. Eu achava que isso requintava o homicídio. — Estamos em um beco, senhor. Tem certeza que viramos na rua certa?

Segurei-a firmemente no braço antes de responder:

— Não, minha doce Katherine, viramos todas as ruas corretamente.

— Então... o senhor mora aqui? — ela olhou em volta, ingênua. Admito que gostava disso nela. Katherine não era maliciosa como minhas vítimas passadas. Foi realmente uma pena ter que matá-la.

— Não... Na verdade, você é quem passará a viver aqui, pelo resto da eternidade.

Aumentei ainda mais a pressão em seu braço. Katherine olhou de mim para minha mão, já percebendo minhas reais intenções. Antes que ela pudesse gritar e chamar a atenção, saquei uma faca atrás de meu bolso esquerdo e desferi um golpe certeiro em sua jugular. A moça caiu como um saco de batatas no chão, o sangue jorrando para o alto, sujando meu rosto e minhas roupas.

Abaixei-me e, com dois dedos, Fechei seus belos olhos azuis já sem brilho.

— Lamento, minha doce Katherine. Mas isto é para um bem maior.

Com isso, comecei a abrir seu abdômen, retirando com precisão cirúrgica seu intestino delgado.

Guardei o órgão em uma sacola plástica e estraçalhei o corpo da dama, de forma que ninguém percebesse a perfeição do meu primeiro corte.

Quando saí do beco, eu estava totalmente coberto de sangue, mas como eu conhecia cada milímetro de Londres, não foi difícil chegar em casa sem ser visto. Não escolhi aquele beco por acaso. Estava tudo milimetricamente planejado. Aquele beco era um ponto estratégico. Ficava exatamente na metade do caminho da minha casa e do prédio da nova Scotland Yard. Sim, exatamente: a morte de Katherine foi uma provocação à polícia. Com uma morte brutal como aquela tão perto dos olhos da melhor polícia da Inglaterra, quis mostrar que eu era podereso, e que nem a poderosa Scotland Yard me intimidava. Quis mostrar que eu é que estava no comando, e que era para me temerem.

E não é que deu certo?

The KillerWhere stories live. Discover now