Desfazer só me faz pensar que terei trabalho em dobro colocando tudo no lugar outra vez quando voltar.

O quarto é pequeno. Tem um guarda-roupa de cor de madeira marrom claro – não faço ideia se é mogno ou coisa assim – e tem um frigobar embutido nele. Dentro do frigobar encontrei água, coca-cola, uma cerveja e chocolate. Melhor que nada. Já durmo feliz com a barra de Alpino.

Deixei minha mala do lado do guarda roupa, na parte esquerda do quarto pela visão de quem está deitado na cama. Vulgo eu. De frente para mim fica a televisão, presa na parede. Uma LG tela plana de pelo menos umas 24 polegadas. Tem uma porta do banheiro e apenas isso nessa parte da parede. No lado direito tem a sacada. Ainda não fui lá, então a porta de vidro por trás da cortina azul Royal continua trancada.

Nos cantos da cama tem criados-mudo, um com telefone e panfletos de restaurantes e pizzarias, o outro com meu celular, relógio e uns anéis de falange que costumo usar.

Ia pedir uma pizza, mas a preguiça é tão grande que apenas me viro na cama, desligo as luzes e tento dormir.

Me rolo para o lado e para o outro umas dez vezes. Dou um cochilo. Acordo. Outro cochilo, acordo. Fico nisso uma boa parte da minha extenuante noite. Olá insônia, tudo bem com você?

Ok Lizzie, tenha paciência. Uma hora o sono vem. É só manter os olhos fechados, fazer o mínimo de movimento com o corpo e respirar pausadamente.

Tento fazer isso. Sinto os meus batimentos cardíacos desacelerarem. Continuo respirando relaxadamente. Suavemente. Os olhos fechados.

E assim é minha primeira noite no Guarujá.

***

Fui cedo para a tenda do festival de rock e entrevistar a banda que me deu bolo ontem. Pronto. Cumpri a minha missão, tenho todo o material que preciso para a minha matéria, posso me dar o direito de me divertir um pouco agora. Ou voltar para o hotel e dormir.

A última opção me parece mais atraente. Nossa, que velha alma eu sou.

Quer saber, não, não vou voltar para o hotel, me enfiar naquela cama embaixo do edredom e assistir Netflix como faço todas as vezes na minha vida.

Saio da tenda e dou uma caminhada pela praia da Enseada. No palco principal está tocando uma banda que acredito se chamar Móveis Coloniais de Acaju, de Brasília. Li uma matéria sobre eles uma vez em algum site.

Nos cantos perto do palco tem um aglomerado de pessoas dançando ao som de um Dj em uma cabine. Não paro para ouvir nenhum dos dois. Apenas resolvo caminhar um pouco pela praia e aproveitar que o clima cooperou e faz um sol lindo de início de primavera.

Afinal, definitivamente, não é todo dia que tenho uma vista dessas perto de casa. Alguns surfistas que estão com suas pranchas passam correndo perto de mim e se perdem de vista rumo a praia.

Umas meninas de chapéu bonito e corpo escultural passam bronzeador em suas peles e se deitam no tecido delicadamente colocado em cima da areia.

Deve ser demais morar em um lugar assim. Fico me perguntando se os donos dos apartamentos aqui em frente sabem que são sortudos e se dão valor a isso. Não é qualquer um que possui a oportunidade de abrir a janela de sua casa e se deparar com uma paisagem dessas todos os dias. Será que eles se estressam? Se eu morasse aqui, longe daquele cinza e daquela frieza e daquela agitação e daquele concreto todo, duvidaria me estressar rotineiramente.

Decido que, praia e calor combinam com água de coco. Compro uma e me sento em um banquinho, apreciando essa paisagem que me faz querer me mudar para cá urgente. Como eu gostaria. Como eu realmente gostaria.

Um encontro com Sr. DarcyWhere stories live. Discover now