Capítulo um

3.4K 362 331
                                    

Eram cinco horas da manhã, e eu não podia acreditar que o despertador já havia tocado. Não mesmo!

Juntei todas as minhas forças e abri os olhos. Minha melhor amiga, Emma, já estava sentada na cama em uma espécie de meditação matinal.

- Uaaaaau, que dia lindo. - Emma falou esticando os braços.

Não pude evitar semicerrar os olhos. Como ela consegue? Pela manhã a única coisa que sou capaz de sentir é derrotismo.

- A cortina tá fechada, Em. - afirmei com desdém me levantando da cama. Emma é como aqueles Hippies que e acordam de bom humor de manhã. Quem fica feliz por acordar às cinco da manhã? Qual de nós duas é a mais estranha, eu pelo pessimismo, ou ela pelo extremo otimismo?

Escutei duas batidas na porta de madeira e, um segundo depois, minha mãe adentrou meu quarto.

Ela tinha a feição de alguém que se cortou depilando as pernas, basicamente.

Bom, pelo menos ela se sentia como eu.

- Vocês têm aula hoje, - ela resmunga com a voz sonolenta - se arrumem logo, mocinhas. - ela tentou abrir os olhos por completo mas falhou - Vou fazer o café da manhã.

Quando a dona Suzianne diz que vai fazer o café, ela só faz literalmente o café. O resto é por conta de quem come.

- Você vai tomar banho? - Emma indaga ainda bastante animada.

- Na volta - retruquei de imediato tocando o chão com meus pés. Estava tão gelado, que horror.

- Que volta? - ela quis saber tirando a camiseta azul, que dizia: Peace and everything else.

- Você nunca ouviu sua mãe dizer isso? - questionei abrindo o guarda-roupas no canto do quarto.

A boca dela forma um "O" gigantesco.

- Meu Deus! Eu me lembro uma vez de ter pedido uma garrafinha pra ela e... Bom, a volta nunca chegou. - Emma contou já com a blusa da escola em mãos. A disputa para quem tomaria banho primeiro estava para acontecer.

Puxei a blusa branca de dentro do armário buscando em minha memória o que me lembrava dessa "garrafinha".

- Era uma mamadeira! - Exclamei. Já tinha ouvido essa história antes, Emma fez pirraça com a coitada de sua mãe aos dezesseis anos por causa de uma mamadeira.

Emma gargalhou baixinho como se fosse um crime.

- E qual o problema? Deve ser muito bom beber as coisas nela... - tentou se defender a ruiva.

Me virei para ela tentando permanecer séria.

- Você tinha dezesseis anos, Emma. - afirmei e lembrei-a que o ocorrido foi no ano passado. - E eu estou indo pro banho.

Segundos depois, nós duas rimos tão alto que nem ao menos me lembrava ainda era praticamente madrugada e eu estava mais morta que um zumbi.

Um bom tempo depois, ambas estávamos devidamente arrumadas e prontas para mais um dia de luta: o ensino médio.

Sem contar com o fato de acordar às cinco da manhã, é sempre um prazer ir pra escola e poder admirar aquele deus grego que é o Gunner.

Gunner Campbell, vulgo meu futuro marido. Ele é o capitão do time de lacrosse, é gentil e inteligente. O único defeito nele é que ele nem sabe que eu existo. Na verdade sabe, até porque estudamos juntos em algumas aulas. Mas é como se ele fosse de outro mundo.

Infelizmente, não me dou muito bem com o amor. Prefiro dormir.

Depois do café da manhã, mamãe levou Emma e eu até o manicômio - ou melhor dizendo, a escola - , que é um lugar extremamente exaustivo.

Além do fato de 98% dos alunos estar desesperado por alguém para namorar e assumir sua depravação, a escola é quase boa. É bonita pelo menos, e a comida... A comida é incrível!

Estávamos na terceira aula de matemática, enquanto o Sr. Rogers - o professor calvo e com a barriga tão redonda quanto a terra - explicava o tema do trabalho em dupla sobre espaço amostral e eventos. 

- Eu mesmo vou escolher algumas das duplas, então Emma, dessa vez seu par é o Tom. - exclamou - Eu não aguento mais seus trabalhos com a Amélia, vocês são péssimas juntas. - Contou o professor e eu ri, ao contrário de Emma, que fingiu ficar boquiaberta e se remexeu na cadeira ao meu lado - e Thomas, ninguém merece ter que desvendar seus garranchos, deixe Emma escrever por você, ok? - disse e deu uma piscadela em direção ao loiro bonitão. Emma o odiava na oitava série por colar chicletes nas coisas dela. Ela tinha pavor de chicletes!  Eu ainda acho que era algum tipo bizarro de demonstração de carinho e afeto, daqueles em que o garoto implica com a garota para dizer que gosta dela. 

- Gunner, você vai fazer par com a Cassy, gosto dos dois juntos, o resultado é sempre ótimo! - Sr. Rogers afirmou com um sorriso apontando o dedo indicador na direção deles. Esse homem provavelmente pago pelas divindades para juntar as pessoas certa, não é possível!

Cassy Lizzie Richman, a rica, linda, arrogante, e IPhone da moda: Essa é a Cassy. Meio implicante? Sim. Cortou parte do meu cabelo alguns anos atrás? É, meio que cortou. Namora o cara que eu adoro? Um sim por completo. Eu era a infeliz que ela perseguiu o fundamental inteiro e sem motivo algum. Eu era uma garota de azar, na verdade.

- Senhor Rogers! - Alguém exclamou alto no fundo da sala - Deixa eu ficar com a Amélia! - Falou a voz e eu me virei em seguida para ver quem era o suicida corajoso.

Para minha surpresa, Peter Jack tinha feito tal pergunta. Ele tinha um pequeno sorriso em minha direção e me olhava diretamente nos olhos, o que me deixou um pouco... perturbada, sendo sincera. Por que fazer questão de trabalhar comigo? 

- Amélia, você vai ficar com Peter. - ele bateu palmas - O resto dá um jeito de arrumar um parceiro, vocês não são mais crianças. Quero as duplas formadas e os trabalhos entregues na próxima aula! - o professor se encostou na lousa branca, de braços cruzados - Estão liberados, até a próxima.

O Sr. Rogers fez uma arma com sua mão e fingiu atirar em sua própria cabeça. Finalmente encontrei alguém em um estado emocional pior que o meu.

________________________________

"A unica coisa que te impede de fazer algo é a sua mente."

J.

09/07/2017, 00:50

Eu tô fazendo covers no youtube! Link na minha biografia!!!!

Eu (não) Estou a Fim de Você | Em RevisãoWhere stories live. Discover now