06 - O motoqueiro misterioso

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Sexta-feira.

Tentando não pensar no quanto a minha vida tinha se tornado uma loucura, levantei cedo – cedo até demais, antes mesmo que o meu despertador apitasse – e me ajeitei para mais um dia de aula. Na cozinha, como sempre, minha mãe terminava de passar o café. Eu me sentei à mesa e perguntei:

- Meu pai ainda está dormindo?

- Roncando feito um leão. Deve estar mesmo muito cansado.

Ele sempre foi assim, eu acabei lembrando, e antes nem sabia onde ele trabalhava, mas agora que descobri – ou melhor, ele revelou – eu imaginava como ele devia se sentir cansado.

- Bem - falei, rindo –, depois que saímos atrás de um ladrão ontem de madrugada...

O olhar que a minha mãe me lançou fez eu me arrepender duramente de ter aberto a boca, portanto me calei. Ela me serviu com pãezinhos quentes, que acabara de comprar no mercadinho perto de casa, que estavam deliciosos. Esse era o lado bom de ser um dos primeiros clientes do dia, coisa que a minha mãe sempre foi habituada, mesmo lá em Belém.

Ela sempre acordava cedo. Uma vez a perguntei o porquê. Minha mãe apenas respondera: Dio, é tão lindo ver o dia amanhecer, o sol nascendo... Sempre que posso, o vejo aparecer no fim do horizonte, transformando qualquer tipo de paisagem numa bela paisagem. Isso é a prova de que o mundo pode sim ser lindo!

De certo modo eu concordava, só não tinha coragem de acordar tão cedo apenas para confirmar isso.

E como falei: eu tentei não pensar nas loucuras da última noite, o que certamente não funcionou, já que uma das pessoas que eu estava me acostumando a encontrar todo dia no campus da escola era o Jake.

Cumprimentei os meus amigos com uma certa perturbação e o Natsuno percebeu que eu estava estranho. Usei a mesma desculpa de ontem:

- Eu não tive uma noite muito boa.

- Isso é falta de comida – Joe, o grandalhão, sugeriu, e a sineta soou. – Sempre que eu não como o suficiente, não consigo dormir bem. A comida é necessária na nossa vida.

Eu só me perguntei o que significava "suficiente" para ele. E notei o Jake me olhando de forma estranha, como se... tivesse percebido que eu não estava me sentindo tão bem perto dele.

No corredor, já no primeiro andar, tentamos passar longe da senhorita Abigail, que estava no meio da multidão de alunos fiscalizando tudo, mas ela caminhou na nossa direção com a sua casual cara fechada.

- Por que estão andando tão devagar?! Depressa, para a sala!

Obedecemos, assustados com a sua cara feia, e eu me perguntei se ela também era um vampiro. Os olhos vermelhos, pelo menos, não haviam aparecido, mas considerando que ela era assustadora daquele jeito, decidi ficar atento.

- Por que será que ela só pega nos nossos pés? - resmungou Natsuno, irritado. Um erro terrível.

- O que você disse?! – a inspetora gritou de longe.

- Ah, nada não, senhorita Abigail. – Natsuno deu uma risadinha meio sem jeito, e aceleramos os passos pelo corredor, achando melhor não olhar para trás. E entramos na sala 2, onde imediatamente fomos cercados pelos garotos do time de futebol, que pareciam animados e agitados.

- Vamos montar o nosso time agora – Marcelo explicou rapidamente. – Essa aula não haverá professor.

- E qual seria? – eu perguntei por impulso.

Caçador Herdeiro (1) - Vento Sufocante | COMPLETOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora