Capítulo 2- Inferno

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Já tinha desistido de fugir quando decidi voltar para a cama. Precisava urgentemente de um banho frio para limpar toda a sujidade que decorava o meu corpo.
Adormeci facilmente com o cansaço, mas não sonhei com nada.
Na manhã seguinte acordei sentindo que tinha dormido durante uma eternidade.

-Não fiques habituada, esta foi a tua última noite descansada.– aquela voz enervante devia ler-me os pensamentos.– Podes sair. Encontro-te ao fundo do corredor, no meu escritório.

Não me opus, mas onde é que eu ia sair?! Comecei a empurrar as paredes como tinha feito no dia anterior à espera de que uma se movesse. De repente, uma porta apareceu sem eu ter reparado. Era de madeira, pintada de branco e com um puxador redondo. Hesitante, rodeei o puxador com a minha mão. Será que queria ficar naquele lugar seguro ou descobrir o que me esperava fora daquelas quatro paredes?
Inspirei profundamente, acumulando todo o ar que pude nos meus pulmões.  Rodei o puxador lentamente, não fosse um monstro aparecer e saltar-me para cima no momento em que abrisse a porta. Por fim, empurrei a porta e vi-me num corredor longo e sombrio.
O corredor era frio e húmido. Não se ouvia nada naquele espaço. O silêncio era tão enervante que estive tentada a voltar para o quarto e observar o que se passava lá fora.
Olhei para trás e tudo o que vi foi um corredor imenso sem um fim visível ao meus olhos.
Passo a passo, lentamente, comecei a adaptar-me às sombras. Tentei apurar a minha audição, mas não ouvi nada. Olhei para as paredes. Nenhum quadro, nenhuma fotografia, nenhum poster. Onde é que eu estava?
Continuei a caminhar. Mas onde é que ia aparecer uma porta? Quem era aquela pessoa que me tinha chamado?
Continuei a caminhar. Um arrepio percorreu-me a espinha. De repente, luz apareceu no corredor, um pouco mais à minha frente, numa das paredes infinitas.

-Olá?

Uma sombra apareceu à ombreira da porta. Uma silhueta masculina, com músculos proeminentes e cabelo revolto.

-Oh meu Deus, finalmente alguém.

Avancei em direção à porta. Os olhos destacaram-se primeiro. Um azul intenso fixo em mim com alguns pontos em que a íris era verde. A pele dele era morena como se passasse horas a fio exposto ao sol. O cabelo era castanho e revolto, espetado em direção ao teto como se tivesse acabado de acordar. Ele vestia umas calças de ganga pretas, uma T-shirt branca com decote em V e um blusão de cabedal preto por cima. Uma corrente de prata  bastante delicada envolvia-lhe o pescoço e escondia-se por debaixo da T-shirt branca que ocultava o medalhão. O que teria aquele medalhão?

-Sabes onde estamos?– perguntei.

-Tu sabes?

O tom arrogante e pretensioso estragou-lhe toda a beleza inicial. A voz dele era rouca e calma e o rapaz falava bastante baixo, como se me estivesse a contar um segredo. Aquele rapaz era sem dúvida misterioso. Começou a andar, desviando-se de mim com toda aquela masculinidade fingida. Ele era atraente, sem dúvida, mas a atitude dele deixava muito a desejar.
O rapaz continuou a andar até ao fim do corredor, onde já não o conseguia ver. Deixei de ouvir o ecoar dos seus passos no corredor e fui atrás dele, os nervos a deixarem-me louca.
Depois de dois minutos a caminhar encontrei uma porta no fim do corredor. Bati-lhe com os nós dos meus dedos até ouvir a resposta esperada:

-Entra.

Entrei. E o que vi deixou-me petrificada.

Run As Fast As You CanOnde histórias criam vida. Descubra agora